O último fim de semana foi da seguinte pergunta para os clientes da 123 Milhas: e o que eu faço agora? Se você não faz parte desse grupo, agradeça e aproveita a situação para relembrar o bordão “quando a esmola é grande, o santo desconfia”. Não existe almoço grátis, logo, o que foi criado pelo site como PROMO, foi, de certa forma, uma bolha e ela acaba de estourar.

Conforme Fernando Domingues, coordenador do Startup Lab da ESPM, tanto caso da 123 Milhas quanto o da Hurb tempos atrás, têm um ponto em comum: ambas apostaram em uma estratégia arriscada para enfrentar os efeitos da pandemia da Covid-19 no setor. “As duas apostaram em um retorno do mercado pós-pandemia muito aquecido. De fato, o turismo retornou mais movimentado, porém não o suficiente para dar o retorno esperado para essas plataformas de viagens”, avaliou Domingues.

Fato é que a123 milhas cancelou viagens promocionais, pacotes turísticos previstos para o período de setembro a dezembro jogando a culpa nas “adversidades do mercado”, sem explicar muito bem o que seriam essas adversidades e disponibilizando apenas um e-mail para seus clientes.

“Havia um grande expectativa de que todo o setor de turismo ia realizar ações para estimular o consumo, sobretudo das cias aéreas em baixar os preços das passagens, o que não aconteceu”, destacou Domingues, que lembra que é uma característica do empreendedor apostar em algum tipo de cenário. “A Hurb e a 123 milhas tem como modelo de negócio trabalhar com preços super agressivos, apostando em um boom, só que o setor de turismo possui uma cadeia muito complexa e muito sensível aos fatores econômicos do país”, explicou.

Consumidor – Para Karine Karam, professora de pesquisa e comportamento do consumidor da ESPM, a promessa de viagem, que não tem garantia de reserva, gera um risco para o relacionamento com o consumidor que reflete para todo o setor. “Vive-se uma frustração do cliente e faz o consumidor desconfiar. Quando uma empresa perde a credibilidade, ela transforma todo o setor. Tem todo um efeito no mercado”, afirmou a professora.

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Desconfie do bom e barato

Reportagem do G1 alerta para que consumidores fiquem alertas com esse tipo de promoção para se proteger. “A decisão veio quase três meses após a interrupção de serviços semelhantes da empresa Hurb, e reacendeu o alerta de consumidores sobre viagens superbaratas e com datas distantes e flexíveis.”

Segundo especialistas ouvidos pelo G1, a resposta para a pergunta “devo desconfiar?” é bastante intuitiva: “se os preços em determinado site ou empresa estão muito abaixo em comparação com o resto do mercado, desconfie. Isso não significa, entretanto, que não vá dar certo. Pode até dar. Mas, nesse caso, o cliente assume um risco.”

O professor Gustavo Kloh, da FGV Direito Rio, disse à reportagem que caso um serviço seja oferecido a 20% da média de preços do mercado, por exemplo, essa compra não é considerada segura.

O economista Roberto Kanter, professor de MBAs da FGV, ressaltou à reportagem que é muito difícil que o chamado “bom, bonito e barato” perdure. “Ele se refere ao modelo de negócios que já deu certo tanto na 123 Milhas quanto no Hurb, antes que os problemas operacionais viessem à tona”, diz a publicação.

Para Kanter, “a promessa futura é um risco. O cliente deve estar muito ciente disso. Pessoas voaram, não tiveram problema e pagaram muito barato, mas é um risco”, afirma. “E não se trata de um serviço de má fé. É um problema de operação.”

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(Fontes: ESPM/G1)