Não foi coincidência. Nesta semana, após a posse de Donald Trump nos Estados Unidos na segunda-feira, 20, o Brasil viu uma desaceleração no valor do dólar, que chegou a ser negociado abaixo de R$6,00, encerrando na quarta, 22, aos R$ 5,92. Durante a semana, a moeda atingiu uma mínima de R$ 5,52, com a média em torno de R$5,58. De acordo com Thiago Pettinato, superintendente de câmbio e trade finance da Multiplica Crédito & Investimentos, esse movimento ocorreu em função do tom mais conciliador que o presidente norte-americano adotou em relação à China, principalmente no que diz respeito às tarifas que haviam sido um ponto de tensão anteriormente.
“Essa mudança na postura do presidente foi interpretada pelo mercado como algo positivo para o Brasil, uma vez que a redução de tensões comerciais pode refletir diretamente em um ambiente mais favorável para a economia brasileira. No entanto, vale ressaltar que isso não exime o Brasil de tomar as devidas providências em áreas cruciais, como a tributária e fiscal, para garantir uma economia mais estável”, afirma Pettinato.
Segundo ele, Trump é um líder pragmático. “Mesmo com as tensões comerciais com a China, ele reconhece a importância da parceria estratégica com o país, especialmente no que diz respeito ao fornecimento de tecnologia e produtos como os chips, cuja produção é fortemente concentrada em Taiwan.”
O especialista destaca que em 2024, o Brasil já havia enfrentado grandes desafios com o dólar, que alcançou patamares recordes, chegando a R$6,25, levando o Banco Central a realizar várias intervenções no mercado de câmbio, com leilões que chegaram a atingir R$8 bilhões em um único dia, com o objetivo de tentar estabilizar a moeda e evitar uma depreciação ainda maior do real.
“A meta estabelecida para um valor “aceitável” do dólar foi de R$6,11, mas essa cifra já se mostrava vulnerável, dada a volatilidade do mercado cambial. Se tivéssemos uma maneira de prever os movimentos do câmbio com precisão, muitos se arriscariam a apostar que isso levaria a ganhos financeiros significativos. Mas, no entanto, o mercado de câmbio é muito mais complexo e difícil de prever com exatidão”, comenta.
Brasil das incertezas
O Brasil também vive um momento delicado de incerteza e não é de hoje, com um governo enfrentando dificuldades internas que refletem no mercado financeiro. Thiago Pettinato ressalta que ao longo de 2024, o Banco Central seguiu atento à oscilação do dólar, intervindo quando necessário, e o governo adotou diversas medidas, incluindo pacotes de normas fiscais, na tentativa de controlar a dívida pública e restaurar a confiança dos investidores.
“Atualmente, o dólar se encontra em um patamar mais favorável para o importador, o que representa uma boa oportunidade para empresas que dependem de produtos estrangeiros. Porém, considerando que o Brasil é um grande exportador de commodities agrícolas, um dólar mais forte é benéfico para as exportações, já que ele torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional.”
O ideal, portanto, segundo Pettinato, é que o valor do dólar encontre um ponto de equilíbrio que seja vantajoso tanto para os exportadores quanto para os importadores. Também é importante lembrar que a dívida pública do Brasil está atrelada ao valor da moeda, o que significa que, quando o dólar está mais alto, a dívida externa do país tende a aumentar.
Perspectivas
“Do ponto de vista pessoal, acredito que o dólar pode chegar a um patamar de equilíbrio em torno de R$5,40, embora alguns especialistas do mercado acreditem que valores entre R$5,50 e R$5,60 seriam mais adequados para esse equilíbrio. Esses valores estão dentro das expectativas de um câmbio que seja favorável para ambos os lados da balança, importadores e exportadores.”
Pettinato defende que o Brasil está em um processo contínuo de recuperação da confiança dos investidores. “Para isso, é importante manter a estabilidade cambial e continuar com intervenções pontuais quando necessário, a fim de preservar um patamar de dólar que seja viável para a economia como um todo.”
Em 2024, o país enfrentou um recorde de saída de dólares, com mais de R$18 bilhões deixando o Brasil. “É uma situação que nos remete à crise fiscal de 2020, quando a incerteza quanto à gestão fiscal gerou uma depreciação abrupta do real. Atualmente, o dólar está em um nível mais aceitável, mas a qualquer momento o cenário pode mudar, e o Brasil precisa continuar avançando em medidas fiscais e tributárias para garantir um ambiente econômico mais estável e confiável.”