Não bastasse a ressaca eleitoral na última segunda-feira (3) aqui no Brasil, o mercado acordou com a notícia da crise de um dos maiores bancos do mundo depois dos borbulhos da sexta, dia 30: possível calote do Credit Suisse. Sem falar dos rumores dias antes, praticamente fake news, da falência do Nubank, que só no Brasil tem em torno de 70 milhões de clientes e que assustou o mundo dos investimentos. Você pode estar pensando: é para comparar um tubarão com um peixinho de aquário? Não, mas quando um gigante tomba, causa aquele efeito onda, fenômeno que a Física explica, e o mercado entende como “todo mundo pode perder”, ou “morrer afogado”. 

Foco nas notícias econômicas ao longo da semana, Credit Suisse é o segundo maior banco da Suíça em ativos, suas ações caíram 21% no último mês e os spreads de seus credit-default swaps, uma espécie de seguro contra inadimplência, subiram para seu nível mais alto do ano na última sexta-feira (30). É um cenário para se preocupar e foi o deixou o mundo em polvorosa com o receio de um possível calote. 

Mas afinal o que está acontecendo com Credit Suisse?

Tudo indica que o Credit Suisse pode ter dificuldades para levantar novas ações para pagar uma reestruturação planejada e que seus custos de financiamento podem aumentar acentuadamente. “Não houve uma abordagem formal a nenhum acionista sobre a emissão de novas ações”, segundo informações do site Seu Dinheiro. Enquanto isso, e seguindo o “protocolo”, os executivos do banco vêm tentando acalmar o mercado, acionistas e clientes, defendendo que suas posições de liquidez e de capital da instituição estão saudáveis, o que é normal dentro de qualquer instituição financeira que trabalha com dinheiro dos outros.

No entanto, o Credit Default Swap (CDS, derivativo financeiro que indica o risco de crédito) da instituição disparou para os maiores níveis da história.  O CDS, na última sexta (30), indicava que o mercado enxergava a probabilidade de inadimplência do banco nos próximos cinco anos em 21,1%!  “O banco suíço sofre com as consequências de duas grandes crises – o colapso da empresa financeira britânica Greensill e do fundo de multimercado norte-americano Archegos – que, combinados, custaram bilhões de dólares e levaram a uma mudança na sua administração”, explicaram Jennie Li, Rafael Nobre e Pietra Guerra, da XP Investimentos. 

“Os problemas não são novos. Há quase um ano, o Credit Suisse prometeu se reestruturar após os golpes – que ocorreram meses antes de um acordo de quase meio bilhão de dólares decorrente de um escândalo antigo ligado a empréstimos feitos no país africano de Moçambique”, contextualizam os especialistas da XP. Segundo eles, “a parte nova é a crescente preocupação com a saúde do banco, principalmente porque a deterioração das condições macroeconômicas podem prejudicar o preço dos negócios e ativos que o banco planeja vender para elevar sua liquidez”.

É fundamental destacar que o valor de mercado do Credit Suisse saiu de US$ 22,3 bilhões há um ano para US$ 10,4 bilhões. Assim, os ativos que compõem o banco, e que poderiam ser vendidos para melhorar a sua situação de capital, também viram seus valores caindo, conforme as informações da XP.  Isso faz com que parte do mercado veja como problema as recorrentes quedas dos preços dos ativos em todo o mundo, em meio a todo o temor de uma recessão global que há meses ronda o mercado e das altas de juros pelos bancos centrais e isso é o que impacta as negociações.

De acordo com especialistas, rumores de mercado apontam que  o Credit Suisse planejaria vender sua unidade de negociação de produtos securitizados, que tem um valor de cerca de US$ 2 bilhões, e avalia a venda de operações de gestão de patrimônio na América Latina, com exceção do Brasil. Analistas do Deutsche Bank, há cerca de um mês, apontaram que o banco pode precisar captar algo próximo a US$ 4 bilhões mesmo após a venda de ativos para financiar sua reestruturação.

