Quem foi que dormiu com esse barulho no mercado financeiro na noite de terça-feira (28)? O assunto Nubank (ROXO34) superou Itaú (ITUB4) ganhou as redes sociais e manchetes de economia. Com a alta de 3,84% em Nova York na terça-feira, o “roxinho” passou o bancão “feito pra você”.
O valor de mercado da fintech somou R$ 297 bilhões, enquanto o do Itaú ficou em R$ 288 bilhões, segundo dados da Elos Ayta Consultoria. O Acionista conversou com alguns analistas sobre o assunto.
Nubank ganha mais força no mercado internacional, diz analista
No exterior, a aposta é no crescimento que o Nubank poderá atingir, em especial no México. Por aqui, reside em sua capacidade de extrair mais receitas da base de clientes. Como o Nubank praticamente não cobra taxas e tarifas, analistas apontam que a via é a concessão de crédito, com uma diversidade maior de linhas que o cartão de crédito.
Para Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital, o Itaú e Nubank caminham em posições pouco opostas em relação a outros bancos.
“O Nubank está ganhando cada vez mais força no mercado internacional, se tornando um grande banco da América Latina. Mais clientes e números também bem robustos. Os últimos resultados do Nubank foram expressivos. O Itaú, apesar de agradar em seus números os resultados, as projeções para curto prazo não tem cenário de alta, até porque o setor bancário está um pouco comprometido, assim como o nosso Ibovespa, que está um pouco comprometido com essas indecisões ainda fiscais em relação à política de juros no Brasil”, comenta.
No entanto,Carvalho diz que ambos são excelentes para poder investir, principalmente para longo prazo. “Mas ainda no momento atual daria um pouco mais de atenção para o Banco do Brasil e, claro, olhando para o lado de uma BDR e um Banco Tec, o Nubank parece bem promissor para voltar à sua máxima histórica”, comenta o analista.
1T24
No primeiro trimestre, o Nubank teve lucro líquido de US$ 378,8 milhões, equivalente a R$ 1,952 bilhão, e um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) de 23%. O Itaú teve resultado de R$ 9,771 bilhões no mesmo período, com ROE de 21,9%. Os números, porém, não são diretamente comparáveis: o Itaú tem licenças bancárias, o que gera maiores exigências de capital, além de atuar em um espectro mais amplo de atividades do que o Nubank.
Crescimento – A carteira de crédito do Nubank, em dólares, cresceu 87% entre o primeiro trimestre de 2023 e o mesmo período deste ano, para US$ 9,7 bilhões, sendo que a maior parte deste total está no Brasil, embora a fintech não detalhe quanto vem de cada país. Neste mesmo período, o crédito do Sistema Financeiro Nacional teve alta de 8,2%, para R$ 5,806 trilhões, de acordo com o Banco Central.
O efeito disso é o índice de inadimplência, que no caso do banco digital era de 6,3% em março, contra 4,5% do crédito livre no país. O Nubank tem dito que a prioridade é crescer e não controlar os atrasos, uma visão que os investidores que olham para a tese no exterior chancelam.
No começo do mês, o Nubank atingiu a marca de 100 milhões de clientes em suas três operações: Brasil, México e Colômbia. São 92 milhões de clientes em solo brasileiro, quase 7 milhões no México e cerca de 1 milhão na Colômbia.
“O sucesso do Nubank valida sua estratégia”
O Nubank divulgou um desempenho excepcional para o primeiro trimestre de 2024, segundo o Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos.O lucro registrou um aumento notável de 167% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Para ele, com o resultado desses desempenhos, aliados às flutuações do mercado, o Nubank superou o Itaú em termos de capitalização de mercado. “Este movimento decorre de uma valorização de 40% das ações do Nubank acumuladas apenas em 2024, enquanto o Itaú enfrentou uma desvalorização de aproximadamente 2% no mesmo período.”
O sucesso do Nubank valida sua estratégia de alavancagem operacional, defende Boragini. Entretanto, o especialista considera que é prematuro comparar diretamente o Nubank com o Itaú, um banco consolidado com eficiência operacional e histórico comprovado de resultados sólidos.
“Enquanto bancos incumbentes como o Itaú têm uma vantagem no curto prazo devido à sua estrutura física estabelecida, as fintechs como o Nubank podem oferecer valor a longo prazo devido à sua agilidade e inovação.”
Golias segue Golias – Para Boragini, mesmo que o Nubank demonstre um crescimento impressionante, “o Itaú continua a ser uma força dominante no setor bancário devido à sua longa história e capacidade comprovada de adaptação. Portanto, é essencial considerar os diferentes horizontes de tempo e modelos de negócios ao comparar essas instituições”.
O tradicional e o popular
O assessor na iHUB Investimentos, Lucas Sharau, ressalta que o Itaú é uma empresa tradicional do mercado financeiro brasileiro, “é um banco tradicionalíssimo com muitos anos de mercado, resultados sólidos, consistentes, lucro líquido recorrente na ordem de grandeza de R$ 9,8 bilhões, um return over equity, o ROE, de 21.9% no primeiro trimestre de 2024”.
Sharau considera interessante colocar do lado o Nubank, que nesse primeiro trimestre chegou a uma avaliação de mercado de 58 bilhões de dólares. No câmbio de hoje (29/5) equivale aproximadamente a R$ 299,2 bilhões contra o valor eixo atualizado do preço de mercado do Itaú, que está em R$ 288,6 bilhões.
