O atual cenário macroeconômico do Brasil pode gerar volatilidade no mercado de crédito nos próximos meses, afetando o apetite dos investidores por risco e a demanda por IPOs, follow-ons e debêntures. Segundo Lia Canato, gerente regional de Empresas na WIT Corporate, a situação é influenciada mais por fatores políticos e econômicos locais do que por acontecimentos no exterior. Na entrevista, a especialista recomenda que empresas do setor varejista que enfrentam dificuldades devido a juros altos podem avaliar fontes alternativas de financiamento, renegociar dívidas e reduzir custos operacionais para enfrentar os desafios.

O que esperar do mercado de crédito, com emissão de IPO, follow-on e emissão de debêntures para os próximos meses?
Em relação ao mercado de crédito, podemos esperar uma certa volatilidade nos próximos meses, devido ao atual cenário macroeconômico que enfrentamos. A emissão de IPOs, follow-on e debêntures pode ser afetada pela redução do apetite dos investidores por risco, em decorrência de diversos fatores como a instabilidade política no Brasil, a guerra na Ucrânia e a quebra da cadeia de suprimentos. Isso pode levar a uma maior cautela dos investidores na hora de investir em novos negócios e títulos no mercado de capitais, o que pode afetar a demanda por emissões de ações e debêntures. No entanto, as condições macroeconômicas podem mudar rapidamente, e é possível que novas oportunidades surjam no mercado de crédito nos próximos meses.

Os fatos no exterior, como a aquisição do Credit Suisse pelo Grupo UBS, são mais isolados ou afetam diretamente o setor no Brasil? Como se encontra a situação atual no país?
Os acontecimentos no mercado financeiro global, como a aquisição do Credit Suisse pelo Grupo UBS, podem ter algum impacto mínimo e indireto no setor financeiro brasileiro, mas geralmente são mais isolados e afetam principalmente as empresas e investidores envolvidos nestas transações. A situação econômica e política do país tem um impacto muito maior no mercado financeiro e de crédito local.

No momento, o Brasil enfrenta um cenário econômico desafiador, com altos níveis de endividamento público, inflação crescente e incertezas políticas. Isso pode levar a uma maior volatilidade nos mercados de ações e títulos, bem como a uma maior aversão ao risco por parte dos investidores. Por outro lado, a taxa básica de juros (Selic) tem subido, o que pode ser positivo para os investidores que buscam retornos mais altos.

Além disso, o setor financeiro brasileiro tem enfrentado mudanças significativas nos últimos anos, com a entrada de novos players e a evolução das fintechs, que oferecem serviços financeiros digitais. Isso tem pressionado as instituições financeiras tradicionais a se adaptarem e inovarem, o que pode trazer novas oportunidades e desafios para o setor nos próximos meses e anos.

Qual é a principal preocupação com a diminuição de juros para crédito consignado?
A principal preocupação com a diminuição de juros para crédito consignado é o possível impacto na oferta de crédito por parte dos bancos. Com a redução do teto de juros, os bancos podem achar menos atraente conceder empréstimos consignados, o que pode levar a uma redução na oferta de crédito para aposentados e pensionistas que dependem dessa modalidade.

Outra preocupação é que a redução de juros possa aumentar a inadimplência. Isso pode acontecer porque, em teoria, com juros mais baixos, mais pessoas podem ter acesso ao crédito e contrair empréstimos consignados. No entanto, se essas pessoas não conseguirem pagar o empréstimo, a inadimplência pode aumentar.

Por fim, a redução de juros pode ter impacto sobre os resultados financeiros dos bancos que atuam nesse mercado. Com juros mais baixos, os bancos podem ter uma margem de lucro menor, o que pode afetar seus resultados e sua capacidade de conceder crédito.

O segmento de varejo está passando por dificuldades com juros elevados, atividade fraca e o cenário global instável. De que forma as empresas podem agir neste momento, principalmente as que necessitam de crédito?
Acredito que as empresas que necessitam de crédito neste momento podem adotar algumas medidas para enfrentar o cenário atual. Uma delas é avaliar as fontes de financiamento disponíveis no mercado e escolher aquela que melhor atenda às suas necessidades. É importante lembrar que, apesar das taxas de juros elevadas, ainda existem alternativas para obtenção de crédito, como empréstimos bancários, emissão de títulos e capitalização de recursos próprios.

Outra medida importante é a renegociação de dívidas com os credores, buscando melhores condições de pagamento, como prazos mais longos e juros menores. Além disso, as empresas podem buscar formas de reduzir seus custos operacionais, cortando despesas não essenciais e revisando contratos com fornecedores.

