Tal como faço todos os meses já lá se vão algumas décadas, esta semana dei um giro pelos mercados mundiais mais importantes. E descobri algumas coisas interessantes.

Antes de mais nada, é bom lembrar que não existe mercado bom nem mercado ruim. O que existe são mercados nos quais a gente acerta a tendência e outros nos quais a gente erra. Fora as oportunidades óbvias que deixamos escapar por total falta de atenção.

O dólar está forte frente à maioria das moedas conversíveis.

Tudo indica que o FED (Federal Reserve Bank – Banco Central dos Estados Unidos) fará apenas mais uma elevação na taxa básica de juros, ou simplesmente porá fim ao ciclo contracionista (hawkish) iniciado em 2020, para debelar o surto inflacionário provocado pela pandemia da Covid-19.

No momento, os Estados Unidos estão com pleno emprego. Ou, mais precisamente, quase pleno emprego: 3.8% de unemployment. Mesmo com o FOMC (Federal Open Market Committee – Comitê Federal de Mercado Aberto) praticando sua maior taxa básica (5,25%/5,50%) desde o início do século.

O iene japonês, por exemplo, está prestes a romper uma mínima de 33 anos.

Dentro deste cenário (economia robusta), o S&P500 ronda sua máxima histórica. O mesmo acontece com o índice Nasdaq.

Mudando completamente de setor, o bull market de grãos simplesmente entrou em parafuso. Em Chicago, a soja e o milho acabaram sendo beneficiados (para os ursos, é claro) pela chegada das chuvas e pela safra recorde brasileira.

* * *

Chocolate com açúcar.

Há muito tempo, venho comentando a respeito do atual bull market de cacau, provocado por forte demanda e pela escassez do produto.

No momento, a tonelada de cacau está sendo cotada a US$ 3.651,00 na ICE (Intercontinental Exchange) em Nova York, o maior preço desde a década de 1970.

Já escrevi isso em outras ocasiões, mas não custa repetir: o cacau é uma commodity de ciclos longos, tanto os da lavoura como os de preços na Bolsa. Continua valendo a pena ficar comprado e sentado em cima da posição.

Quem lê minhas newsletters há bastante tempo, sabe de minha paixão pelo mercado de açúcar.

Que, por sinal, está correspondendo.

No momento, a libra-peso da mais doce das commodities está sendo negociada, também na ICE, a US$ 0,2665, uma máxima de doze anos, já que em janeiro de 2011 o preço bateu US$ 0,32972. 

Tudo indica que irá testá-la, em função de uma seca e uma onda de calor terríveis na Índia, maior produtor mundial e segundo maior exportador.

Como, definitivamente (e para decepção dos negacionistas), os padrões climáticos estão mudando em todo o planeta, poderemos ter em 2024 uma repetição dessa quebra de safra indiana.

Só para que o caro amigo leitor possa ter uma ideia, um único contrato de açúcar (112.000 libras-peso) comprado a US$ 0,2665 e vendido a US$ 0,3367, rende ao feliz comprador US$ 7.862,40.

Um único contrato! Para o qual a Bolsa exige uma margem de US$ 1.478,00, além de ajuste (positivo ou negativo) diário em caso de ganho ou perda.

Portanto, se a alta que imagino, de US$ 0,2665 para US$ 0,3367 acontecer, um investidor que compre 10 contratos irá depositar US$ 14.780,00 para obter um ganho de US$ 78.624,00.

Obviamente, como em toda aposta alavancada, deverá pôr um stop.

Só que as oportunidades no mercado de açúcar não terminam aí.

Como segundo maior produtor mundial, e primeiro exportador, o Brasil tem diversas empresas que exploram esse mercado, sendo algumas negociadas em Bolsa.

Uma delas, a São Martinho (SMTO3.SA), que produz e comercializa açúcar e etanol, subiu 53,66% entre 25 de janeiro deste ano e a última terça-feira.

No ano de 1974, quando o açúcar bateu US$ 0,52897 a libra peso (esse preço corrigido pela inflação americana equivale hoje a US$ 3,29) a Copersucar tornou-se a maior empresa brasileira, tendo patrocinado sozinha a transmissão da Copa do Mundo da Alemanha realizada naquele ano, além de montado uma equipe de Fórmula 1 (o prateado Copersucar, pilotado pelos irmãos Fittipaldi, Wilson e Emerson, além do finlandês Keke Rosberg).

Quem acertou em cheio a alta do açúcar de 1974, seja comprando contratos futuros ou calls na então CSCE (Coffee, Sugar & Cocoa Exchange), em Nova York, ou comprando ações da Copersucar nas Bolsas de Valores de São Paulo (Bovespa) ou do Rio (então super ativa), pôde se aposentar.

Como sonhar é totalmente gratuito, imaginemos que alguém compre hoje os tais dez contratos de açúcar na ICE, pagando US$ 0,2665 por libra-peso, e o mercado repita (com o preço sendo corrigido pela inflação dos Estados Unidos no período) a máxima de 1974.

Esses dez contratos, para os quais o investidor/especulador irá depositar US$ 14,780,00, renderão US$ 3.386.320,00.

É importante realçar que o que escrevi acima não é nenhum tipo de delírio inexequível. 

Já aconteceu várias vezes, em diversos mercados futuros e de ações, e irá acontecer de novo.

Daí a necessidade de se estar atento às oportunidades que as bolsas de valores e de derivativos estão sempre oferecendo.

Um ótimo fim de semana para os caros amigos leitores.

Ivan Sant’Anna

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Investir sem um preço-alvo é acreditar apenas na sorte