No dia de ontem, a Petrobras divulgou o seu plano plurianual para o período de 2023 a 2027, o que soa estranho, uma vez que a atual gestão será substituída a partir de 2023. No entanto, o plano é um evento obrigatório por questões de legislação. Neste caso, observaremos, no relatório de hoje, o que seria a Petrobras com um segundo mandato de Jair Bolsonaro e o que esperamos para a petroleira no mandato de Lula.

É certo que existem muitas diferenças entre tais governos, então, hoje, os destaques vão para dois aspectos que impactam diretamente os investidores.

A expectativa de distribuição em proventos da gestão Bolsonaro, para o período de 2023 a 2027, apresentava uma distribuição por volta de 75% do Fluxo de Caixa Livre em forma de proventos. Como podemos observar no quadro abaixo, essa é uma expectativa, gerada por parte da companhia, que representa aproximadamente R$13,00 por ação.

Como falamos, 75% desse montante seria destinado para os dividendos, com uma estimativa média de R$9,75 por ação, o que representaria contra o preço de tela, do dia de hoje, uma renda em dividendos de 37%.

Esse seria um cenário muito interessante, não é mesmo?

Fonte: RI Petrobras

No ano passado, nessa mesma época, um plano muito parecido foi divulgado, o que me levou a recomendar as ações de Petrobras na série Ações Alpha, através de uma posição média de 10% da carteira, onde obtivemos um retorno de +70% com os investimentos na petroleira. Entretanto, essa alocação foi encerrada na sexta-feira, dia 28 de outubro de 2022, último dia útil antes do segundo turno das eleições. Mas, por que essa decisão?

Como podemos constatar nas declarações, tanto do presidente eleito, quanto da sua equipe de transição, o capital que é esperado em forma de geração de caixa por parte da empresa, de 2023 a 2027, não deve ser destinado aos investidores.

Os R$9,75 por ação que colocamos no racional acima, somam 25 bilhões de dólares, ou, 127 bilhões de reais, montante este que deve ser destinado a Capex (investimento em máquinas e equipamentos) e que, no caso da Petrobrás com a liderança de Lula, devem ser destinados à construção de uma ou mais refinarias.

Anteriormente, já vimos essa mesma dinâmica, o Capex utilizado no governo do PT entre 2008 e 2014, foi de 40 bilhões de dólares, mais especificamente 210 bilhões de reais por ano em média. Já o Capex anual médio de 2019 a 2022, gastos pelo governo Bolsonaro, foi de 7,3 bilhões de dólares, ou 38 bilhões de reais.

Assumindo que a nova gestão repetirá a política de investimentos e distribuição de proventos do passado, podemos esperar um fluxo de caixa livre de no máximo de 8 bilhões de dólares (40 bilhões de reais), para a Petrobras com uma distribuição máxima de 0,75 centavos por ação.

Se considerarmos que uma estatal de petróleo vale os dividendos distribuídos, uma vez que a empresa em algum momento encerra suas operações e, dado que o petróleo é finito, utilizando o método de desconto por dividendos, chegamos a um valor justo por ação de 10 reais, 61% abaixo do preço de tela perpetuando a gestão desenvolvimentista, que irá buscar sempre o investimento em detrimento da distribuição de proventos.

Isso demonstra que nos preços atuais das ações da Petrobras, colocamos uma expectativa por parte do mercado da alternância de modelo de gestão entre a desenvolvimentista e o liberal no longo prazo.

No entanto, na atual gestão de Lula, em minha visão, a rentabilidade da empresa projetada pela média dos analistas nos próximos quatro anos será revisada para baixo, como já vem ocorrendo e, com isso, a cotação das ações devem sofrer à medida que os resultados da “nova Petrobras” passarem a ser divulgados.

Dessa forma, para os próximos quatro anos, o principal atrativo para se investir na Petrobras e sua distribuição de dividendos, não deverá ser tão interessante como nos últimos 12 meses e, por esta razão, optamos por outras companhias para realizar os investimentos no setor de Oil & Gas.


João Abdouni, Analista CNPI da Inv Publicações.

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