A Presidência da República dispõe de uma aeronave Airbus A319CJ para uso de Lula em suas viagens nacionais e internacionais. Ao ser adquirido, o avião recebeu um apelido: Aerolula.

Seu antecessor, um Boeing 707, que com o passar do tempo passou a ser conhecido como Sucatão, serviu aos presidentes José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula no início de seu primeiro mandato.

O Sucatão andou dando alguns sustos, alguns deles sem motivo relevante.

Com Sarney a bordo, arremeteu no aeroporto JFK, em Nova York. A razão para tal procedimento foi porque a aeronave à frente do 707 demorou a sair da pista após o pouso.

Boas razões para se assustar teve Marco Maciel, vice de FHC, quando um dos motores do Sucatão pegou fogo no ar no dia 16 de dezembro de 1999.

Antes disso, Collor, que de bobo não tinha nada, preferia reservar toda a primeira classe de um voo de carreira quando precisava voar para o exterior.

Enfim, não se pode criticar o presidente Luiz Inácio por querer trocar de aeronave.

Aliás, o Aerolula serve a um propósito, mas é extremamente inadequado para outro fim.

Se, por exemplo, o presidente vai inaugurar o recapeamento de uma rodovia no Rio Grande do Norte (já que lhe faltam grandes obras) ele leva em sua comitiva, além de dois ou três ministros, alguns políticos locais. Para estes, chegar em sua terra a bordo do avião presidencial é sinal de prestígio e vai render ao escolhido um bom número de votos na eleição seguinte.

Para longos voos internacionais, como a recente visita de Lula à China, o avião é problema.

Antes de mais nada, tem de fazer duas ou três escalas técnicas (para reabastecimento). Outro inconveniente é a distribuição dos lugares.

Lula e Janja ficam numa suíte próxima ao cockpit, suíte esta que dispõe de todos os confortos, como toalete com chuveiro, leito de casal, duas poltronas, telão, internet etc.

Um pouco mais atrás, já fora dos “aposentos” privados presidenciais, há dois conjuntos com quatro poltronas cada um, que permitem a Luiz Inácio conversar com seus caronas e despachar com ministros e outras autoridades.

O contratempo é que, à medida em que a cabine de passageiros avança para a traseira, os assentos vão piorando até que os últimos ocupantes, lá na cauda, chegam a ficar mais de 20 horas (a viagem à China demorou 27 na ida e 27 na volta) sentados numa poltrona de dog class, que é como eu costumo denominar a classe econômica dos aviões de carreira.

Para determinar quem se senta aonde, os encarregados do cerimonial da Presidência têm de lidar com a inevitável ciumeira.

Basta que um senador acomodado numa poltrona equivalente à da classe executiva de um voo comercial enxergue um deputado (ainda mais se for um deputado de um partido de menor expressão) escarrapachado em um assento de primeira para externar todo seu aborrecimento com o “desprestígio”.

Na tal viagem à China, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, foi uma das autoridades que recusou o convite presidencial.

“Vinte e sete horas para lá, vinte e sete horas para cá, dois dias na China. Tô fora.” E preferiu ficar aqui governando o Brasil, como é de seu hábito mesmo quando Lula está presente.

Agora a Presidência e o Ministério da Aeronáutica estão escolhendo um novo avião presidencial.

Dois critérios serão decisivos nessa seleção:

– Uma aeronave que possa fazer voos de grande duração sem necessidade de fazer escalas incômodas.

– Configuração dos assentos de modo a minimizar os desagrados dos convidados. Alguém vai se sentir desprestigiado. Isso é inevitável. Mas que seja o menor número possível. Infelizmente não dá para que cada um disponha de uma suíte. Aí, só se a comitiva começar a ir de navio.

O presidente da Argentina (só podia ser da Argentina) Carlos Menem (1930-2021) não deixou por menos. Durante seu governo, adquiriu um Jumbo (Boeing 747), que lá tem o nome de Tango Uno, para se locomover oficialmente.

É lógico que uma de suas primeiras viagens foi à Brasília. E de Brasília foi a São Paulo levando jornalistas como convidados.

Mais tarde, como não poderia deixar de ser, o governo portenho não teve como sustentar o mastodonte e precisou vendê-lo.

Quem tem bala para voar de Jumbo é o presidente dos Estados Unidos. Trata-se de um 747 especialmente concebido para o titular da Casa Branca e que dispõe, inclusive, de lançadores de mísseis defensivos.

O presidente da França, Emmanuel Macron, voa pela Air France. O Papa Francisco, assim como seus antecessores, pela Alitalia, hoje sucedida pela ITA.

Já o todo poderoso Xi Jinping usa não mais do que um Boeing 737-800, que leva o nome de Força Aérea 3701.

Nenhum deles se equipara ao multibilionário saudita, príncipe Alwaleed bin Talal, que tem um Boeing 747 particular.

Minha opinião é que Lula deveria se locomover num cargueiro Embraer C-390 especialmente adaptado para servir como avião presidencial. Assim ele faria propaganda de nossa indústria aeronáutica. E não é um aviãozinho qualquer. Custa 425 milhões de reais.

Um ótimo fim de semana para todos.

Ivan Sant’Anna

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