Quando falamos de investimentos existem muitas questões que envolvem as nossas emoções e como elas afetam as nossas atitudes na hora de investir, mas hoje em particular gostaria de falar sobre o medo de investir, que é algo que ainda aflige muitas pessoas.

Vou começar explicando um pouco do porque isso acontece e ao longo deste artigo, irei dar algumas sugestões que podem ajudar a destravar esse medo e assim conseguir investir melhor.

Vamos entender primeiro o que é o medo, como emoção, para depois falarmos sobre ele dentro dos investimentos.

O medo nada mais é do que uma estrutura de proteção que o nosso cérebro criou lá nos primórdios do desenvolvimento do ser humano, quando começou o seu desenvolvimento.

E isso se deu devido a prioridade número um do nosso cérebro, que é a nossa sobrevivência.

Ainda hoje ele está focado neste objetivo e por esse motivo, no seu desenvolvimento, nosso cérebro utilizou o medo como uma ferramenta a nosso favor para garantir que conseguíssemos sobreviver aos perigos existentes.

O que ocorre é mais ou menos o seguinte: no momento em que somos expostos a algo que seja nocivo a nós, nosso cérebro guarda essa experiência e associa aquilo que não foi bom a uma sensação ruim e quando identifica outra situação parecida com aquela que foi registrada, dispara a sensação de medo para nos proteger e preservar a nossa sobrevivência.

Só que o problema é que nem sempre essa associação que nosso cérebro realiza para que possamos tomar decisões mais rápidas é correta, o que por vezes nos coloca em um estado de medo, nos levando a acreditar que algo não é bom ou que pode nos prejudicar, mas que na verdade aquilo não é real e sim algo que estamos imaginando que poderia ocorrer.

Neste estado o medo pode nos paralisar e por consequência não agirmos, levando a resultados que não desejamos.

Quando colocamos isso dentro do contexto de investimentos, existe um ponto que justamente faz com que disparemos esse medo e que já foi bastante estudado pela Psicologia financeira, que é a chamada Aversão ao Risco.

A Teoria da Perspectiva, concebida por Daniel Kahneman e Amos Tversky em 1979 demonstrou que o ser humano é muito mais avesso a perder algo do que sente prazer ao ganhar.

Eles concluíram através de experimentos realizados, que essa relação é de mais ou menos duas vezes e meia, ou seja, preferimos não perder duas e meia vezes mais do que ganhar alguma coisa.

Isso significa que cada vez que ganhamos algo, temos uma menor sensação de prazer comparativamente a quando perdemos esse mesmo valor, conforme visto no gráfico abaixo.

Aversão ao risco
Figura 1 – Aversão ao risco proposto por Kahneman e Tversky

Essa aversão a perda faz com que nosso medo seja disparado e isso influencia totalmente nossas decisões de investimento.

Vou dar um exemplo para ilustrar essa questão.

Imagine uma situação 1, onde você pudesse escolher entre ganhar R$50,00 reais garantidos sem precisar fazer nada (opção A), ou você poderia jogar uma moeda justa para o alto e ganhar R$ 100,00 se saísse “cara” ou não ganhar nada se saísse “coroa” (opção B),. O que você escolheria?

Agora vamos imaginar uma segunda situação (sem nenhuma relação com a primeira) onde você pudesse escolher entre ter que pagar R$50 reais de qualquer forma ou você poderia escolher jogar uma moeda justa para o alto e se saísse “cara” perderia R$100, mas se saísse “coroa” não teria que pagar nada. Qual seria sua escolha?

Olhando um pouquinho pelo lado matemático para entendermos a questão do ponto de vista racional, se calcularmos o valor esperado para cada situação eles seriam iguais.

Para a primeira situação, na opção A temos R$50 vezes 100% de chance (garantidos) resulta em um valor esperado de R$50 e na alternativa B, em termos de valor esperado temos R$100 vezes 50% (chance de a moeda cair de um lado) mais R$0 vezes 50% (chance da moeda cair do outro lado), e assim vemos que também teremos um valor esperado de R$50.

Ou seja, tanto alternativa A quanto a B, do ponto de vista de valor esperado, são iguais.

