Como mero exercício de retórica, vamos imaginar um chef de cozinha que volta e meia deixa torrar o grelhado, excede no sal e economiza drasticamente no açúcar em suas sobremesas. Quem faz isso pode, inadvertidamente, jogar água no chope e azedar a maionese também. Para completar o cenário, vislumbre esse mesmo chef lançar mão de sofismas tentando argumentar que o seu é o melhor restaurante da cidade e quem não estiver satisfeito com o cardápio que vá pra bem longe, comer outros ingredientes – se os encontrar.
Pesadelo de um bom gourmet, a ficção acima só ficaria mais indigesta se tal exercício mental fosse transposto a outros campos que não o da cozinha nossa de cada dia. A política, que muitos tipos excêntricos abriga, é sempre rica em exemplos – de toda ordem – e cabe tomar este emprestado. Nos últimos tempos, a bem da verdade, o Brasil pode ser classificado de muitas coisas, menos de um lugar monótono. Há histórias críveis, reais e outras nem tanto.
Pensando no ambiente de negócios, necessariamente atrelado à economia e à política central, é de se esperar que conviva com um cenário político dinâmico mas o clima precisa ser (obrigatoriamente!) de respeito – às leis, à ética e, se não for pedir muito, aos bons costumes também, ainda que publicamente. Os Poderes da República se afrontando, de forma aberta ou velada, não ajudam em nada. O braço-de-ferro jogado pra torcida ver começa a preocupar no curto prazo.
Três experientes executivos ouvidos pela Coluna, dos setores financeiro, metalúrgico e automotivo, manifestaram preocupação com o noticiário da semana que teve depoente preso na CPI da Covid, nota dos comandantes militares, novas suspeitas de corrupção e, claro, o presidente da República ganhando manchetes com ataques chulos a senadores e, depois, com novas agressões verbais a uma jornalista. Mais que isso, reiterou a desconfiança com as urnas eletrônicas (as mesmas que o legitimaram no Palácio do Planalto) e ameaçou não realizar o pleito em 2022.
Não à toa, investidores começam a se afastar desse imbróglio e na turbulenta semana que passou o Ibovespa caiu, acumulando revés de 1,72% (e 1,08% negativo no mês). Após três meses de bonança (com entradas de recursos superando as retiradas), os pregões de julho já mostram saldo negativo de R$ 1 BI. Na avaliação dos executivos ouvidos, isso tende a se estabilizar no médio e longo prazos, mas são de opinião que no curtíssimo prazo (“pra ontem”) é imprescindível que o dono da bola pare o jogo por instantes, coloque a bola embaixo do braço e reúna as equipes para organizar a bagunça e restabelecer a confiança.
NA LONA
Com a economia do país na lona, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, aceitou reunir-se com a oposição liderada por Juan Guaidó. O encontro está previsto para ocorrer no México, no próximo mês.
De acordo com o Observatório Venezuelano de Finanças, a inflação acumulada neste ano é 155,3%. E o desemprego, termômetro socioeconômico de fundamental importância, bate na casa dos 44% (algo como três vezes o índice registrado no Brasil).
B3
O número de investidores Pessoa Física na Bolsa brasileira, a B3, cresceu 1,4% em junho, para 3,8 milhões. Comparado a igual período do ano passado, houve crescimento de 43%.
O número de companhas listadas, por sua vez, aumentou 12,6%, somando 439 companhias no encerramento de junho último.
ÍNDICES
Na quinta-feira, último dia de pregão (devido ao feriado paulista de 9 de julho, na sexta), o Ibovespa registrou 125.427 pontos. Embora tenha levado um tombo de 1,72% na semana, no ano ainda é positivo em 5,39%.
Já o índice Small Caps, que caiu 3% na semana, tem acumulado valorização de 8,74% no ano (com 3.069 pontos).
POUP
De acordo com a Economática, que deu exclusividade do estudo a jornalistas, a poupança acumula queda de poder aquisitivo pelo décimo mês consecutivo atingindo a marca de -6,26%. A queda não era registrada desde outubro de 1991.
Em 2021, até junho, os índices de Small Caps, de BDRs e o Ibovespa têm rentabilidade acima da inflação. Já o ouro tem o pior desempenho anualizado desde março de 2017. Nos períodos analisados, o índice de Small Caps foi a melhor opção.
INFLAÇÃO
A inflação medida pelo IPCA no mês de junho é de 0,53%, o acumulado em 12 meses está em 8,35% e no ano (2021) é de 3,77%.
