Quando eu era menino, e o Rio de Janeiro capital federal, meu pai sempre me levava para assistir a parada militar do Sete de Setembro.

Eu não ficava no meio da massa lá embaixo, esticando o pescoço para conseguir ver alguma coisa. 

Não. Como trabalhava no governo Getúlio Vargas (mandato democrático – 1951 até o suicídio do presidente em 1954), e mais tarde no de Juscelino Kubitschek, meu pai recebia convites para ver o desfile de uma sala do ministério da Guerra, logo atrás do palanque presidencial.

Eu simplesmente adorava o programa. Via Getúlio e JK chegando no Rolls Royce presidencial (este mesmo no qual os atuais presidentes usam em ocasiões especiais), após passar as tropas em revista, antes do início da parada.

Pois bem, em 1960, a capital se mudou para Brasília e jamais voltei a ver o desfile, nem mesmo pela TV.

Aqui no Rio, o evento tornou-se secundário, sendo o principal, com a presença do presidente, realizado no Eixo Monumental.

Ano passado, tudo mudou. Embora a parada militar no Eixo tenha sido normal, grandes manifestações bolsonaristas ocorreram em todo o país, com grande comparecimento dos seguidores do presidente.

Após presidir o cerimonial em Brasília, Jair Bolsonaro deslocou-se para a avenida Paulista, em São Paulo, onde a massa delirante ocupou inúmeros quarteirões.

Os discursos fugiram aos limites da civilidade, deixaram de ser uma comemoração para se transformar em violentos ataques aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral, com foco maior na figura de Alexandre de Moraes, que foi  chamado de canalha pelo presidente da República.

O mercado se assustou. Se assustou muito. No dia 8 de setembro de 2021, o Ibovespa derreteu 3,78% e o dólar subiu 2,93%.

Mais tarde, políticos sensatos, tendo à frente o ex-presidente Michel Temer, atuaram como bombeiros. Bolsonaro elogiou os ministros do STF, citando nominalmente Moraes.

Pois bem. Amanhã é sete de setembro. Manifestações bolsonaristas foram convocadas para o Posto Seis da avenida Atlântica, em Copacabana.

O comandante do Primeiro Exército cancelou a parada militar na avenida Presidente Vargas. Mas a Aeronáutica e a Marinha farão exibições nas proximidades do Forte Copacabana.

O Exército comparecerá com uma banda.

Ah, antes que eu me esqueça, Jair Bolsonaro estará presente, após ter presidido o desfile de Brasília.

O grande risco é a manifestação bolsonarista e a cerimônia militar se tornarem um só evento, dando início a uma nova crise, desta vez muito mais grave porque falta menos de um mês para o primeiro turno das eleições e a legislação de campanha está em vigor.

Detalhe complicador: Alexandre de Moraes, o “canalha” dos palanques da Avenida Paulista edição 2021, é o atual presidente STE – Superior Tribunal Eleitoral.

Ivan Sant’Anna – Trader, Escritor e Colunista na Inv


 

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