Quero começar a minha reflexão aqui alertando que não estou falando de pessoas que foram efetivamente diagnosticadas com transtornos de ansiedade, depressão e burnout. Eu não sou um profissional da saúde, então não posso aconselhar pessoas que estão em sofrimento. Acontece que em tempos de positividade tóxica e discursos vazios de influenciadores, eu percebo uma tendência de tratar o estresse como um grande vilão da modernidade. Como se fosse possível viver sem ele.

Então já me adianto: é impossível imaginar uma vida sem estresse e ansiedade, pois ambos os estados emocionais são naturalmente humanos. Eles são importantes para a nossa sobrevivência. Quando o nosso corpo detecta situações ameaçadoras, ele ativa sistemas de luta e fuga no cérebro, que liberam hormônios que permitem agir rapidamente. Meu organismo libera adrenalina para me avisar que estou exagerando na velocidade do pedal, mas também para me alertar que uma vizinhança escura não é o melhor lugar para eu estar sozinho.

Como o trabalho é muito importante na nossa sociedade, o estresse também está presente em nosso dia a dia, pois sinaliza que algo exige nossa atenção ou precisa ser resolvido. Viver sem nenhum nível de ansiedade, por exemplo, significaria estar indiferente às situações que importam. Ninguém quer viver dessa maneira. Mais do que apenas lidar com essas emoções desconfortáveis, eu acredito que é possível aprender com elas e ainda crescer.

Para enfrentar com maturidade as sensações que estresse e ansiedade nos causam, é necessário aprender a reconhecer os gatilhos e entender as nossas prioridades. Esse processo de descoberta leva ao autoconhecimento. A partir desse mal-estar gerado será possível compreender o que está em jogo, ameaçando nossa segurança, reconhecimento e realização pessoal. 

Talvez você descubra que será preciso uma melhor gestão do tempo para focar no essencial. O estresse pode indicar que você tem mais responsabilidades do que pode assumir e que será preciso dizer “não” para algumas possibilidades. Mas também pode ser que você perceba que está lhe faltando inteligência emocional para gerenciar emoções intensas. Com calma e reações proporcionais, grandes problemas podem se tornar pequenos obstáculos a serem ultrapassados. Essa compreensão pode ainda torná-lo um profissional mais compreensível. De forma geral, um ser humano mais empático.

Em situações muito difíceis, aquelas que a vida nos apresenta de vez em quando, talvez realmente não seja possível resolver as coisas. Então, o estresse e a ansiedade se transformam em verdadeiros professores de resiliência. Sabe quando os nossos avós diziam que “o que não tem remédio, remediado está”? Até isso é importante aprendermos. Nas situações mais desafiadoras de nossas vidas, nós desenvolvemos fibra emocional. Cada adversidade superada traz mais força para seguir adiante.

Na minha opinião, temos que parar de temer o estresse e aprender a canalizá-lo de forma positiva. Comprovadamente, times e pessoas funcionam melhor com um certo grau de estresse, que eu traduziria como pressão ou cobrança. A tendência natural do ser humano é se acomodar – e não há nada errado com isso – mas você produz quando algo te desafia.

Vou fazer uma analogia bem maluca. Imagine alguém falando o seguinte: “Bruno, ou você corre 5 quilômetros no máximo que você puder e seu batimento cardíaco tem que ficar em 180 bpm; ou vou te dar um tiro. É estressante, mas você vai se superar para correr.

Vamos fazer outro exercício e recordar março de 2020: imagine que o mundo está enfrentando uma ameaça sanitária global na forma de um vírus e ninguém sente medo. Todo mundo andando pelas ruas sem estresse e ninguém com ansiedade pelos desafios humanitários e econômicos que viveríamos futuramente. Nós teríamos vacinas? Nós teríamos criado condições para que o trabalho pudesse ser feito remotamente? Aqueles sentimentos horríveis impulsionaram a humanidade a se adaptar. Isso é evolução.

Existe um termo que caracteriza o estresse positivo: ele é conhecido como “eustresse”. Nessas situações, estresse e ansiedade se tornam aliados da concentração e da motivação sem prejuízos à saúde. Para reconhecer o “eustresse”, você deve avaliar se as suas reações são passageiras, ou seja, se duram o tempo necessário para a resolução de alguma questão importante. Também é preciso verificar se são respostas proporcionais e controláveis. Não dá para surtar toda vez que o leite derramar.

Um certo nível de ansiedade pode ajudar a aumentar a produtividade, melhorar o desempenho nas tarefas, fomentar o crescimento pessoal e a criatividade e ainda estimular o aprendizado. Ele não tem relação alguma com noites de insônia, dores de cabeça, tensões musculares e problemas digestivos, por exemplo.

Para lidar com situações desafiadoras na sua vida, eu aconselho planejamento e organização, mas também uma boa dose de resiliência emocional para entender que não podemos controlar tudo e algumas dificuldades na vida são inevitáveis. Também é importante praticar o autocuidado com alimentação regrada e exercícios físicos. E, por fim, procure ajuda profissional. Da próxima vez que estiver ansioso, pense que é uma oportunidade para reencontrar propósito e significado na vida.

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