O Banco UBS lançou recentemente o relatório que traz uma pesquisa de 2023 sobre as empresas familiares de bilionários do mundo e seu processo de sucessão. Nesta pesquisa existem vários dados interessantes para reflexão sobre o processo de transformar a 2ª geração da familia em sucessores.
Pela primeira vez na história temos os fundadores de várias empresas envelhecidos e atuantes com a 2ª, 3ª e até a 4ª gerações disponíveis para assumir o negócio, porém sem o preparo necessário para gerir, operacionalizar e assegurar a longevidade dos negócios.
Além disto, também pela primeira vez, desde que o relatório do UBS começou a ser publicado em 2015, os novos bilionários adquiriram maior riqueza por meio de herança ao invés de empreendedorismo.
Um total de US$ 150,8 bilhões foi herdado por 53 herdeiros, superando o total de US$ 140,7 bilhões dos 84 novos bilionários que se fizeram por si mesmos, criando seus negócios e fazendo-os prosperar.
Quando não se sabe o que significa gerar riqueza, existe um alto risco de consumi-la com baixa responsabilidade, destruindo patrimônio e encerrando negócios longevos até então.
Um bilionário entrevistado no relatório do UBS comentou: “O principal problema com a geração mais jovem é educá-la para ser ambiciosa. Eles não dão valor às ambições, não dão valor a informações empresariais importantes, ao passo que a geração fundadora precisa coletar essas informações por conta própria e tirar o melhor proveito delas.”
Usando a fala acima, percebemos que existe uma desconexão entre o pensamento dos fundadores e as novas gerações.
A falta do diálogo aberto, onde todos estão dispostos a ouvir formas diferentes de enxergar e pensar, ou os vieses inconscientes, impossibilitam resignificar o futuro dos negócios.
Além disto, existe uma visão de que a educação destes herdeiros, ocorrida no exterior, e através de viagens pelo mundo, sem o contato com a realidade do local onde seus negócios existem, distorce os reais problemas que tem para enfrentar, e leva a decisões erradas, com altos prejuízos a longevidade dos negócios.
E qual o cenário brasileiro das empresas familiares ?
Quando aterrissamos o tema de sucessão familiar no Brasil, os desafios exponenciam e trazem questões maiores para o país.
Segundo o IBGE, temos mais de 90% das empresas brasileiras com perfil familiar, respondendo por mais de 50% do PIB nos diversos segmentos de atuação e empregando aproximadamente 75% das pessoas empregadas.
Portanto, uma empresa familiar com uma sucessão malfeita, reduz o patrimônio da familia empresária, desemprega muitos outros pais de familia, gera incremento de gastos para o governo com salário desemprego, insere novos pacientes ao SUS aumentando o custo da saúde pública, e no pior cenário aumenta a judicialização na saúde se houver demanda por tratamentos e remédios caros.
Por isto, educar as gerações desde a infância, sobre economia, sobre governança, sobre política, e, inseri-las dentro do negócio da familia, para conhecer o modelo operacional, o modelo de riscos, o modelo tecnológico, e provocar conversar difíceis sobre mudanças de comportamento, e sobre modelos de enfrentamento do mundo instável e complexo que vivemos, é fundamental para viabilizar a longevidade dos negócios.
Entender que sozinho o fundador não conseguirá garantir a longevidade dos seus negócios, é uma premissa para evitar que a PWC continue publicando números como os relatados em 2023, onde apenas 36% as empresas sobrevivem a segunda geração, 19% sobrevivem a terceira geração e 7% sobrevivem a quarta geração.