Durante décadas, a OPEP foi apenas OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Em inglês, OPEC – Organization of the Petroleum Exporting Countries. Sem o +.

Não tinha grande importância no cenário econômico mundial. Foi fundada, em 1960, por apenas cinco países: Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela. Por sinal, um reputado advogado venezuelano, Dr. Juan Pablo Pérez Alfonzo, inspirou a ideia.

Quem já leu o livro O petróleo, escrito por Daniel Yergin (The Prize, na edição original), conhece bem essa história, que também rendeu um ótimo documentário, com riquíssimo acervo de imagens.

Mais tarde, outros países, Qatar, Indonésia, Líbia, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Nigéria, Equador, Gabão, Angola, Guiné Equatorial e Congo se uniram ao grupo.

A maior prova de que, em seu início, a OPEP, cuja primeira sede situou-se em Genebra, não tinha grande relevância, é que a Suíça não concedeu status diplomático à organização.

O mesmo não aconteceu com a Áustria. Daí o fato da entidade ter se mudado para Viena, onde se estabeleceu, por ordem cronológica, e à medida em que a instituição ia crescendo, em três endereços: Möllwaldplatz 5; Dr. Karl-Lueger Ring 10 e Obere Donaustrasse 93, às margens do Danúbio.

Em seus primeiros treze anos, a OPEP era realmente insignificante. As empresas petrolíferas situadas nos países da organização eram grandes multinacionais, conhecidas como Sete Irmãs.

Mais precisamente: Exxon, Mobil, Chevron, Shell, British Petroleum, Texaco e Gulf.

Elas definiam os royalties pagos aos países produtores (valores baixos, para poder lucrar muito na venda aos consumidores, mais lá na frente) e as cotas de extração.

Tudo isso mudou em outubro de 1973, em função de um evento (vitória de Israel na guerra do Yom Kippur, que os israelenses chamam de Guerra de Outubro, e da retaliação dos árabes, através de um embargo liderado por dois estadistas: rei Faisal, da Arábia Saudita, e seu mítico ministro do Petróleo, Ahmed Zaki Yamani.

Em apenas três meses (último trimestre de 1973) o preço do barril (ditado pela agora poderosa OPEP) subiu de três para 22 dólares, uma alta de mais de 600 por cento.

Pouco depois, um a um, os países membros da organização de Viena passaram a estatizar a produção e a exportação petrolífera.

Vieram os dois grandes choques do petróleo (anos 1970 e 1980) e, com eles, a inflação mundial. Nos Estados Unidos, por exemplo, em 1980 o CPI (sigla em inglês para Índice de Preços ao Consumidor) atingiu 13,5%.

Uma das principais características dos membros da OPEP é o fato de que produzem uma quantidade de hidrocarbonetos muito superior à que consomem, como é o caso, por exemplo, da Arábia Saudita.

Volta e meia, para defender preços, a OPEP cria cotas de produção, cotas essas que nem sempre costumam ser respeitadas. Foi o que causou a guerra do Golfo, em 1990, quando o Iraque invadiu o Kuwait, alegando desrespeito aos acordos, coisa que os Emirados Árabes Unidos e o próprio Iraque faziam também.

Como a Arábia Saudita tem os menores custos de extração (ao redor de cinco dólares o barril) volta e meia eles derrubam os preços para punir concorrentes que não respeitam acordo de cotas.

De alguns anos para cá, a produção de outras fontes energéticas limpas (ou menos poluentes) têm subido muito ao redor do planeta. Entre elas a hidroelétrica, eólica (dos ventos). Fora o enorme crescimento da produção de carros elétricos.

Existem hoje países que aderem à OPEP parcialmente. Acompanham as reuniões, participam de acordo de cotas mas não são membros plenos. Daí o surgimento do sinal + : OPEP +.

A Rússia é o exemplo mais significativo dessa nova ordem. Trata-se do terceiro maior produtor mundial de petróleo, atrás apenas dos Estados Unidos (que consomem o que produzem ou, melhor, produzem o que consomem) e da Arábia Saudita, que exporta quase tudo e, se quisesse, poderia extrair mais.

Há duas semanas, numa reunião na Arábia Saudita, o Brasil foi convidado para integrar a OPEP + na qualidade de observador. Lula ficou de responder o mais breve possível.

Embora sejamos um país autossuficiente em petróleo (exportamos óleo cru e importamos derivados, principalmente óleo diesel) é sempre bom participar desses grupos de elite, nem que seja para escutar o que os demais estão falando e decidindo.

Isso já aconteceu em reuniões do G7, onde Lula esteve lá confraternizando com os big shots mundiais.

G7, G20, BRICS, Conselho de Segurança das Nações Unidas, é vantajoso fazermos parte desses grupos.

Como já disse um presidente brasileiro (acho que foi Fernando Collor de Mello) é melhor sermos os últimos dos primeiros do que os primeiros dos últimos.

Resta saber tirar proveito desses convívios, atraindo novos investimentos e aumentando nosso comércio, que ainda representa uma parcela minúscula do total negociado entre os países.

Que venha logo essa OPEP +. Na pior das hipóteses seremos insiders no mundo do petróleo.

Um ótimo fim de semana para todos os amigos leitores assinantes.

Ivan Sant’Anna

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