Com a queda das taxas de juros, o mercado de ações vem atribuindo prêmio na avaliação de empresas que são boas pagadoras de dividendos. Sob essa ótica, a adoção de uma clara política de dividendos por parte das companhias traz uma série de benefícios para os investidores.
Ao definir sua adoção, é essencial que a empresa avalie sua estrutura de capital e seus planos de investimentos. É desejável que companhias altamente endividadas se esforcem para reduzir a dívida antes de pensarem em distribuir dividendos agressivos. Da mesma forma, quando há ambiciosos planos de investimentos e a perspectiva de crescimento é grande, o que consequentemente trará maior retorno ao acionista no longo prazo, é preferível manter o foco nessa estratégia, com a distribuição de dividendos no nível mínimo exigido por lei.
A definição da estrutura ótima de capital é uma decisão específica de cada empresa e depende de vários fatores, tais como: setor de atuação, suas características, a volatilidade do mercado, apetite ao risco, estrutura acionária e necessidade de caixa.
Uma vez atingida sua estrutura ótima de capital é interessante pensar numa política de remuneração que seja sustentável por um longo período. Para isso, a política de dividendos deve ter como princípio básico o equilíbrio entre o retorno ao acionista e a sustentabilidade financeira da companhia. A análise de cenários com simulações de parâmetros, como a evolução do nível de endividamento e a manutenção da capacidade de investimento, é essencial para o sucesso e longevidade da política de dividendos. Após a conclusão das análises, existe uma série de caminhos que podem ser seguidos no estabelecimento da política de dividendos.
No caso das companhias abertas, outro aspecto importante que deve ser levado em consideração na definição da política de dividendos é o preço da ação. Se, por exemplo, o preço estiver subavaliado pode ser interessante a opção de retornar capital através de um programa de recompra de ações. Esse mecanismo é comumente utilizado como parte da política de remuneração ao acionista que tem como diretriz o retorno total ao acionista (total shareholder return – TSR). O TSR é utilizado para medir a performance financeira de um ativo, combinando o preço da ação com os dividendos pagos em um determinado período.
Além do TSR, vemos que muitas empresas optam pela política de dividendos progressivos, onde o dividendo por ação aumenta ao longo do tempo. Essa estratégia é apreciada por investidores que desejam maior previsibilidade e retornos crescentes, mas ao mesmo tempo compromete a flexibilidade dos gestores de lidar com cenários adversos.
Outra opção frequentemente adotada é a distribuição de um percentual do lucro líquido. A desvantagem é a dificuldade de previsão dessa métrica contábil, que pode ser fortemente impactada por variáveis exógenas como variação cambial, perdas/ganhos contábeis e outros fatores sem efeito caixa, mas que impactam o resultado líquido.
Com base na projeção anual de seu fluxo de caixa, a empresa pode ainda lançar mão de uma política onde são propostos dividendos mínimos no início de cada ano. Essa estratégia confere previsibilidade para os investidores, e facilita a gestão financeira, dando flexibilidade à companhia para anunciar uma remuneração mais conservadora no começo do ano, e posteriormente, propor pagamentos adicionais condizentes com a evolução do fluxo de caixa.
Por fim, existe a opção de atrelar a política de dividendos a um percentual do fluxo de caixa ou até do fluxo de caixa livre. Essa estratégia pode ser usada por empresas que atuam em setores cíclicos, pois faculta aos gestores a flexibilidade para lidar com os mais diversos cenários. Outro benefício claro é a preservação da capacidade de investimento ao atrelar o pagamento do dividendo ao fluxo de caixa livre.
Empresas bem-sucedidas eventualmente enfrentarão o dilema de gerar fluxos de caixa muito superiores às oportunidades de reinvestimento. Nesse caso, é recomendável retornar o excedente de caixa aos acionistas, e a melhor maneira de fazê-lo é através da adoção de uma política de dividendos clara, transparente e de fácil previsibilidade. Além disso, é essencial que a política ofereça flexibilidade à gestão financeira mantendo sempre o foco de maximizar a geração de valor aos acionistas.
Carla Dodsworth Albano Miller
Executiva com mais de 20 anos de experiência em Finanças e Relações com Investidores. É Gerente Executiva de Relações com Investidores da Petrobras desde abril de 2019. Antes de ingressar na Petrobras, trabalhou na Vale por 15 anos, tendo ampla experiência em Finanças Corporativas e Relações com Investidores, sendo 10 anos na área de Relações com Investidores. É também Diretora Regional do IBRI – Instituto Brasileiro de Relações com Investidores desde 2015. Carla é formada em Economia pela PUC-Rio, com mestrado em Finanças pela PUC-Rio, MBA em Finanças Corporativas pelo IBMEC, e também participou de programas executivos na INSEAD e na Chicago Booth School of Business, como o Chicago Booth Advanced Management Program.