O conceito de cidade circular está se tornando mais claro, ao se direcionar para além da gestão de resíduos e eficiência dos sistemas, rumo a uma redução de insumos e valorização dos ciclos internos de recursos, o que implica em mudanças no uso do solo e na regulação pública. O Planejamento para Cidades Circulares deve abranger pontos importantes sobre Bioeconomia, Industria, Construção Civil, Infraestrutura Urbana, Mobilidade, Bem-estar e Inclusão Social relacionados à cidades circulares

Gerar uma bioeconomia urbana significa devolver nutrientes biológicos para o solo de forma adequada, gerando valor e minimizando o desperdício de alimentos. A fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos pode ser valorizada em forma de composto, e os efluentes residenciais podem ser tratados e processados como fertilizantes e usados para a agricultura. Além disso, a biodiversidade local pode ser fortalecida, com o aumento de áreas verdes e implementação de soluções urbanas baseadas na natureza, sequestrando carbono e aumentando a qualidade de vida da população.

A inserção das cidades na economia circular pode envolver também as possibilidades do ciclo técnico, uma vez que é nas cidades onde mais consumimos diversos produtos industriais.  Insumos técnicos, como metais e plásticos, podem circular continuamente em sistemas industriais fechados, se projetados intencionalmente para isso. Cidades podem implementar e facilitar sistemas de reuso, reparo e reciclagem destes produtos e materiais.

Dentro do contexto urbano, destacamos o potencial do setor da construção civil, que tem grandes impactos ambientais causados pelo modelo linear atual, mas amplas possibilidades seguras e regenerativas para a transição circular.

Hoje, a construção civil é responsável pelo consumo de quase 50% dos recursos globais e pela produção de 20% das emissões de gases do efeito estufa. Se pensarmos, desde o início dos projetos dos edifícios e áreas urbanas, no reaproveitamento de materiais das construções em novos ciclos, podemos visualizar os edifícios como bancos de materiais. No caso de novas construções, criar edifícios modulares e desmontáveis, onde cada componente tem seu valor mantido para um próximo ciclo. Um projeto baseado em encaixes, sem o uso de colas ou argamassas, possibilita a fácil manutenção, adaptação ou desmontagem da construção, e a reutilização contínua de todos os seus materiais – evitando a produção de resíduos da demolição convencional.

O ambiente urbano abrange as estruturas construídas pelo homem que fornecem às pessoas espaços para moradia, trabalho e lazer.  Além das edificações, podemos pensar na infraestrutura dos sistemas urbanos, que são aqueles sistemas que dão suporte à vida e economia urbana, como o abastecimento de energia e água, instalações de transporte e comunicação, sistema de drenagem, gestão dos resíduos e esgotamento sanitário. Aqui trabalhamos a colheita de recursos e ofechamento dos ciclos locais, como captação da água dachuva, tratamento de efluentes, uso de energia renovável, veículos com baixa emissão de carbono, planejamento efetivo dos sistemas de mobilidade urbana e outros aspectos.

A economia circular nas cidades tem o potencial de produzir uma série de benefícios ao bem-estar e valorização humana, entre eles gerar novas oportunidades de trabalho, inclusão social e econômica e redução das desigualdades socioambientais. A qualidade de vida da população também é melhorada com a redução da poluição, regeneração dos sistemas naturais, segurança alimentar e estímulo à biodiversidade urbana, gerando saúde e bem-estar dos habitantes, e intensificando sua interação com a cidade. Além disso, as soluções circulares possibilitam a redução de emissões de gases de efeito estufa e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas, gerando maior resiliência e prosperidade de longo prazo.