Além disso, outra alternativa é a busca por novos mercados para expandir as atividades e aumentar as vendas. A diversificação da linha de produtos e a entrada em novos segmentos de mercado podem ajudar a reduzir a dependência de um único produto ou mercado.

Essas são algumas das medidas que as empresas podem adotar neste momento para enfrentar as dificuldades no segmento de varejo. É importante ressaltar que a situação atual exige uma análise cuidadosa e estratégica por parte das empresas, visando garantir a sua sobrevivência e manter a sustentabilidade do negócio.

Existe risco de Credit Crunch no Brasil?
O risco de um Credit Crunch no Brasil é uma possibilidade que não pode ser descartada. Credit Crunch é um fenômeno que ocorre quando os bancos passam a restringir o crédito devido a uma situação de incerteza econômica ou financeira. Isso pode acontecer quando os bancos enfrentam dificuldades financeiras, perdem a confiança nos seus credores ou têm receio de emprestar dinheiro devido ao alto risco de inadimplência.

É importante destacar que a elevação da taxa de juros pelo Banco Central do país pode ter impacto no mercado de crédito, especialmente para empresas e indivíduos com menor capacidade de pagamento. Além disso, a instabilidade política e a crise econômica decorrente da pandemia da COVID-19 podem gerar pressão no mercado financeiro e dificultar a obtenção de crédito. Portanto, é necessário monitorar de perto a evolução da situação econômica e política no país para avaliar possíveis riscos de Credit Crunch no futuro.

O que pode acontecer caso os bancos recuem em relação ao fornecimento de crédito no Brasil? Essa desaceleração de crédito pode reduzir o crescimento das empresas e, consequentemente, da economia como um todo? Como?
Caso os bancos recuem em relação ao fornecimento de crédito no Brasil, pode ocorrer uma desaceleração do crescimento econômico do país. Isso porque o crédito é um importante fator para o investimento e o crescimento das empresas, além de ser fundamental para o consumo das famílias. A falta de acesso ao crédito pode afetar negativamente a capacidade das empresas de investir em novos projetos, expandir seus negócios e gerar empregos, o que pode levar a uma desaceleração do crescimento econômico.

A redução do crédito pode ter impacto negativo na confiança dos consumidores e empresários, reduzindo a demanda por bens e serviços e gerando uma retração da economia como um todo. O cenário pode ser ainda mais preocupante em momentos de crise econômica, quando a disponibilidade de crédito é crucial para a recuperação econômica.

Portanto, é importante que os bancos mantenham a oferta de crédito em níveis adequados para garantir o crescimento sustentável da economia e evitar impactos negativos sobre a atividade econômica e o bem-estar da população. Ao mesmo tempo, é importante que os tomadores de crédito sejam responsáveis e planejem adequadamente suas dívidas para evitar inadimplência e riscos financeiros.

A alta da inadimplência e do endividamento deve reduzir ainda mais a oferta de crédito? Como isso pode afetar a taxa de juros?
Sim, a inadimplência e o endividamento elevado podem causar um aumento do risco percebido pelos bancos, que passarão a exigir taxas de juros maiores para cobrir esse risco. Isso pode gerar um ciclo vicioso de redução da oferta de crédito, aumento das taxas de juros e diminuição do crescimento econômico.

É importante ressaltar que a inadimplência e o endividamento excessivo podem ser indicadores de problemas estruturais da economia, que devem ser tratados com políticas públicas e reformas estruturais para reduzir esses problemas e aumentar a oferta de crédito de forma sustentável.

Quais oportunidades são geradas com a crise do mercado de crédito?
A crise do mercado de crédito pode trazer algumas oportunidades para os investidores e empresas. Uma das principais oportunidades é a aquisição de ativos com descontos significativos, principalmente de empresas com potencial de crescimento a longo prazo. Além disso, a crise pode levar à consolidação do mercado, com empresas menores sendo adquiridas por empresas maiores e mais estabelecidas.

Outra oportunidade pode ser a oferta de produtos e serviços financeiros alternativos para suprir a demanda que não está sendo atendida pelos bancos tradicionais. Essa lacuna pode ser preenchida por empresas de tecnologia financeira, as chamadas fintechs, que oferecem produtos e serviços financeiros inovadores e com taxas mais competitivas.

Por fim, a crise do mercado de crédito pode levar a uma maior conscientização sobre a importância do gerenciamento financeiro e da gestão de riscos, tanto para os investidores quanto para as empresas. Isso pode levar a uma maior demanda por serviços de consultoria financeira e gestão de riscos, bem como a uma maior adoção de práticas financeiras saudáveis.

