Ao falar sobre a carreira de mulheres líderes, há um fenômeno conhecido como glass cliff (penhasco de vidro, em português), que descreve a ideia de uma empresa em apuros, e uma líder feminina é encarregada de salvá-la. Ou seja, quando ela finalmente tem a chance de provar seu valor em uma posição sênior, recebe como desafio cuidar de uma organização que já está em um momento frágil, com grandes chances de “fracassar”.
Jack Zenger e Joseph Folkman, CEO e presidente, respectivamente, da consultoria de desenvolvimento de liderança Zenger Folkman, nos Estados Unidos, relacionaram essa expressão com a crise trazida pela pandemia da Covid-19, para fazer uma pesquisa a respeito, e comprovar se, de fato, as mulheres são mais qualificadas para liderar em momentos como este que o mundo vive atualmente.
“Durante a crise da Covid-19, ouvimos histórias sobre mulheres líderes fazendo um trabalho melhor e novas pesquisas confirmam isso. Um estudo (Supriya Garikipati, University of Liverpool, Uma Kambhampati
University of Reading, EUA) descobriu que os resultados relacionados à doença, incluindo o número de casos e mortes, eram sistematicamente melhores em países liderados por elas. Outro estudo (publicado pela American Phychological Association) examinou governadores nos Estados Unidos e descobriu, de forma semelhante, que estados com líderes femininas tinham taxas de mortalidade mais baixas. Decidimos examinar então nosso banco de dados global de avaliação para ver se encontraríamos algum padrão em como líderes masculinos e femininos, dentro das organizações, estão reagindo e respondendo à crise”, escreveram os executivos em artigo sobre o tema para a Harvard Business Review.
Entre março e junho de 2020, primeira fase da pandemia, 454 homens e 366 mulheres foram avaliados em sua eficácia de liderança usando os critérios do método de 360 graus de Líder Extraordinário desenvolvido pela Zenger.
Comparando as avaliações gerais, mais uma vez elas foram classificadas como líderes mais eficazes. A lacuna entre homens e mulheres na pandemia é ainda maior do que o gap medido em 2019, possivelmente indicando que a liderança feminina tem um melhor desempenho durante um período desafiador.
Cada líder avaliado também recebeu uma pontuação de engajamento dos colaboradores sobre o quão satisfeitos e comprometidos eles se sentiam. O nível de engajamento com lideranças femininas foi de 55,2%, enquanto com a masculina foi de 49,2%.
“Para entender melhor o que estava gerando a diferença nos níveis de engajamento, examinamos as competências que os subordinados diretos classificaram como mais importantes durante a crise. Notavelmente, os entrevistados colocam mais importância nas habilidades interpessoais, como ‘inspira e motiva’, ‘comunica-se poderosamente’, ‘colaboração/trabalho em equipe’ e ‘construção de relacionamento’. Competências em que as mulheres tiveram uma pontuação superior. Nossa análise ecoa, ainda, o que pesquisadores descobriram no estudo mencionado acima sobre os governadores dos EUA: que as líderes femininas expressaram mais consciência dos medos que os seguidores possam estar sentindo, preocupação com o bem-estar e confiança em seus planos”, dizem Jack Zenger e Joseph Folkman.
Com base nos dados coletados, fica claro que os colaboradores desejam líderes que sejam capazes de desenvolver e aprender novas habilidades, que contribuam para o desenvolvimento da equipe, mesmo em tempos difíceis. Além de serem sensíveis e compreender o estresse, a ansiedade e a frustração que as pessoas estão sentindo.
“Nossa análise mostra que essas são características mais frequentemente exibidas por mulheres. Mas à medida que a crise continua e se intensifica em muitos lugares, todos os líderes, independentemente do gênero, devem se esforçar para atender a essas necessidades”, complementam.
Confira o artigo na íntegra.