CAPTAÇÕES
Os Fundos de Investimento captaram R$ 206 BI no primeiro semestre do ano, tendo à frente os de renda fixa (98,9 BI) seguido por Multimercados (81,4 BI). Informação é da Anbima, que registra um recorde ao superar os R$ 166, 4 BI do mesmo período de 2019.
M&A SAÚDE
Por conta do feriado estadual de SP, o pregão da B3 não funcionou na última sexta mas o mercado se movimentou. A Dasa, por exemplo, anunciou a aquisição do Hospital Paraná, em Maringá (PR), em comunicado ao mercado. A companhia pretende montar uma rede integrada naquele estado.
A Rede D´Or, por seu turno, também anunciou no mesmo dia a aquisição de 51% das ações do Proncor, colocando um pezinho no Mato Grosso do Sul.
M&A AMBIENTAL
A Ambipar, empresa listada em Bolsa, partiu para sua 17ª aquisição desde o IPO (em julho de 2020). Desta vez foi a SABI Tech, empresa de atendimento emergencial em modal rodoviário, líder de mercado na Colômbia. Com isto, a companhia passa a ter 14 bases estrategicamente localizadas nas principais rotas e em pontos com histórico de acidentes no país.
O novo braço da Ambipar atua há 17 anos na região e também opera sistema de gerenciamento de risco e rastreamento total dos caminhões. No ano passado, a SABI faturou US$ 4,3 milhões.
DEBÊNTURES
No fechamento do mercado de quinta-feira, 8, a BRK Ambiental avisou que vai emitir R$ 200 milhões em debêntures, com prazo de cinco anos. O processo será objeto de oferta pública, com esforços restritos.
Esta é a nona emissão de debêntures simples da companhia.
RATING
A Fitch, agência de classificação de risco, rebaixou o rating da AES Tietê de AA+ para AA. Motivo é o impacto negativo que o cenário hidrológico gera no país, com a consequente deterioração da estrutura de capital.
NET-ZERO
O Banco Bradesco afirmou o compromisso de descarbonizar suas carteiras de crédito e investimento até 2050, “ou antes, de acordo com cenários científicos e metas do Acordo de Paris sobre o Clima”. Em comunicado ao mercado, anunciou ainda que se tornou o primeiro banco brasileiro a aderir ao Net-Zero Banking Alliance (NZB A) da UNEP FI (braço financeiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). “A iniciativa reforça a gestão climática e a ambição do Bradesco de financiar a transição para uma economia mais limpa, eficiente e resiliente”, diz a nota.
NEUTRALIDADE
A Cia. Hering antecipou em dois anos a sua meta de neutralização das emissões de gases de efeito estufa e, a partir de 2021, torna-se uma empresa carbono neutro. A estratégia, informada à imprensa, será levada para os produtos da companhia também: a marca Hering anuncia a negativação da pegada de carbono do seu produto principal, a camiseta World, que está completando 30 anos. A compensação será realizada pela MOSS, uma das maiores plataformas globais de crédito de carbono.
TAMANHO
Tim Adams, diretor-executivo do Instituto de Finança Internacional (IIF, na sigla em inglês), estima o mercado de crédito de carbono voluntário com “elevado potencial de crescimento”. Informação é da Época Negócios, que ainda acrescenta: o setor poderia chegar a US$ 100 bilhões ao ano, até 2050, segundo cálculos de Adams.
DIVERSIDADE
A Rede Brasil do Pacto Global da ONU, a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo com mais de 16 mil membros em 160 países, anuncia apoio ao Pacto de Promoção da Equidade Racial, programa a ser criado pela Associação de Promoção da Equidade Racial, uma entidade privada e sem fins lucrativos formada por mais de 140 empresas e grandes nomes do mercado brasileiro.
Com isso, o Protocolo ESG no Brasil deverá endereçar a questão racial em suas ações sociais, destacou o site de Plurale na última semana.
“O Pacto de Promoção da Equidade Racial é um poderoso instrumento para promover mudanças sociais fundamentais para o Brasil. Entendemos que estamos diante de uma excelente oportunidade para adotarmos, definitivamente, novos caminhos e estabelecer o equilíbrio racial como uma premissa básica”, disse Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU.
PRÊMIO
A Suzano, empresa fabricante de bioprodutos desenvolvidos a partir do cultivo de eucalipto, foi reconhecida na terceira edição do World Finance Sustainability Awards 2021, por desenvolver projetos e esforços ambientais, sociais e de governança – as práticas ESG. O evento é realizado pela World Finance, destacada publicação do setor financeiro e economia global.
A brasileira ficou entre as 30 empresas avaliadas pelo compromisso com investimentos anuais em ESG, considerando-se a conformidade da companhia em relação ao Acordo de Paris, aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e à TCFD – Task Force on Climate Related Financial Disclosures, com base em seu Relatório Anual.