De acordo com o Serasa Experian, o número de falências de empresas avançou 56,5% em janeiro de 2023, em relação ao mesmo mês do ano passado. É possível saber como e quando a saúde financeira das empresas será recuperada, mesmo com a continuação da taxa de juros em patamar elevado?
A recuperação da saúde financeira das empresas pode ser um processo demorado e depende de diversos fatores, incluindo a melhoria da economia em geral, a redução das taxas de juros, a retomada do consumo e a oferta de crédito. É importante lembrar que a manutenção da taxa básica de juros em patamares elevados pode afetar a capacidade das empresas de acessar recursos financeiros e custo de oportunidade para investimentos e expansão.

Vale ressaltar que a recuperação econômica em geral pode ser um processo gradual e depende da adoção de políticas públicas que incentivem o investimento e a criação de empregos. A retomada do crescimento pode levar algum tempo, mas é importante que as empresas estejam preparadas para aproveitar as oportunidades que surgirem e se adaptarem às novas condições do mercado.

Como as empresas podem ser mais transparentes com os investidores em relação à divulgação de balanços, diferentemente do caso Americanas?
A transparência é fundamental na relação entre empresas e investidores, especialmente quando se trata da divulgação de balanços financeiros. É importante que as empresas adotem uma postura proativa nesse sentido, divulgando informações claras e precisas que possam ser facilmente compreendidas pelos investidores.

Uma das medidas que pode ser adotada pelas empresas é a divulgação frequente de relatórios financeiros, que permitam acompanhar de perto a saúde financeira da empresa. Esses relatórios devem ser produzidos de forma clara e objetiva, evitando jargões técnicos e complexos que possam dificultar o entendimento por parte dos investidores.

É importante que as empresas adotem uma postura ética e transparente em relação às suas operações financeiras. Isso significa evitar práticas que possam ser consideradas fraudulentas ou antiéticas, como a manipulação de resultados ou a ocultação de informações importantes.

No caso específico da Americanas, a empresa foi criticada por investidores por ter divulgado seus resultados financeiros de forma confusa e pouco transparente. Para evitar esse tipo de problema, é fundamental que as empresas sejam claras e objetivas em relação às suas finanças, evitando qualquer tipo de ambiguidade que possa prejudicar a relação com os investidores.

O aumento de liquidez realizado por ação coordenada pelo Fed, Banco do Canadá, Banco da Inglaterra, Banco do Japão e Banco Central Europeu, pode contribuir para as empresas dos países citados? Há chances do Brasil agir dessa forma? Se sim, como impactaria o setor de varejista brasileiro e a solicitação de crédito por parte das empresas?
Certamente, o aumento de liquidez promovido pelos bancos centrais pode trazer benefícios para as empresas desses países, reduzindo as pressões financeiras e permitindo uma maior disponibilidade de crédito, mas é importante destacar que essa medida não é uma solução para todos os problemas econômicos. Além disso, é preciso considerar que essa injeção de dinheiro pode ter consequências inflacionárias, aumentando os preços de bens e serviços e prejudicando o poder de compra da população.

No contexto brasileiro, não é possível afirmar se o país adotará medidas semelhantes, mas é importante lembrar que o Banco Central do Brasil já promoveu pacotes de estímulos em decorrência da pandemia da COVID-19, como a redução da taxa básica de juros e a implementação de programas de financiamento para empresas.

No entanto, é importante destacar que essas medidas têm um impacto parcial no setor varejista brasileiro e na solicitação de crédito por parte das empresas, uma vez que o acesso ao crédito no país é limitado em comparação com outros países. Portanto, para que essas ações sejam efetivas, é necessário que outras medidas sejam adotadas para aumentar a disponibilidade de crédito e estimular a economia.

Texto: Imprensa WIT Corporate/Edição: Cátia Chagas

Lia Canato | Gerente regional de empresas na WIT Corporate – Gerente Regional de Empresas na WIT Corporate, tem experiência de 30 anos no mercado financeiro, passando por grandes bancos como Unibanco, Hsbc e Santander, com experiência em gestão de pessoas e negócios, foco no cliente e qualidade. Atualmente, está à frente dos negócios e produtos financeiros na WIT, um escritório especializado no atendimento de médias e grandes empresas.
Por acreditar na grande importância do Capital Humano em nossos negócios , minha formação acadêmica está voltada a gestão de pessoas, com MBA em relacionamento Interpessoal, possuo cursos especializados como Análise de Crédito, técnicas de vendas , negócios internacionais, Gestão de Pessoas, avaliações de desempenho e competências, gestão de High performance, também sou certificada nos principais órgãos financeiros como CPA 20, Ancord e Fbb100.