*Entrevista com Felipe Reymond Simões, economista e diretor da WIT Asset

1- O que podemos esperar da primeira Super Quarta do ano, dia 01/02, em relação ao mercado americano e postura do Federal Reserve? Qual deve ser o tamanho (%) do ajuste na taxa básica de juros por lá e quais os impactos no mercado brasileiro?

R: Eu espero uma alta de 0,5%, igual a última alta que teve no final do ano passado, ou de 0,25%. O percentual de 0,25% seria um ótimo indicativo de que realmente o Fed está desacelerando o ritmo de crescimento da taxa de juros e que provavelmente deva parar nos 5,5% ao ano, o que de modo geral é bom para o mundo, porque é um indicativo de que eles estão confortáveis com o nível de inflação atual e que essa taxa de juros já é suficiente para conter a alta da inflação. Para o Brasil e para o mundo é bom, porque a taxa de juros americana é a referência para as demais taxas de juros dos bancos centrais dos demais países do mundo. Então, se realmente tiver esse aumento de 0,25%, vai ser uma sinalização de que outros bancos centrais podem começar a reduzir também o aumento, ou até no caso do Brasil que já está mais para o final do ciclo, talvez até começar a abaixar a taxa de juros.

2- E o que esperar em relação à postura do BC brasileiro? Teremos a manutenção da taxa básica de juros? Temos visto o Boletim Focus do BC sinalizando uma inflação mais alta por mais tempo…

R: Eu acredito que o Banco Central brasileiro deve manter a taxa de juros, acho que eles vão optar pela manutenção, principalmente se o Fed realmente não fizer uma elevação de 0,75%, igual ele fez várias vezes ao longo do ano passado. E como já estamos mais para o final do ciclo, apesar de ter tido dados recentes com a inflação um pouco acima do esperado, acredito que o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, vai optar pela manutenção da taxa de juros.

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3- Aos poucos, o mercado fortalece a expectativa de que a inflação ficará em níveis mais altos ao longo de todo o horizonte de projeção, com estimativas cada vez mais distantes do centro da meta. Com isso, as taxas de juros de longo prazo retomaram o nível de 13% ao ano. Como você avalia este cenário?

R: Eu acho que o cenário já era um dos mais prováveis de que isso acontecesse, isso já era de certa forma esperado. Este patamar já é condizente com uma inflação alta realmente. Os dados recentes têm sido um pouco acima do esperado, mas não muita coisa, não acho que nesse momento ainda seja um cenário preocupante. Acho que isso já estava em grande parte esperado e precificado. Então, não vejo novas altas na taxa de juros para o Brasil, pelo menos no curto prazo, não nessa próxima reunião e talvez não nesse primeiro semestre do ano. Acho que a gente vai ter uma postura mais cautelosa em relação a não querer nem aumentar e nem diminuir a taxa de juros. Eu trabalho com o cenário-base de manutenção.

4- Diante deste cenário, qual a sua expectativa para cortes na taxa de juros?

R: A expectativa para cortes na taxa de juros, se realmente os Estados Unidos sinalizarem um fim do ciclo de alta, eu acho que tem grande chance de que no segundo semestre deste ano a gente comece a reduzir juros aqui no Brasil. Não acho que vá terminar o ano nesse patamar atual. Acho que vai terminar num patamar abaixo, talvez 1% ou 1,5% abaixo do que o atual.

5- Como o mercado reage aos anúncios de financiamentos do BNDES em economistas da América Latina, a exemplo da parceria com a Argentina?

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R: De modo geral, é muito ruim isso, a gente já viu o que aconteceu no passado. Desvio de dinheiro é ruim para a área fiscal do país, então o mercado reage de forma ruim, mas vai depender muito da magnitude. Se a gente tiver empréstimos menores, bem menores do que foram nos governos do PT do passado, então não acho que afete tanto. Com o Lula presidente já é esperado esse tipo de postura, então vai depender da magnitude dos empréstimos.

6- Você acredita que a PEC da Transição, a inflação alta por mais tempo e o governo mais expansionista já estejam precificados nos ativos? Ou ainda podemos esperar mais desvalorização da bolsa brasileira?

R: Eu imagino que sim. Acredito que a PEC da transição, a inflação mais alta e governo expansionista já estejam em grande parte precificados, sim. Tanto que a gente tem tido um pouco de alívio aí, conforme a gente não está tendo más notícias, o mercado tem reagido bem. Então, quando grande parte das coisas ruins já estão precificadas, a gente só precisa parar de ter más notícias para o mercado reagir positivamente.

