A Companhia Vale do Rio Doce (hoje, simplesmente Vale, seguindo a tendência de simplificação dos nomes das empresas) foi fundada no município de Itabira, Minas Gerais, em 1º de junho de 1942, em pleno andamento da Segunda Guerra Mundial.
O motivo pelo qual aquele local foi escolhido é óbvio: ali se localizavam as maiores reservas de minério de ferro do Brasil.
A mina de Carajás, maior do planeta a céu aberto, também da mesma empresa, só seria descoberta duas décadas mais tarde.
Pois bem, a Vale sempre foi uma empresa eficiente. E não tinha como não ser. Sendo o minério de ferro uma commodity extremamente barata, para dar lucro tem de ter um sistema logístico supereficiente.
De Itabira até o porto de Vitória, de onde era exportada a maior parte da produção para o exterior, a Cia. Vale do Rio Doce construiu a Estrada de Ferro Vitória a Minas, então a melhor do Brasil.
Só seria superada mais tarde, em eficiência, pela Estrada de Ferro Carajás, de bitola larga e cujas composições de mais de 300 vagões e três locomotivas levavam o minério da mina até o porto de Itaqui, no Maranhão (uma distância de 892 kms), onde é exportado para os países consumidores, com destaque para a China.
Quando o governo Fernando Henrique Cardoso decidiu implementar um programa de privatização de estatais, optou pelas mais atrativas e também pelas totalmente ineficientes.
A primeira foi a Usiminas, que chegou a ser a usina siderúrgica de maior produtividade do mundo, após ter contratado um programa de reestruturação com a empresa americana Booz Allen Hamilton.
Seguiu-se a Vale.
Desnecessário dizer que essas duas privatizações sofreram forte oposição da esquerda, liderada pelo PT.
Pois bem, apesar de já serem eficientes enquanto estatais, tanto a Usiminas como a Vale, após as privatizações, passaram a recolher de imposto de renda mais do que pagavam de dividendos ao Tesouro quando eram controladas acionariamente pelo governo.
Na área de telecomunicações, as empresas privatizadas passaram a fornecer linhas e conexões de celulares aos usuários, o que deveria ter sido uma coisa óbvia, mas que simplesmente não acontecia.
Linhas telefônicas eram negociadas entre particulares por preços que obrigavam seus proprietários a informarem os valores na declaração de Imposto de Renda.
Havia fila para obtenção de telefones celulares, que ficavam mudos a maior parte do tempo por causa da pequena quantidade de torres retransmissoras.
Durante seus dois primeiros mandatos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda exerceu forte influência na Vale, porque o governo, embora não dispusesse do controle da companhia, usava as ações da tesouraria do BNDES para vetar e escolher presidentes da empresa.
Veio Jair Bolsonaro e, com ele, seu ministro da Economia, Paulo Guedes. Este decidiu diminuir a participação estatal na Vale.
Além disso, os estatutos da empresa sofreram grandes alterações, determinadas pelo Conselho, e o poder de Brasília tornou-se ainda menor.
Lula é um presidente da República que gosta de distribuir renda. Principalmente para os amigos e correligionários.
Na criação do banco dos Brics, pelejou e conseguiu pôr Dilma Rousseff na presidência da instituição, com um salário mensal de 295 mil reais, fora estadias em hotéis e passagens aéreas de primeira classe, das quais a própria Dilma se jacta.
“Eu sou presidente de banco, querida”, ela disse para alguém que a interpelou num voo.
Como seu companheiro Guido Mantega, por decisão do TCU (Tribunal de Contas da União), não pode exercer cargo público, Lula decidiu pô-lo como CEO da Vale. O salário do cargo é de nada menos do que 60 milhões de reais por ano.
Como não logrou êxito em sua exigência (a versão oficial é que Mantega desistiu do cargo), agora está procurando se vingar.
A primeira medida retaliatória é cobrar da Vale R$ 25,7 bilhões pela renovação da concessão das estradas de ferro Carajás e Vitória Minas.
Por essas razões, os investidores estão com medo de aplicar em ações da empresa: VALE3.SA, na B3.
Lula parece que não percebeu que venceu as eleições presidenciais de 2022 por uma diferença de apenas 1,6% sobre seu adversário, e mesmo assim tendo grande parte dos votos sido obtida por rejeição ao oponente do que por um entusiasmo do eleitor por um governo de esquerda, socializante e antiprivatista.
Acredito que boa parte do que está acontecendo se deve ao recesso simultâneo do Legislativo e do Judiciário, dando margens a Lula de pôr as manguinhas de fora.
Logo ele terá de se sentar no colo dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, tal como aconteceu na segunda metade do governo de Jair Bolsonaro e no governo petista até aqui.
Por isso eu acho que os acionistas da Vale devem prestar mais atenção às cotações do minério de ferro nos mercados da China e de Cingapura do que à ânsia do Planalto em pôr seus cupinchas em empresas que já foram controladas por ele, mas não são mais.
Aos meus caros amigos e amigas assinantes leitores, um bom fim de semana.
Ivan Sant’Anna