“Vamos pegar aqui algumas das diferenças. As ações do Nubank são listadas na bolsa americana, são emitidas lá fora em dólares, então, portanto, o valor de mercado, o valor negociado pelo Nubank, tem ali alguma influência do dólar, uma vez que se compra hoje ações do banco, compra em dólares, o dólar subiu, as ações tendem a subir, não é uma regra, mas eles sofrem essa sensibilidade do dólar”, comenta.
Para o assessor da iHub, o Nubank tem características de uma startup, uma empresa de tecnologia, “e como tal, no momento atual que vivemos, em que nós temos uma tendência de corte de juros no mundo inteiro, é o momento em que as big techs, as techs, as empresas de tecnologia, elas tendem a ter uma valorização maior. E o Nubank não fica fora disso. Ele já vem numa toada, num galope crescimento ao longo dos anos vem se multiplicando por várias vezes”.
Conforme Sharau, como a carteira de crédito do Nubank cresceu 87% em um ano, esse é um dos principais indicadores de que o Nubank é uma empresa que está muito forte em seu crescimento.
“Ela está prestando serviços no Brasil e além do Brasil ela também está no México e na Colômbia. E vendo esse mercado de Mercosul, de América Latina, é visto que o mercado vai absorver, tem muito espaço ainda para que ela possa crescer. Um outro fator que também leva a esse resultado é o perfil de investidores. Os investidores hoje que optam pelo Nubank são investidores de bancos da ordem digital, é um fintech.”
O perfil do cliente “roxinho”
Para o assessor da iHub, perfil de cliente que opta por investir através de uma fintech contra um banco tradicionalíssimo, é um investidor um pouco mais arrojado, é um investidor mais pessoa física, com valores menores, com um pouquinho mais de apetite, não só a risco, mas a outros produtos do mercado. Então ele tende a buscar uma diversificação maior.
“Começando na parte de renda fixa, pelo fato do Nubank oferecer soluções ao estado da arte, para investimentos de caixa e pessoa física, para esse dinheiro do dia-a-dia, mas também a porta de entrada para mercados um pouco mais robustos, como por exemplo o mercado de ações, títulos de crédito bancário, crédito privado, títulos públicos e demais, ofertas de produto. Comparando entre um e o outro, a expectativa que se gera é que o Nubank, por ser uma fintech, demanda menos custos operacionais para fazer a venda de seus produtos e serviços. Por um outro lado, o Itaú Unibanco, um banco tradicionalíssimo, com pessoas com mais idade, mais conservadoras, você tem menores margens nos produtos, então os produtos deixam uma receita ao banco um pouco menor”, explica Lucas Sharau.
Além disso, o Itaú tem uma diversificação nos portfólios um pouco menor, também pelo fato de ter clientes menos arrojados, mais conservadores, dentro de bancos mais tradicionalíssimos.
“E tudo isso impacta nas expectativas sobre os ganhos que cada uma dessas duas instituições vão ter no futuro. Uma na escalabilidade e maiores margens, e do outro lado você tem o maior custo operacional pelo fato de você ter que ter um profissional pra falar, pra ligar, pra conversar. E tudo isso impacta nessa mudança que a gente vê no mercado.
Digitalização – Outro tópico que também é importante, segundo o assessor, é a inovação e digitalização do Nubank. “A gente vê que os bancos tradicionalíssimos, apesar de investirem em tecnologia e desenvolvimento, eles ainda estão muito aquém de empresas como o Nubank. Até mesmo o próprio aplicativo do Nubank, se você perguntar dentro do mercado, ele é considerado estado da arte em produtos e serviços financeiros e foi pioneiro e facilitou o acesso bancário, a bancarização de pessoas que outra hora não haviam a possibilidade de ingressar.”
Além disso, para Sharau, a performance da ação do Nubank foi uma performance muito positiva em relação, principalmente quando comparado com as ações do Itaú. “Só que para a gente ter uma leve comparação, em 2024 as ações do Nubank subiram uma ordem de 46% contra as ações do Itaú que no mesmo período tiveram uma desvalorização de 3,2%.”
Entusiasmo do mercado
“Muito do mercado de bolsa é expectativa, entusiasmo, é corrida dos investidores, é campanha, tem uma série de fatores, muitos deles intangíveis, muitas vezes não tem fato, objetivo que justifique essa corrida pelo papel, pela participação na empresa”, destaca Lucas Sharau.
Além disso, o Nubank está com uma estratégia muito agressiva de expansão em mercados como o México e Colômbia. E isso é uma estratégia crucial para o crescimento deles explorando outros mercados, para o assessor da IHub.
“Pegando outros mercados com mais força, dominando mercados em que não há concorrentes fortes, você vê uma maior penetração de mercado e, consequentemente, maiores margens de resultados e, consequentemente, uma custódia maior sobre gestão da Nubank.”
Por fim, Sharau acredita que o Nubank pode trazer um futuro muito promissor no momento econômico que se está vivendo.
“Momento econômico em que nós teremos um corte de juros, os juros do mundo tendem a cair, e tudo isso para os bancos é muito positivo porque os bancos se financiam muitas das vezes utilizando Os juros, o crédito através de tesouro selic, através de títulos públicos, para que eles financiem suas operações e emprestem dinheiro às pessoas. E também o crédito na outra ponta, para as pessoas, ficando mais barato”, explica.
Dessa forma, os bancos tendem a ter mais demanda por crédito e, consequentemente, as suas margens e os seus volumes aumentam. “E nesse momento é esperado, pelo menos que o mercado esteja sinalizando, que o Nubank tenha um crescimento mais acelerado, mais forte e lucrativo do que o Itaú.”