No século XX vivemos a ‘economia da eficiência’, quando ganhos significativos de produtividade, e lucro, eram promovidos pela eficiência operacional; porém, vemos agora índices de produtividade cada vez mais estáveis ao redor do mundo, mesmo em negócios muito bem geridos. Parece que o crescimento encontrou seu novo motor na mudança organizacional, e apenas rodar bem a operação não é suficiente para crescer. As companhias que promovem grandes mudanças, sejam de produto, distribuição, forma de atender mercado e, até mesmo, criam mercados, são as que despontam nos primeiros lugares de qualquer lista de sucesso.
E por trás de mudanças bem-sucedidas há que haver um projeto bem-sucedido. Como diz o especialista em Gestão de Projetos, Antonio Nieto-Rodriguez, vivemos agora a ‘economia de projetos’. Se você duvida, pense que cada startup, cada lançamento de novo produto, M&A, novos sistemas etc. todos têm que nascer de um Projeto.
No entanto, a estatística mundial é alarmante: apenas 35% dos projetos são bem-sucedidos, no mercado brasileiro a situação não é diferente. Isto quer dizer que estamos desperdiçando absurdamente tempo, dinheiro e oportunidade!
Muitas são as razões para esse fraco desempenho, mas se vamos fundo nas raízes lá estão Pessoas e Cultura. Alguns fatos recorrentes:
- A alta administração tende a considerar ‘Gestão de Projetos’ algo muito técnico e tático, que não deveria ocupar suas agendas exceto para marcar o lançamento e liberar a verba para a empreitada;
- Os principais talentos da companhia não são motivados a integrar a equipe de um Projeto, todos muito ocupados em garantir a operação e receosos de embarcar numa arriscada aventura, como muitas vezes é vista a atividade;
- Gestores de Projeto tendem a se focar em processos e documentações, na entrega em tempo, custo e escopo determinados – importantíssimo, mas não suficiente – e não se sentem responsáveis pelo benefício que o projeto deve trazer e como este se vincula à estratégia da empresa;
- A execução do projeto requer uma estrutura matricial colaborativa, muito diferente da hierarquia usual das organizações, que se não bem compreendida pode levar ao fracasso das relações entre o time do projeto;
- Projetos envolvem riscos, portanto requerem cultura organizacional que aceite tomar riscos, que aceite e saiba lidar com as falhas.
Então, como seria possível quebrar este ciclo vicioso e aumentar a taxa de sucesso dos Projetos?
O primeiro aspecto é o foco no propósito do projeto, qual benefício real trará para a companhia. Assim, somente deveriam ser elegíveis aqueles projetos que trouxessem a mudança necessária para o futuro da organização, menos é mais, e isto seria suficiente para garantir a dedicação e atitude de reais sponsors por parte da gerência sênior.
Em segundo, a comunicação do propósito para a organização deveria ser atrativo suficiente para engajar os profissionais mais talentosos de forma voluntária. Aqui esbarramos na falta de sucessores, outro problema muito comum nas organizações, cujo endereçamento deveria ser prioritário se empresa quiser crescer na nova economia.
Da parte do Gestor de Projetos, ainda que se valha das melhores metodologias, necessita tomar a responsabilidade pela concretização do propósito, por que o projeto está sendo feito? Qual seu impacto e benefícios e de que forma estes se alinham com a estratégia da empresa? Qual a real medida de sucesso do projeto? Necessário mudar o foco das ‘entregas’ (outputs) para os ‘resultados’ (outcome).
Por fim, fortalecer a cultura da empresa criando ambientes propícios para o trabalho colaborativo, aceitar e aprender com as falhas, considerar a máxima da gestão ágil de que errar cedo é muito mais barato do que errar tardiamente, irá turbinar a performance da organização em muitos aspectos, e principalmente na realização de projetos.
Se você leu até aqui e já se sente cansado, não desista de trabalhar com projetos, não deixe sua organização fora de um mudo movido por mudanças. Comece pequeno, busque primordialmente a mudança cultural; se necessário, busque ajuda externa. Projetos de sucesso fazem a organização melhor, criam valor para os clientes, transformam o mundo para melhor.
Bem-vindos à economia baseada em projetos!
Beatriz França Fernandes Capitian
Com mais de 30 anos de trajetória em Finanças, Beatriz ocupou posições de liderança em nível América Latina na Alstom e na GE. Atualmente presta consultoria nas áreas Financeira, Estratégica e M&A, além de mentoria para startups. Trabalha com propósito de desenvolver pessoas e negócios que, por sua vez, tragam impacto positivo à sociedade. Associada ao W-CFO, está atenta ao desafio de aumentar a participação feminina nos negócios, enxerga grandes oportunidades através da troca entre diferentes gerações.
Formada em Economia pela UNICAMP, com MBA’s pela FIA em Gestão de Projetos e em Gestão Empresarial, cursa uma especialização para Negócios da Nova Economia, busca inquietamente aprendizado e aprimoramento.
É casada com Gregório há 30 anos e mãe do Gabriel, um jovem empreendedor de 25 anos. Apaixonada por leitura, artes e animais. Viagens, outra paixão, são as oportunidades para se conectar com pessoas diferentes e com a Natureza.