A Petrobras (PETR3)(PETR4) está em fase avançada de negociações com grandes produtores de etanol no Brasil, com tratativas concentradas entre “cinco a seis empresas”, revelou Magda Chambriard, CEO da companhia, em entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
A volta da petroleira ao setor, anunciada em novembro do ano passado, surpreendeu o mercado, visto que a estatal havia flertado com o biocombustível ainda na década de 1970, mas sem avanços concretos até então.
Agora, Chambriard ressalta que a Petrobras deseja ser “uma noiva cobiçada” por grandes parceiros do setor, e destaca a importância estratégica do etanol na matriz energética do país.
“Nem só de eólica e solar vive o homem. A gente tem no DNA a molécula“, afirmou a executiva.
Chambriard argumenta que a estatal não pode abandonar um combustível que concorre diretamente com a gasolina, cujas vendas devem sofrer impacto devido à transição para fontes energéticas mais sustentáveis.
“Passamos os piores momentos do etanol, quando o etanol precisava de subsídio, precisava da Petrobras bancar, precisava de tudo. No momento em que o etanol vem a ser o principal competidor da gasolina, eu saio do etanol e deixo o etanol de graça para terceiros?“, questionou.
Atualmente, a Petrobras se responsabiliza por 31,00% de toda a energia primária do Brasil – energia ainda não transformada ou convertida – e projeta manter essa participação para as próximas décadas, ainda que em uma nova configuração: 23,00% de energia fóssil e 8,00% de fontes renováveis.
“Se o Brasil vai crescer cerca de 55% a 60% nas próximas duas décadas e meia, e se a gente persistir do mesmo tamanho, nós vamos perder a importância relativa. Então, qual a nossa importância hoje? Vamos ter que gerar 60% a mais de energia“, explicou Chambriard.
As negociações com os produtores de etanol estão em curso, mas ainda não existe um prazo definido para a formalização das parcerias. “A gente quer ser uma noiva disputada“, afirmou Chambriard, que destacou que a estatal busca alianças com grandes produtores. “Não pode a Petrobras casar com barraquinha de sorvete“, brincou a executiva.
Embora Chambriard não tenha revelado nomes específicos das empresas envolvidas, fontes de mercado consultadas pelo Broadcast indicam que estariam em negociação grupos como Inpasa, FS Bio, Tereos Brasil e São Martinho (SMTO3), além de companhias com participação de petroleiras, como a Raízen (joint venture entre Shell e Cosan – CSAN3)(RAIZ4) e a BP Bioenergy.
A CEO assegurou que a Petrobras não pretende criar uma nova estatal nem deter a maioria das ações em uma eventual joint venture.
Biodiesel, diesel renovável e SAF estão no radar da Petrobras (PETR3)(PETR4)
A expansão da atuação da Petrobras nos biocombustíveis não se limita ao etanol.
Magda Chambriard também destacou que a companhia quer aumentar a produção de biodiesel – um setor que perdeu força durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – e investir em combustíveis coprocessados, como o Diesel Renovável (Diesel R), um dos projetos prioritários da gestão atual.
“A gente ‘ foi saído’ do biodiesel, resta apenas um pouquinho na PBio (Petrobras Biocombustíveis), mas dissemos o seguinte: temos que retornar para o etanol, para o biodiesel, e endereçar o coprocessado, e até evoluir para o SAF (querosene de aviação sustentável)“, declarou.
Para fortalecer a produção de biodiesel, a Petrobras pretende reestruturar a PBio, que havia sido incluída no plano de desinvestimento da gestão anterior e foi retirada desse processo no ano passado. “Nesse quinquênio, a gente tem que fazer biodiesel e tem que fazer etanol“, reforçou.
Além da aposta nos biocombustíveis, a Petrobras investe na modernização e ampliação de suas refinarias. De acordo com Magda Chambriard, sem a necessidade de construir uma nova unidade, a estatal iria entregar ao mercado o equivalente a uma nova refinaria nos próximos anos.
“Nós vamos entregar isso, ampliar as outras. Não tem plano de fazer outra refinaria“, esclareceu, e reforçou que os investimentos em refino para o período de 2025 a 2029 somam US$ 15,20 bilhões.
Na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, foi prevista a adição de 175 mil barris por dia (MBPD) na capacidade de refino, inclusive a modernização e a construção de um novo trem de refino com capacidade de 130 MBPD.
Outras refinarias da estatal também passarão por ampliação, com mais 120 MBPD.
Com isso, a Petrobras projeta aumentar sua capacidade de refino para 2,10 milhões de barris por dia (BPD) até 2029, em comparação aos atuais 1,8 milhão de BPD. “Quase uma refinaria de grande porte“, concluiu Chambriard.