Recentemente assisti a uma matéria sobre um dos queijos mais reconhecidos do mundo e para minha grata surpresa ele é brasileiro, produzido em Cabreúva, no sítio Pé do Morro, pela família do produtor Erico Kolya.
Ouvindo o processo de produção do queijo e sua transformação notei uma similaridade muito grande a uma perspectiva de como encarar a vida, isto me motivou a escrever este artigo e compartilhar a reflexão com você leitor.
Segundo Erico, todo o processo de produção começa no respeito a terra, a compreensão do que o bioma onde o sítio está inserido lhe oferece para que ele não tenha embates com a terra para produzir, mas a compreenda, e num processo de troca de conhecimentos possa fazer experimentações no ciclo de produção, para que o queijo, seu produto final, conte histórias diferentes com sabores diferentes e se encaixe em momento diferentes de quem for consumi-lo.
Trazendo para vida prática, todo o consumo de capim e selagem oferecido as vacas, são frescos, algo possível quando o clima está quente e tem um bom nível de chuvas na região para manter o solo úmido, no inverno as condições mudam, e para continuar com a mesma dieta junto ao gado o produtor lhes oferece cana moída fresca para não causar tanta distorção na dieta dos animais e manter a qualidade do leite produzido.
Assim, em seu sítio, Erico produz a cana e o capim para consumo dos animais, após ter estudado o solo e a demanda de consumo do gado, sem precisar manipular o solo ou o gado com artifícios externos para criar uma produção que não é natural do local.
Além disso dentro do próprio processo produtivo do queijo, adequa os sabores e características dos queijos utilizando mecanismos naturais que a jornada de transformação do queijo lhe oferece, seja através da descoberta de novos sabores que vem do leite porque o capim foi “infectado” por novas bactérias que o gado consumiu e mudou o sabor do leite, seja pelos mofos diferentes adicionados durante o processo produtivo ou ainda por novas descobertas oriundas do processo de maturação na camara fria que naturalmente altera a composição química do queijo.
Podemos dizer que o processo de fazer o queijo é uma alquimia que une a curiosidade por aprender, com o respeito a transformação que acontece de várias formas: no solo, nos bichos, nas pessoas que participam do processo produtivo e no ambiente onde a produção acontece, e a imensa gratidão por poder saborear , neste caso, queijos diferentes, que poderão combinar momentos diferentes de refeição, e outros sabores que trarão a cada individuo sensações e lembranças que marcarão seu paladar e sua experiência com o alimento, de maneira muito particular.
As sensações e memórias serão individuais, mesmo que a alimentação aconteça em um coletivo, devido a valores e saberes pregressos de cada pessoa.
Dependerá de cada um compartilhar suas sensações, e desejar conhecer experiências diferentes que lhe permitam ganhar perspectiva e até despertar a curiosidade de experimentar momentos e combinações de alimentos diferentes.
Fazendo a comparação entre o queijo e a vida, de forma bastante simples, temos algumas escolhas:
- Viver a vida em uma bolha, olhando para nosso próprio pé, não nos permitindo experimentar os diversos sabores e desafios para nos transformarmos e evoluirmos, nos acomodando e acreditando em verdades absolutas enviesadas pela falta de perspectiva, limitando nosso saber, nosso viver e nosso ser, e, portanto, comendo sempre o mesmo tipo de queijo independente do momento e da combinação de alimentos, ou,
- Entender que somos um grande espaço vazio quando nascemos e temos a liberdade de preencher este espaço com uma gama de experiências e saberes diversos nos modificando o tempo inteiro, nos mostrando diferentes perspectivas o tempo inteiro e nos permitindo acertar e errar com um rico aprendizado intelectual, físico e espiritual, que nos gera alegria, felicidade, tristeza, frustação, aprendizado, crescimento, desenvolvimento, num rodopiar de sabores e sensações que nos trazem a gratidão por estarmos vivos, e podermos experimentar tantos momentos diferentes e preencher nossos vazios com emoções, conteúdos e vivencias diferentes, portanto degustando vários tipos de queijos para entender nosso paladar e ganhar propriedade para escolher e conversar a respeito, ou ainda,
- Compreender o poder do livre arbítrio que temos e entender que o equilíbrio da alquimia que viveremos enquanto estivermos neste planeta dependerá única e exclusivamente do risco que queremos correr, das experimentações que nos permitiremos realizar, da diversidade que queremos frequentar e do respeito que teremos conosco e com tudo que nos cerca, portanto em nossa jornada decidiremos quando experimentaremos cada queijo, criando os nossos momentos para isto, sem perder de vista, que quanto maior a diversidade de experiências, maior as possibilidades de preenchermos as lacunas dos espaços vazios e maior a profundidade da alquimia de sabores, vivências e do sentimento de gratidão.
Como queijo, há outros processos de transformação
Como o queijo, o vinho e vários outros processos de transformação dos alimentos podem ser experimentados para nos resgatar a alquimia da vida, o mais importante é que ao final deste artigo você se lembre que independente do que esteja vivendo agora, a impermanência é uma realidade, e tudo se transforma ao nosso redor o tempo inteiro.
Depende apenas de nós decidirmos qual é o olhar e a reação que que queremos ter para e com a vida: Autoproteção, Autodesenvolvimento, Equilíbrio e Gratidão, uma combinação de fatores.
A reflexão é individual, bem como a escolha, mas lembre-se que quanto mais restritivo você for, menor a sua perspectiva para a vida que lhe entrega no nascimento uma imensidão de possibilidades.
O que ela não nos entrega é a receita de bolo para experimentar todas estas possibilidades porque o livre arbítrio para criar ferramentas e condições é exclusivamente nosso, a jornada é nossa e o resultado também, consequência única e exclusiva dos riscos que assumimos e das experimentações que nos permitimos.
Viva a vida e permita-se saborear a alquimia dos diversos queijos!
Por Renata Vilenky, formada em Tecnologia e Economia com especialização em IA e Robótica. Conselheira em Estratégia , Inovação e Transformação Digital, Membro da Academia Európéia da Alta Gestão com livros publicados nos temas de Inovação, Estratégia, Conselhos e Liderança; Consultora em Projetos de Inovação Aberta e Transformação Digital, Mentora de Startups e Executivos, Coordenadora do Comite de Empreendedorismo e Tecnologia do Insper, Professora de Estratégia e Inovação da FGV e Mentora em vários projetos de impacto em educação e saúde.