7 – De acordo com o balanço divulgado em janeiro de 2023 pela Anbima, as emissões de renda fixa somaram R$ 457 bilhões em 2022, volume 6,6% maior do que em 2021 e recorde da série histórica, iniciada em 2012. As debêntures lideraram, com R$ 271 bilhões emitidos. O número representa alta de 8,2% e também é recorde. O setor de energia elétrica concentrou mais emissões, com R$ 54 bilhões. Ao todo, foram 465 operações no ano, sendo que 98 delas superaram R$ 1 bilhão. O prazo médio das ofertas foi de 6,3 anos e 82,8% foram indexadas por DI + spread. Além disso, 41,5% dos recursos foram destinados a aumento de capital de giro. Você acredita que este cenário vai se repetir em 2023? Se sim ou não, por quê?

R: Acredito que a gente vai continuar tendo um ano com aportes para a renda fixa, com a taxa de juros nesse patamar é muito atrativo, e como o histórico de curto médio prazo da grande maioria dos ativos de renda variável está bastante negativo, tanto bolsa americana, bolsa brasileira, criptomoedas, a renda variável de um modo geral tem ido muito mal. Então, até a gente começar a ter uma melhora e começar a ter números que despertem a atenção do investidor pessoa física, que são aqueles números mais expressivos, a gente vai continuar tendo bastante procura na renda fixa e vai ser o principal destino dos recursos dos brasileiros de modo geral. Acredito que vá continuar tendo um fluxo forte, mas no caso das Americanas acende um sinal amarelo, porque provavelmente os analistas de crédito vão começar a ser mais rigorosos na hora de recomendar uma debênture, ativos semelhantes ligados a dívida de empresas, então tem esse porém, de que esse sinal amarelo pode frear um pouco o fluxo, mas ainda vai ser o principal destino, pelo menos nesse primeiro semestre do ano.

9 – Por outro lado, vemos um fluxo de investimentos estrangeiros no Brasil. A que se deve?

R: O fluxo de investimentos na verdade vem acontecendo há muito tempo. Desde a metade de 2021, em que o investidor pessoa física e investidor institucional brasileiro começou a retirar de maneira bastante agressiva o dinheiro da bolsa, o principal comprador tem sido o estrangeiro. É uma somatória de fatores que influenciam isso, mas basicamente porque o nível de preço da bolsa brasileira está bastante atrativo relativamente a outros ativos do mundo, então isso é um dos principais fatores. Também tem tido bastante fluxo de saída da bolsa americana, então esse recurso precisa migrar para outros destinos. A gente tem um valuation muito atrativo atualmente aqui no Brasil, e que para o estrangeiro quando ele olha todo o leque de oportunidades que ele tem no mundo, uma das mais atrativas é o investimento aqui na bolsa brasileira, por isso que a gente vê esse fluxo de migração já há quase 2 anos.

8- Como a marcação a mercado pode influenciar na renda fixa?

R: A marcação a mercado vai começar a mostrar um pouco mais a realidade, de que a renda fixa tem os seus riscos também e que os ativos sofrem variações de valor de mercado ao longo do tempo. Então, as pessoas vão em um primeiro momento talvez assustar, com a variação negativa, as plataformas de investimentos e os bancos têm dado a opção de não marcar a mercado e sim de marcar no preço em que foi comprado original. Então, tem tido essa opção e os gerentes e assessores de investimentos têm orientado os clientes a optar por essa segunda opção, porque com certeza vai assustar menos as pessoas e vai dar menos dor de cabeça para eles. Mas com certeza vai ter gente que vai acabar ficando com a marcação a mercado, e essas pessoas quando entraram na conta e verem que a renda fixa teve variação negativa vão assustar, e isso vai ter um impacto negativo, talvez o brasileiro passe por uma educação financeira de entender um pouco mais de como funciona realmente o mercado de renda fixa e como que é a maneira correta de enxergar a aplicação nesse tipo de investimento.

Felipe Reymond Simões é Diretor da WIT Asset – Gestor de recursos, com carreira exclusiva no mercado financeiro e passagens por Banco Safra, Luminus Capital, Kapta Investimentos e Wit Asset (atual). Graduado em Economia pela McGill University (Montreal, Canadá) e Relações Internacionais pela FACAMP (Campinas, Brasil). Possui também uma minor concentration em Psicologia da Educação e é gestor credenciado pela ANBIMA com a certificação CGA. Experiência em gestão de patrimônios, carteiras administradas, fundos exclusivos, clubes de investimento e fundos abertos de classes como ações e fund of funds.

Texto: Assessoria Comunicação/WIT Asset

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