Caro Investidor!

O ano é novo, mas o cenário turbulento  ‘ainda está aqui’ e não concorreu a nenhuma premiação, pelo contrário. O Ibovespa encerrou dezembro com o pior desempenho trimestral (-9%) desde o segundo trimestre de 2022, a partir de uma série de acontecimentos que tiraram o Brasil do radar dos investidores. 

Conforme o BB Investimentos, o desfecho das eleições nos EUA contribuiu com grande parte do movimento de reprecificação dos ativos, com forte impacto no câmbio e nas perspectivas de inflação global. “Além da piora do cenário para os países emergentes como um todo, no Brasil, a questão em torno das perspectivas no campo fiscal adicionaram volatilidade aos ativos, com elevação dos prêmios de risco”, comentam os analistas.

Além disso, em dezembro, o cenário de política monetária também apresentou uma mudança significativa a partir da alta da Selic e da sinalização do Copom de mais duas altas no mesmo patamar.  De acordo com os analistas do BB, esse movimento desencadeou uma série de revisões altistas do juro nominal no Brasil, com consequente impacto na curva de juros futuros. 

“A conjunção desses fatores no encerramento do trimestre deixou o mercado bastante disfuncional, com grande impacto na bolsa, que somou as quedas a um grande volume transacionado, sinal de que o Brasil tem saído do radar dos investidores, uma situação que não deve ser revertida no curtíssimo prazo, em nossa avaliação”, comentam.

2025

“Ao mesmo tempo em que é razoável esperar um respiro no começo de 2025, dado que os eventos mais relevantes parecem ter sido precificados, por outro lado nos preocupa a possibilidade do início de uma onda de revisões de lucro das empresas para baixo, antecipando o que pode ser um ano mais fraco e com margens mais apertadas”, afirmam os analistas do BB.

Segundo eles, caso essa perspectiva se estenda para o próximo biênio, “o piso que geralmente notamos nas avaliações das empresas iria para um patamar abaixo, desencadeando revisões no preço-alvo do Ibovespa. Importante lembrar que ainda não vislumbramos esse quadro”, ressaltam. 

Perspectiva

Assim, nesse cenário, os analistas do BB acreditam ser mais prudente iniciar o ano com portfólios mais defensivos, continuando a privilegiar a qualidade das empresas e, ao mesmo tempo, tentando capturar a maior exposição aos movimentos mais recentes do câmbio. 

“Assim, optamos apenas por uma alteração em nossa carteira fundamentalista, com a saída da Vale (VALE3), por acreditamos ser uma tese mais desgastada para 2025 dadas as perspectivas para o mercado chinês menos animadoras, dando espaço para retornarmos com WEG (WEGE3) entre as indicações.

Investimentos

Para Junior Reginatto, Head da Mesa de Renda Variável da Nippur Finance, o mercado vai se ajustar em algum momento. “Teremos uma reprecificação de vários ativos que tiveram um 2024 bastante duro. Historicamente, os momentos que ninguém quer saber de alocar em bolsas, se provaram ser os momentos mais adequados quando se olha a longo prazo. Então, para quem tem disponibilidade, fazer os aportes e ir montando uma carteira com bastante seletividade, com certeza vai ter bons frutos ali na frente quando tudo isso se normalizar.”

Mais bolsa

Falar sobre a bolsa brasileira é um dos pontos mais difíceis, segundo Acilio Marinello, sócio-fundador da Essentia Consulting. Segundo ele, é um momento de muita volatilidade, “principalmente pela questão doméstica, todo esse trâmite do governo em relação a trazer mais confiança para os investidores sobre o controle dos gastos públicos, a busca do déficit zero, as ações que estão tendo e com o pacote de corte de gastos, tem influenciado bastante a bolsa, tem afugentado grandes investidores e motiva uma grande saída de dólares no Brasil e pressionado o câmbio”, comenta.

Entretanto, por outro lado, o especialista acredita que surgem muitas oportunidades. “A bolsa tem apresentado papéis com grande potencial de ganho que estão bastante acessíveis, tão baratos e isso pode ir dependendo das ações do governo”, disse Marinello.

Ele ressalta que o governo, com a nova liderança do Banco Central também com a política monetária, pode dar alguns incentivos adicionais para trazer de volta alguns investidores e valorizar a bolsa. 

“Há dois fatores principais para influenciar na performance da bolsa. Primeiro, a confiança interna, que o governo tem papel preponderante para isso e, segundo, depois toda a questão global, a geopolítica, os conflitos, como que vai ser a postura do Trump na liderança, assumindo o novo mandato como presidente, as questões comerciais envolvendo o China, os países do BRICS”.

Para Marinello, a questão geopolítica também pode influenciar. “Mesmo assim,penso que o peso ainda está maior aqui na nossa cozinha, na questão doméstica. Então, se tiver uma continuidade nas reformas econômicas e maior estabilidade política, isso deve atrair novamente os investidores. Alguns setores vão continuar fragilizados, devido a altas taxas de juros, mas as empresas exportadoras, por outro lado, podem se favorecer devido ao câmbio estar num patamar bastante elevado, o que pode trazer oportunidades de ampliar suas exportações e aumentar a sua receita.”