PARQUE
No próximo dia 18 ocorrerá o maior evento de mobilização pelas Unidades de Conservação no Brasil, com um propósito: despertar a consciência ambiental dos brasileiros. “Um Dia No Parque” é uma campanha da Coalizão Pró-Unidades de Conservação da Natureza, que promove anualmente atividades especiais de contato com a natureza em áreas protegidas de todo o país.
Este ano, porém, o evento será em formato online, em razão das restrições impostas pela pandemia. A programação está disponível no site https://umdianoparque.net/
OBSERVATÓRIO
Ampliar o diálogo entre a sociedade e a comunidade de pesquisadores, a fim de atender às necessidades reais da população, é um dos objetivos do Observatório de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, lançado neste mês, em Curitiba (PR), pelo Núcleo de Prática de Pesquisa (NPP) do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental (PPGAmb) da Universidade Positivo (UP).
ARTIGO
Os 5 pontos de reflexão sobre a diversidade nos Conselhos de Administração
(*) Paulo Lima
A diversidade é importante e faz bem. Grupos de pessoas tendem a obter melhores resultados de desempenho quando possuem diversidade em sua composição. Não há a predominância de um único cenário de avaliação ou visão que, em alguns casos, pode limitaro sucesso de uma decisão por não considerar outras oportunidades e riscos.
Quando se aborda o tema diversidade, é preciso entender que há alguns tipos existentes: diversidade de gênero, etnia, idade, cultura, competências, formação acadêmica e outros.Nos últimos tempos, houve uma intensificaçãodo debate sobre a importância da diversidade na composição dos conselhos de administração, o que é uma ótima notícia.
A diversidade de gênero, por exemplo, é um tema que tem obtido mais destaque quando se fala em boas práticas de governança corporativa e de composição dos conselhos. É fato que a presença feminina nos boards brasileiros ainda é muito baixa. De acordo com um levantamento do Spencer Stuart Board Index de 2020, somente 11,5% dos assentos dos conselhos de administração brasileiros são ocupados por mulheres.
Esta realidade mostra que o caminho a percorrer ainda é longo. Em 2019, este mesmo percentual era de 10,5%. O cenário tem mostrado alguma evolução, mesmo que ainda bem tímida. Porém, há empresas que já entenderam a importância da diversidade na composição dos seus conselhos de administração e gradativamente começam a fazer a transição para um colegiado mais heterogêneo, especialmente na questão de gênero.
A seguir, conheça 05 pontos de reflexão que são importantes para as organizações na avaliação da diversidade na composição dos conselhos de administração:
- A diversidade proporciona maior riqueza de contribuição nas salas dos conselhos. Colegiados com diversidade abrem espaço para mais criatividade, maior amplitude de visão, inovação e melhor qualidade na avaliação de cenários em suas decisões;
- Colegiados com boa diversidade têm mais chances de decidirem melhor. O efeito manada nem sempre é positivo nos conselhos de administração. Pelo contrário, pode levar a decisões equivocadas por ocasião da limitação de visão e percepção da realidade, pois sem uma boa diversidade há o risco de haver mais “pontos cegos” nas decisões colegiadas;
- A diversidade de gênero tende a trazer mais equilíbrio emocional e bom senso nos processos decisórios. As decisões não são 100% racionais. O aspecto comportamental é importante para se obter as melhores decisões nos conselhos de administração e a presença feminina contribui para o alcance desse equilíbrio, principalmente em temas que envolvem a avaliação de riscos;
- Conselhos de administração que valorizam a diversidade em sua composição são mais abertos ao contraditório. A interação entre os conselheiros tende a ser melhor, até mesmo pela necessidade de se discutir os efeitos e impactos de opiniões diferentes sobre o que será deliberado. Isso é importante para criar uma cultura de “pensar fora da caixa” como algo positivo para o colegiado e para a organização;
- Diversidade é um importante item para se construir conselhos de administração funcionais e mais produtivos. Colegiados homogêneos ou com pouca diversidade tendem a ter um desempenho menos eficaz. A diversidade promove a complementaridade de conhecimentos e experiências e isso faz muita diferença na qualidade dos processos decisórios do colegiado.
(*) Paulo Rogério dos Santos Lima é mestre em Administração pela PUC-SP e possui MBA em Governança Corporativa pela FIPECAFI-USP. Foi dretor de Governança Corporativa e Conteúdo Digital da Atlas Governance, consultor em governança corporativa da Corpgroup Consultoria e Especialista em Governança Corporativa na Concessionária do Aeroporto Internacional de Guarulhos – GRU Airport.