O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira (B3), iniciou 2024 reportando queda frente aos ganhos recordes do final de dezembro, acima dos 130 mil pontos naquele rali. Os investidores estão animados, mas ao mesmo tempo temerosos de que a Bolsa brasileira possa devolver os ganhos recentes

Um dos fenômenos macroeconômicos que estão no radar dos traders diz respeito ao mercado de trabalho norte-americano. “Os EUA são a locomotiva do mundo e como o mercado de trabalho local está aquecido, as bolsas globais podem ser prejudicadas, incluindo aí a brasileira, visto que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) tende a manter os juros no patamar atual para conter o avanço da inflação por lá, explica o economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike.

“Ou seja, com novos postos de trabalho abertos, conforme indica a última pesquisa payroll, significa que há trabalho e renda e, se tem renda, tem consumo. Assim, como a inflação já está alta e a população continua consumindo, a probabilidade de a inflação se manter e até se fortalecer continua elevada”, afirma.

E diz mais: “essa combinação de inflação alta e juros elevados, nos EUA, deixa alguns ativos menos interessantes, a exemplo das ações, o que impacta diretamente a Bolsa de Valores.

De acordo com o especialista, o rali de dezembro foi beneficiado pela expectativa de corte de juros por parte do Fed, além de outros motivos, mas, agora, com o mercado de trabalho aquecido nos EUA e a possibilidade de um não corte de juros, as primeiras sessões de 2024 já sentem a pressão.

“Do lado do investidor, a palavra de ordem é cautela, visto que os ganhos que o Ibovespa reportou em dezembro podem ser realmente devolvidos em janeiro e fevereiro. O certo, neste momento, é esperar alguns novos indicadores de inflação, a exemplo do Índice de Preços ao Consumidor dos EUA, previsto para ser divulgado dia 11, bem como os Pedidos Iniciais e Contínuos por Seguro Desemprego nos EUA, na mesma data”, destaca.

Já Felipe Vasconcellos, sócio da gestora Equus Capital, afirma que a persistência de um mercado de trabalho robusto nos EUA reduz significativamente a probabilidade de o Fed realizar cortes nas suas taxas de juros no curto prazo, uma vez que a inflação americana pode se manter em níveis mais elevados por um período prolongado

“Dado que os mercados de dívida global estão interconectados, com o mercado americano sendo uma referência de baixo risco de inadimplência, isso limita a flexibilidade do Banco Central brasileiro para reduzir suas taxas de juros, considerando que o país apresenta um risco maior em comparação aos EUA”, diz. 

“Uma eventual redução das taxas de juros no Brasil poderia impulsionar o retorno das ações e do Ibovespa, à medida que os investidores buscam ativos mais arriscados atrás de maiores retornos. No entanto, uma diminuição no ritmo e na magnitude dos cortes nas taxas de juros brasileiras pode resultar no adiamento de altas mais expressivas no mercado de ações”, pontua.

Entenda o contexto

O CME Group, responsável por monitorar a evolução da curva futura, divulgou um relatório indicando que a probabilidade de o Fed manter as taxas de juros em 31 de janeiro aumentou para 97,4% após um robusto relatório de empregos, enquanto a possibilidade de um corte diminuiu para 2,6%.

A consultoria Capital Economics, por sua vez, afirma que o relatório de empregos reduz as expectativas de um corte nas taxas de juros do Fed em março. No entanto, acredita que o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) e o Índice de Preços ao Produtor (PPI) serão fatores cruciais para a decisão do Fed.

Em carta, a Capital Economics argumenta que os dados de inflação provavelmente respaldarão uma ação adiantada de flexibilização por parte do Fed. A consultoria também destaca uma revisão para baixo de 71 mil vagas nos dois meses anteriores.

Do lado dos trabalhadores norte-americanos, o salário médio por hora registrou um aumento de 0,4% em dezembro em relação a novembro, superando a expectativa de 0,30%. Na comparação anual, o aumento foi de 4,1%, superando a previsão de 3,9%.

O Payroll

O relatório de empregos divulgado em 5 de janeiro indicou a criação de 216 mil postos de trabalho nos EUA, superando a previsão de 175 mil. Esses dados refletem um mercado de trabalho resiliente, o que pode ter uma influência decisiva na postura do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) na próxima reunião de março.

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