A preocupação geral, então, é que o banco tenha prejuízos em seus desinvestimentos ou que os preços conseguidos por eles não sejam suficientes para recompor uma posição confortável de caixa. Com isso, há o temor de risco sistêmico. Uma possível falência do Credit Suisse, por conta do seu tamanho, provavelmente respingaria em várias outras companhias e instituições financeiras, causando uma “bola de neve” – algo que aconteceu na crise de 2008 (ano fatídico). Quando uma instituição financeira não tem dinheiro para pagar a outra e isso gera um efeito dominó, ameaçando todo o sistema e é aí que entra o peixinho do aquário, que é quem vai sofrer as consequências pelo tombo do tubarão.

No Brasil, os FIIs

No Brasil, o Credit Suisse é controlador da CSHG (na segunda-feira (3), seu maior volume de pedidos de resgate este ano), que viu aumentar a volatilidade das cotas dos FIIs que administra. A corretora passou a ser questionada sobre o impacto dos problemas da instituição financeira suíça nas operações dos fundos imobiliários.

Em resposta aos rumores de eventuais prejuízos para os FIIs, o CSHG divulgou comunicado nesta quarta-feira (5) reforçando que segue a lei 8.668/93 – que estabelece que os bens e direitos dos fundos imobiliários são segregados e independentes de qualquer instituição. “Os bens e direitos integrantes do patrimônio do Fundo de Investimento Imobiliário, em especial os bens imóveis mantidos sob a propriedade fiduciária da instituição administradora, bem como seus frutos e rendimentos, não se comunicam com o patrimônio desta”, diz o artigo 7 da lei 8.668/93, destacado pela administradora – de acordo com as informações do site Infomoney.

A lista de fundos imobiliários administrados pela CSHG conta com:

  • CSHG Real Estate – HGRE11
  • CSHG Logística – HGLG11
  • CSHG Recebíveis Imobiliários – HGCR11
  • CSHG Renda Urbana – HGRU11
  • CSHG Imobiliário FoF – HGFF11
  • CSHG Prime Offices – HGPO11
  • Castello Branco Office Park – CBOP11
  • CSHG Residencial – HGRS11

Vai falir?

A exemplo dos boatos que assombraram o mercado com a história que o Nubank estaria falido e por isso estava abandonando a bolsa brasileira, os analistas minimizam essa possibilidade. 

“O colapso do Lehman Brothers em 2008 pode ser a analogia que vem à mente no cenário atual, mas o tamanho e a importância do Credit Suisse tornam esse cenário menos provável”, dizem até os pessimistas. Ainda assim, com a Europa passando por uma guerra e uma forte crise de energia, um quadro preocupante para o banco está se formando à medida que o continente caminha em direção à recessão”, diz a equipe da XP.

“Quando bancos reportam perdas consideráveis, eles, geralmente, têm as suas reservas. É algo ditado, basicamente, pelo índice de Basileia. Mas existem outras alternativas que podem dar liquidez para a instituição, como a venda de subsidiárias, de unidades regionais e de carteiras. Em último caso, pode se fundir com uma instituição para conseguir segurar o tranco”, comenta Renan Manda, da XP.

Isso porque, em seu último resultado trimestral, o Credit Suisse trouxe um índice de capital próprio de primeira linha de 13,5%. O indicador, que mede sua resiliência financeira e a capacidade de absorver prejuízos, é semelhante a de outros bancos europeus como o UBS e o BNP Paribas. O banco tem ainda cerca de US$ 15,7 bilhões em capital adicional, levantados através de títulos que podem ser convertidos em ações. Em geral, boa parte do mercado vê a falência do banco suíço como improvável.

Em vídeo publicado nesta quarta-feria (5), o fundador do Grupo Suno, Tiago Reis, disse que é preciso monitorar a situação de perto porque existe um risco à economia global, assim como ocorreu com a quebra do Lehman Brothers no passado. Operações do Credit Suisse no Brasil chamariam atenção de compradores. Apesar dos riscos à economia internacional, Reis afirmou não ver problemas nas atividades do banco no Brasil. “O Credit Suisse no Brasil é lucrativo e tem atividades de banco de investimentos, gestão de fundos, weatlh, que são atividades naturalmente rentáveis.”

Se o Nubank não faliu, o Credit Suisse vai falir?

(Com informações: Seu Dinheiro; Infomoney; Estadão; XP; Suno; Portal Acionista)

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