A mesma coisa acontece na segunda situação se fizemos as contas. Do ponto de vista racional escolher qualquer uma das alternativas trariam o mesmo valor esperado, mas quando colocamos as emoções em jogo, a maioria das pessoas tende a escolher os R$50 garantidos na primeira situação, mas escolhem jogar a moeda para tentar ver se conseguem não pagar nada na situação 2.

Veja que interessante. No primeiro caso a pessoa prefere garantir os R$50 e com isso tem uma felicidade relativa, já no segundo caso se escolher a opção A, ela sabe que vai perder os R$50 reais e tem uma sensação de infelicidade relativa maior do que a felicidade da situação 1, mesmo sendo o mesmo valor, por isso ela se ela arrisca a jogar mesmo com o risco de perder mais.

Isso explica porque que alguns investidores, mesmo com seus investimentos estando com uma performance ruim e sem perspectivas de melhora pelas análises, continuam mantendo sua posição para tentar garantir que, pelo menos, não percam o valor investido.

Muitas vezes o que acontece é que o investimento continua caindo e a pessoa pode perder tudo que investiu.

Com isso acredito que já te convenci de como o medo influencia muito nossas decisões de investimento e porque devemos tomar cuidado com ele.

Mas, quais são os maiores medos que, as pessoas têm quando não sabem investir, quando estão iniciando ou para investir em outros tipos de produto de investimento diferentes daqueles que estão acostumadas?

  • De perder dinheiro
  • De não saber como fazer ou achar que é muito difícil
  • De cair em golpes
  • De ter o dinheiro confiscado pelo governo
  • De ter que pagar muito imposto

Esses itens acabam explicando porque muitas pessoas que conseguem poupar dinheiro acabam investindo na Caderneta de Poupança, que é o tipo de investimento mais tradicional do brasileiro.

Entretanto já é sabido que a Caderneta de Poupança, há algum tempo, não é um bom investimento, mas então por que que as pessoas ainda investem na poupança?

O primeiro ponto é pela segurança que acreditam que o governo dá em relação a outras instituições financeiras.

Por esse motivo, a pessoa muitas vezes tem medo de investir em outros produtos de investimento porque entende que quem garante o investimento é a instituição financeira enquanto que na Poupança é o governo.

Isso é um erro, porque tanto no caso da Poupança como no caso de determinados títulos de renda fixa de instituições financeiras (como CDBs ou LCIs, por exemplo) quem acaba sendo o responsável por garantir o investimento é o FGC, o fundo garantidor de crédito e não a instituição ou o governo diretamente.

O segundo ponto é porque na Poupança elas normalmente sabem as regras, têm conhecimento e por isso não tem medo de não saber como fazer.

O que vem de encontro com o terceiro ponto, pois investir na Caderneta de Poupança é mais fácil e mais simples, uma vez que normalmente quem já tem algum tipo de conta em banco simplesmente passa o dinheiro da conta corrente para uma conta poupança, de forma fácil, sem necessidade de saber muita coisa e também porque todo banco tradicional tem esse tipo de investimento à disposição.

Vamos fazer uma comparação numérica rápida do porque essa pessoa que está investindo na Poupança está perdendo dinheiro.

Vamos olhar rapidamente os números da inflação dos últimos 12 meses, considerando dados de setembro de 2022. A inflação acumulada no período (IPCA) foi de 7,17%a.a segundo dados do IBGE, enquanto o rendimento da poupança nesses mesmos 12 meses foi de 6,17%a.a.

Isso quer dizer que se a pessoa deixar o dinheiro na Poupança, depois de um ano não conseguiria comprar a mesma coisa que compraria no início do ano com o valor que foi investido mais o que rendeu na Poupança.

Isso mostra que só com a inflação a pessoa estaria perdendo dinheiro pois não conseguiria repor a perda do poder de compra que ocorreu devido a inflação.

Por outro lado, um CDB de liquidez diária de um banco digital (hoje existem vários no mercado) e que é um investimento com grau de segurança similar ao da Poupança, está rendendo próximo a 100% do CDI, ou algo em torno de 13,65% ao ano, maior que a inflação mesmo com o desconto da alíquota máxima do imposto de renda.

