O título mesmo que eu queria dar a esta crônica era “Petrobras, um excelente papel para day traders, principalmente aqueles insiders do que acontece no prédio da avenida Chile (sede da empresa, no Rio) e no palácio do Planalto, em Brasília, e, finalmente para os especuladores que enxergam o mercado fria e desapaixonadamente.” 

É evidente que não poderia usar um título tão longo, mas ele expressa os fatos exatamente como eles são. 

Vou narrá-los de trás para frente, começando no dia (5 de abril) em que primeiro rolou que o presidente da empresa, Jean Paul Prates, contando com o apoio do ministro Fernando Haddad, iria pagar dividendos extraordinários, coisa que a companhia já vem fazendo há um bom tempo. 

As cotações “porraram” para cima. Ainda mais que os preços internacionais do petróleo estão valorizados, neste momento o Brent cotado a US$ 91,17, muito acima do custo de produção da Petrobras. 

Veio então o Lula, que jogou água na fogueira, para não escrever mer… no venti…., deixando claro que a Petro não vai pagar nenhum dividendo extraordinário. Como se isso não bastasse, recusou-se a receber Prates em seu palácio. 

Não faço a menor ideia se Jean Paul Prates já foi demitido, ou ainda está em seu posto, quando esta crônica for publicada. 

No momento, alguns jornalistas com melhores informações sobre o que se passa na capital federal dizem que Prates sai e será substituído pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante (no comments). 

Tudo que importa a Lula, e apenas o que importa, é sua reeleição em 2026. E deve ser por isso que ele quer que a Petrobras invista, invista, invista. 

Outro esforço que Lula está fazendo é o de tentar conquistar o eleitorado evangélico, que costuma apoiar candidatos bolsonaristas. 

Num comício na quinta-feira 4 de abril, no município de Ipojuca, em Pernambuco, inaugurando uma elevatória de água proveniente do rio São Francisco, Lula falou a um grupo de crentes. 

Disse que aquela obra era um milagre e citou Deus onze vezes. Ou seja, apoio popular, melhora nas pesquisas de avaliação do governo, é tudo que interessa ao presidente. 

O curioso é que nas primeiras eleições diretas após a democratização, em 1989, os dois candidatos que chegaram ao segundo turno, Fernando Collor (o vencedor) e Lula eram tidos como ateus enrustidos. 
 

Collor foi abençoado por um sacerdote ancião, frei Damião, com fama de milagreiro. 

Lula disse que só Deus sabia se ele acreditava ou não em Deus. 

Voltando à Petrobras, o governo Jair Bolsonaro no início se mostrava favorável à privatização. E começou a fatiar a empresa, vendendo diversos de seus setores, o de distribuição como exemplo mais marcante. 

Mas quando se aproximou a época da disputa pela reeleição, Bolsonaro forçou para baixo os preços do diesel, impondo essa política à Petrobras, prejudicando a empresa e favorecendo os caminhoneiros, um dos seus principais “currais” eleitorais. 

Que se dane o liberalismo”, é possível que o capitão tenha pensado. Mesmo assim perdeu as eleições. 

O antecessor de Bolsonaro, Michel Temer, até que começou bem. Pôs na presidência da Petro Pedro Parente, um homem com vasta experiência, e reconhecida competência, nas áreas pública e privada. 

Havia sido ministro-chefe da Casa Civil no governo FHC e presidente da Bunge Brasil. Parente aceitou desde que tivesse carta branca para agir.  Feito o trato com Temer, passou a praticar preço real nos derivados. 

As ações da Petrobras dispararam. 

Mais eis que os caminhoneiros fizeram uma greve que bloqueou as principais estradas do país. 

Ao receber ordens para baixar o diesel, Parente preferiu pedir demissão do cargo, pondo a perder um trabalho extremamente bem-feito. 

Antes de Michel Temer, o Brasil foi governado pela atual presidente do banco dos Brics, Dilma Rousseff, indicada adivinhem por quem: o devoto evangélico pernambucano, que transpõe águas tal qual o Moises bíblico. 

Durante sua gestão no palácio do Planalto (que durou seis anos até que foi “impichada”) a Petrobras não fez outra coisa a não ser jogar dinheiro pelo ralo. 

Dilma pôs à frente da empresa sua amiga Graça Foster. Se eu fosse exagerado, diria que “Graça foi a pior presidente de grandes empresas de todos os tempos.” 

A Petrobras só não quebrou porque não dá para roubar o petróleo que está escondido nas profundezas do Atlântico e porque, se esgotasse o dinheiro em caixa, o governo aumentaria o capital. 

Quando eu digo no início deste artigo que só dá para ganhar dinheiro com Petrobras os especuladores que enxergam o mercado fria e desapaixonadamente, foi exatamente o que aconteceu comigo nessa ocasião. 

No mercado de San Juan de Puerto Rico, comprei obrigações da Petro emitidas em dólares e pagando 6% ao ano de juros sobre o valor de face. Só que, como muitos investidores americanos achavam que a empresa iria quebrar, esses papéis estavam sendo negociados com grande deságio, deságio esse que se transformou em ágio na gestão Pedro Parente. 

Resumindo: comprei Graça e vendi Parente. 

Foi uma das mais rentáveis especuletas de minha vida.

Um forte abraço, 

Ivan Sant’Anna 

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