O desafio de liderar a área de Relações com Investidores da Dexco – uma empresa com 70 anos de história, 14 mil colaboradores e listada nos mais importantes índices da bolsa de valores brasileira, foi assumido durante a pandemia por Natasha Utescher, 31 anos. De coordenadora passou a gerente, em em outubro de 2020, quando trouxe mais duas analistas mulheres para o time e reduziu a diversidade a zero, conforme brinca. Tornou uma área de RI da empresa totalmente feminina – o que provavelmente seja inédito no Brasil.

Até há pouco tempo dominado por homens, o mercado financeiro e de capitais no Brasil tem se “rendido” à presença de mulheres em todas as áreas. Não só nos ambientes profissionais – haja vista o trabalho do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI), da qual Natasha é diretora, de onde nasceu o IBRI Mulheres (organização parceira do Mulheres em Ação). E, especialmente, entre os investidores. Nos últimos anos, o número de mulheres investidoras cresce em ritmo robusto. No início deste ano, a B3 contabilizou 1,15 milhão CPFs “femininos” cadastrados, um incremento de 36% entre 2020 e 2021.

Natasha Utescher conversou comigo no início deste ano. Meses após ter assumido a gerência de RI da Dexco, e de ter sido a única mulher a vencer o Prêmio APIMEC IBRI nos dois anos da premiação. Ela venceu como melhor profissional de Relações com Investidores (small e middle cap) do 2º Prêmio APIMEC IBRI 2021. Natasha é atuante em organizações em prol do desenvolvimento do mercado financeiro e de capitais. É Diretora Vice-Presidente do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores)..

Ao que você atribui a premiação melhor profissional de RI e o que representa para você?

A pandemia foi muito impactante no setor em que atuo – a área de Relações com Investidores. E ser a única mulher indicada, em um mercado com pouquíssimas mulheres, reforça a relevância em representar por público feminino.

Acredito que a premiação reconhece o fato de ter conseguido estruturar um time de RI “legal”, fazer entregas consistentes, materiais melhores, e ter conseguindo manter os investidores presentes e interessados na companhia durante o período pandêmico. Entre nossos investidores, 40% é minoritário, destes a maior parte é estrangeira, mais de 70%.

Qual foi sua jornada até a Dexco?

Me formei em Direito, trabalhei grande parte da faculdade com direito tributário e, ao final do percurso, iniciei na Cielo, em 2014, como trainee. Passei por vários departamentos com relação à área financeira. Fiz cursos no setor e uma pós-graduação. Depois de um período, surgiu a oportunidade de atuar como Analista de Relações com Investidores Pleno na Klabin. 2015 Já era Analista Sênior. A experiência foi muito importante para mim, consegui aprender o operacional da área de RI e com o tempo fui participando de reuniões com investidores, fazendo conferências, inclusive internacionais.

Em quatro anos de atuação na área, onde comecei do básico, fui convidada pra vir pra Duratex, agora Dexco, no cargo de coordenadora. Era um time pequeno. Foi um período de bastante mudanças, e no começo de pandemia, o gerente foi trabalhar na Deca, e eu assumi a área. Fui promovida a gerente em outubro. Trouxe mais duas analistas – só tem mulher no meu time. Eu tinha preferência por trazer mulher e muita vontade de ter um time mais feminino. Até entrevistei homens, mas acabamos ficando com um time formado por mim e duas analistas sêniores.

Como foi o dia a dia e quais foram os desafios da área de RI durante a pandemia?

Os profissionais de RI sempre fizeram muita conferência online e por telefone. Mas uma mudança importante trazida pela pandemia foi a realização dos eventos, que eram presenciais, apesar de termos o hábito de gravar. Portanto, diante da pandemia, a oportunidade de contato presencial que tinhamos com os eventos foi a zero, e tivemos que adotar ainda mais as formas online de contato.

Eu acho que a primeira adaptação que tivemos foi esta: não ter mais a conferência presencial. E a diferença é muito notória. O presencial faz focar naquilo, ver o rosto dos investidores e profissionais que acompanham a empresa, se comunicar via linguagem corporal. A troca é muito melhor. Eu senti muita falta disso neste período todo. Porém, acho que o modelo híbrido deve prevalecer. Mas o presencial é bem importante, para qualquer relacionamento.

Além disso, o RI teve que se adaptar a muita coisa, se adaptar a trabalhar online foi a parte mais simples, apesar do contato com os investidores ficar distante. O mais complicado foram as incertezas que a pandemia trouxe, a ausência de previsibilidade no começo era algo muito tenso, gerou uma necessidade de transparência muito grande.

Eu considero que o RI tem que passar a informação da forma mais transparente possível. Ele é o canal que os investidores, especialmente os minoritários têm dentro da empresa, especialmente em momentos em que as notícias ruins se fazem presentes. E a pandemia trouxe esta necessidade de falar notícia ruim. O caso da Dexco, por exemplo, fechamos todas as fábricas em um determinado momento. E foi requerido um “skills” a mais para passar tranquilidade e reafirmar nossa postura transparente diante dos fatos. Pontos muito desafiadores.

Como você vê hoje este período que, podemos dizer, está mais próximo do fim?

Foram os dois melhores anos da história da companhia. O setor bombou, e a Dexco teve uma gestão ótima da crise, a diretoria se organizou muito. Mas o cenário pandêmico não passou, ainda gera incerteza. Mas já estamos mais adaptados a lidar com isso, os protocolos de segurança já estão feitos. Gera um certo conforto.

Vejo que, neste ano, o maior desafio para nós e pra todos é o cenário eleitoral, com uma macroeconomia muito desafiadora, as incertezas prevalecem em todos os pontos. Diante disso, este ano, para os RIs, o desafio será como expor sua estratégia frente a um momento em que o mercado está mais interessado no que está por vir no cenário macro.

Quem é a Natasha fora da Dexco e do IBRI?

Sou de uma família de mulheres. Meu pai faleceu há 15 anos. Hoje minha vida é com meu noivo e meu cachorro e com meus hobbies, um deles viajar e outro fazer esportes. Além disso, sempre fiz trabalho voluntário. Antes da pandemia, era voluntária da ONG Cidadão para o Mundo, dando aula de inglês gratuitamente.

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