Nesta condição a pessoa ainda teria um rendimento real acima da inflação.

O mais interessante é que neste exemplo, quando a pessoa fica com medo de investir em outro produto, ela não está simplesmente deixando de ganhar dinheiro, mas está caindo na armadilha de obter exatamente aquilo o que mais receia, que é perder dinheiro.

Mas então como é que se faz para dar os primeiros passos para perder o medo e poder investir?

A primeira coisa é a necessidade de conhecer os próprios limites e o perfil de investidor ou investidora.

Porque é tão importante conhecer o perfil de investidor?

Porque é justamente ele que vai mostrar o quão disposta a pessoa está para correr riscos, uma vez que quanto mais risco se corre maior deve ser o retorno esperado de ganho, porém maior também é o potencial de perda e como o maior medo do ser humano é perder, uma vez que você conheça o seu perfil de risco estará apto ou apta a saber qual tipo de investimentos servem a seus propósitos, respeitando estes limites.

A segunda questão importante é que mesmo conhecendo o perfil, muitas pessoas ainda irão ficar com medo de dar o passo para investir e aí é que é importante enfrentar esse medo para realmente testar e conhecer os limites e a tolerância em relação aos riscos.

Se você nunca tentar, nunca irá conseguir. Claro, que para isso é necessária a prudência e a cautela, investindo poucos recursos inicialmente, que não comprometam o patrimônio, para conseguir aprender sobre aquele tipo de investimento e avaliar se faz ou não sentido para você.

Outro ponto importante para se investir em produtos diferentes e começar a dar os passos para perder o medo de investir é conhecer a instituição financeira onde se pretende alocar seus recursos.

É fundamental que esta instituição esteja cadastrada na Comissão de Valores Imobiliários – CVM e seja fiscalizada pelo Banco Central, garantindo assim a idoneidade da mesma e evitando golpes, que prometem altos rendimentos com baixos riscos.

Isso também vai dar mais segurança e vai ajudar a perder o medo na hora de investir.

Também é muito importante buscar sempre entender melhor sobre os investimentos, porque estudar e conhecer também é uma forma de perder o medo. Aquilo que desconhecemos sempre irá trazer insegurança e medo.

Ler bons livros, assistir vídeos de profissionais capacitados, pesquisar, conversar com especialistas e outras pessoas que entendam sobre investimento, investir na sua educação financeira e também fazer uso de simuladores (quando for o caso) que podem ser acessados de forma online onde a pessoa pode treinar inicialmente para depois investir, são ótimas formas de se combater a insegurança em relação aos investimentos.

Por fim o que pode ajudar também a perder o medo ou dar os passos nesta direção é consultar e utilizar serviços de especialistas ou de assessores financeiros, porque esses profissionais irão conseguir auxiliar, explicando como funciona, ajudando a entender o perfil de risco, alinhando aquilo que se deseja com esse perfil e assim permitir à pessoa se sentir muito mais segura para dar os passos e investir melhor.

Veja que existem muitas coisas, do ponto de vista emocional, que estão envolvidas nas decisões de investimento, mas sabermos que o medo é uma estrutura de proteção do nosso cérebro, que não tem como mudarmos isso, e que se não for seguindo esses passos não será possível decolar suas finanças e multiplicar seu patrimônio através de investimentos, estaremos preparados para realizar as mudanças necessárias.

Para concluir, vou citar uma frase de Warren Buffet, o maior investidor do mundo de todos os tempos, onde ele diz o seguinte:

“O medo e a ganância são duas doenças contagiosas que sempre atacam o mundo dos investimentos e o calendário dessas epidemias é imprevisível. Nós simplesmente tendemos a ficar com medo quando os outros estão gananciosos e ser gananciosos quando os outros estão com medo. “

Warren Buffett que desenvolveu uma série de estratégias vencedoras, é uma pessoa que também tem ou teve medo em algum momento da sua vida de investidor, mas trabalhou isto, certamente ainda trabalha frequentemente, e por isso atingiu tamanho sucesso.

Espero que você possa aproveitar todo esse conteúdo e assim destravar sua mente financeira em relação aos investimentos, podendo investir melhor, realizar mais sonhos e multiplicar o seu dinheiro.

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