Andam falando muito de um possível confronto militar entre os Estados Unidos e a China.
Pago pra ver.
Os arsenais nucleares das duas potências invalidam essa possibilidade, que ocasionaria uma destruição mútua, sem contar as dezenas e mais dezenas de países que sofreriam danos colaterais.
Também não creio na hipótese de um ataque chinês à ilha de Taiwan (Formosa). Se não fizeram isso até hoje, é sinal de que tal coisa não consta dos planos de Pequim.
A guerra na qual acredito é a de preços que, segundo meu juízo, está começando no mercado de petróleo.
No último fim de semana, a Arábia Saudita anunciou o corte de um milhão de barris diários em sua produção.
Esse tipo de atitude (que aconteceu principalmente durante o pico da Covid) englobava todos os membros da OPEP+ (sendo que o + significa Rússia), que cumpriram o combinado, não deixando que o preço do barril caísse demais quando a demanda despencou.
Agora não. O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman, e seu ministro do Petróleo, Abdulaziz bin Salman al Saud, decidiram, unilateralmente, cortar em um milhão de barris diários a produção do Reino.
A razão para essa medida foi o fato de que a Rússia, o + da OPEP, anda vendendo petróleo abaixo do preço de mercado para a China, principalmente para a China, além de outros países.
Nos dois primeiros dias após o corte saudita, a cotação do Brent na Europa e do WTI (Western Texas Intermediate), na Nymex, apresentaram pequeno bull run. Então o mercado caiu na real e percebeu que uma coisa é a OPEP reduzir sua produção em um milhão de barris, outra é a Arábia Saudita fazê-lo sozinha.
Ninguém sabe o que se passa na cabeça do príncipe Bin Salman. Mas pode ser, e é bem possível, que ele anule o corte de produção e, no sentido inverso, inunde o mercado. A Aramco tem bala para isso.
Guerra de preços no mercado do petróleo já aconteceu em outras ocasiões, assim como ocorreram altas formidáveis provocadas pela Arábia Saudita, sendo a mais importante a dos cinco meses que se seguiram à guerra do Yom Kippur (outubro de 1973), quando o barril subiu de três para 12 dólares.
Por outro lado, em abril de 1986, quando houve uma guerra de preços entre os países da OPEP, guerra essa que levou a cotação do petróleo de 30 para 13 dólares em apenas cinco meses, foi preciso que o vice-presidente George H. W. Bush (Bush pai) viajasse de Washington para a Arábia, onde o rei Fahd concordou em diminuir sua produção.
Algo os sauditas levaram em troca, provavelmente aviões de caça e outros armamentos, embora isso seja apenas uma hipótese que estou levantando.
No momento atual, tudo indica que a tendência do mercado de petróleo seja cair, em função do desenvolvimento cada vez maior de alternativas energéticas limpas, além da possibilidade de uma pequena recessão mundial.
Até março de 1938, a principal renda da Arábia Saudita provinha do turismo religioso, ou seja, das peregrinações de muçulmanos de todo o mundo às cidades sagradas de Meca e Medina.
Então os americanos descobriram, em Dhahran, na região leste da península saudita, as maiores reservas mundiais de petróleo do planeta.
À época, o reino ainda era governado por seu fundador, Ibn Saud, um beduíno de quase dois metros de altura, de porte impressivo, que conseguira reunir e conciliar as tribos do deserto (que viviam guerreando entre si), transformando-as em uma só nação.
Quando Ibn Saud deu a concessão à Socal (Standard Oil of California) para prospectar as areias do deserto, ele pensava estar enganando os americanos. O monarca acreditava que os geólogos acabariam descobrindo um lençol de água doce, que era o que mais o interessava.
Por essa razão, as cláusulas do contrato, com relação a petróleo, eram favoráveis à Socal e lesivas à Península.
Essas condições prevaleceram durante 35 anos, quando o então rei Fahd, juntamente com seu mítico ministro do Petróleo, Ahmed Yamani, puseram as coisas no lugar, nacionalizando a Aramco e impondo os preços.
Nessa questão de petróleo, o Brasil está sempre um passo atrás.
Quando Getúlio Vargas fundou a Petrobras, e lançou o slogan “O petróleo é nosso”, só existiam algumas reservas insignificantes no Recôncavo Baiano.
Mais tarde, o Brasil contratou o geólogo americano Walter Link, para verificar se havia ou não jazidas comercialmente viáveis no país.
Como Link não encontrou nenhuma evidência de tal riqueza (com exceção de possíveis reservas submarinas, o que acabou se tornando realidade), foi execrado pelo governo, pela imprensa e pela opinião pública.
Na primeira metade dos anos 1970, foram descobertas as jazidas profundas da bacia de Campos.
Em minha opinião, se a Petrobras tivesse sido privatizada, nós estaríamos num estágio muito mais avançado em termos de quantidade de óleo produzido.
Um dia o Brasil será um dos maiores produtores de petróleo do planeta. Só que (desculpem o meu pessimismo provavelmente atávico) isso acontecerá quando a era dos combustíveis fósseis (iniciada em meados do século 19) estiver chegando ao fim.
Um ótimo fim de semana para todos
Ivan Sant’Anna