Caro Investidor!

O melhor bordão para dezembro que poderia ser adaptado à macroeconomia é “melhor esperar sentado”. Isso porque, em se tratando do cenário global, Donald Trump venceu as eleições nos EUA, o FED cortou a taxa de juros; dois acontecimentos de novembro que não surpreenderam e que já estavam precificados; as medidas do governo chinês não empolgaram muito; e por aqui, além da Taxa Selic ter a segunda alta consecutiva, o IPCA-15, prévia do índice da inflação veio acima das expectativas. E a cereja do bolo foi o pacote fiscal que, enfim, foi apresentado pela equipe econômica do governo na última quarta (27) e detalhada no dia seguinte.

O primeiro impacto imediato do pacote foi a descolada meteórica do dólar, fechando na máxima histórica de R$ 6 na quarta; R$ 5,98 na quinta, com a bolsa em queda de mais de 2%. O mercado ainda não engoliu o pacote, que muitos está indigesto. Soma-se a isso que já se sabe que a Selic deve seguir no ritmo de alta na mais preocupante ‘segura inflação’, em pleno mês em que o consumo aumenta consideravelmente.

O Brasil e a vitória do Trump

A principal surpresa das apurações das eleições dos EUA foi a conquista de uma maioria republicana no Congresso. “Em decorrência disso, devemos esperar políticas comerciais substancialmente mais protecionistas por parte dos EUA, que pode implementar uma tarifa global de 10% sobre todas as importações. Apesar do baixo impacto estimado no PIB brasileiro, na ordem de 0,07%, é de se esperar que este impacto seja mais sentido nos setores exportadores, em particular o minério de ferro, que seria afetado diretamente pela tarifa com os EUA e também indiretamente com o arrefecimento da siderurgia chinesa, setor no qual Trump planeja impor tarifas de 60% (atualmente em 25%)”, diz relatório do Inter.

No câmbio, a visão dos analistas é de incerteza. “A vitória de Trump trouxe uma apreciação imediata do dólar frente aos emergentes, porém este efeito pode se inverter a médio prazo caso o presidente eleito intervenha na decisão de política monetária do Fed, intensificando os ataques que já foram feitos no primeiro mandato. Reiteramos, ainda, que os períodos de força global do dólar são historicamente sujeitos à reversão da média.”

FED

Após o corte de 50 p.b. na taxa de juros dos EUA pelo Fed, há investidores divididos quanto ao como se posicionar e a leitura após a fala de Powell ao mercado. depois do corte, os índices norte-americanos chegaram a ter alta forte, batendo máximas históricas, para então voltarem a patamares próximos à estabilidade, em seguida subirem cerca de 1% e encerrarem o dia com queda de cerca de 0,3%.

“Os movimentos confirmam as expectativas unânimes de que, independentemente do que fosse decidido, a única certeza é que teríamos ainda muita volatilidade. O índice VIX continua operando próximo aos vinte pontos, indicando a presença de uma maior incerteza no mercado”, comentam os analistas do Inter.

Há uma parcela do mercado que olha os dados com mais moderação, apostando que o soft landing é possível, com a inflação caminhando em direção à meta, enquanto a economia segue resiliente, apesar de desacelerar. “Para estes, o corte de 50 p.b. foi visto com um movimento mais agressivo, podendo trazer uma flexibilização desnecessária e podendo trazer pressões inflacionárias novamente.”

Mercado de ações

Falando do mercado local, Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, acredita que ele segue em um compasso de espera, o que pode ser um pouco angustiante. “Não estamos vendo uma queda forte, mas sim uma queda contínua, que já dura vários meses. Temos juros em alta, bolsa em baixa e dólar oscilando, mas tendendo a subir. Isso muito em razão da vitória do Trump.” 

Após as eleições, viu-se um fortalecimento do dólar e até da bolsa S&P 500, o que trouxe uma perspectiva de mais investimentos no exterior. “Apesar de termos uma avaliação que a bolsa americana está cara, o que muitos gestores apontam é que há poucas alternativas viáveis. Mercados emergentes, por exemplo, estão enfrentando riscos elevados ou permanecem pouco atrativos em termos de retorno.”

Entretanto, segundo Cunha, por outro lado, na bolsa brasileira, sempre quando vem chegando o final do ano, muita gente fala do “rally de final de ano”. “A gente teve isso em 2023 e também existe uma expectativa da gente ter isso em 2024. Isso porque nossa bolsa está depreciada há muito tempo. Assim, pode surgir um movimento de investidores em busca de barganhas, aproveitando que ações, fundos imobiliários e títulos estão todos descontados.”

Mas, de acordo com ele, para que esse movimento aconteça, precisa-se de algum ‘Trigger’. “Enquanto as discussões sobre a revisão de gastos seguem sendo adiadas, a única possibilidade que vejo seria alguma solução nesse sentido. Caso contrário, o mercado deve continuar andando de lado e arrastando-se até a virada do ano.”

Commodities e agro –  O mercado ainda vai precisar se ajustar nos próximos dias em relação ao Pacote Fiscal do governo anunciado nesta semana. 

Para Acilio Marinello, sócio-fundador da  Essentia Consulting, as ações sofrem com volatilidade pressionando a bolsa, com a inflação, com os dados do IPCA que veio acima do esperado e a taxa de juros que vai aumentar.

“Neste caso, abre-se para o capital estrangeiro; mais dólar no mercado; mais investimentos, porque a bolsa está barata”, disse.

Em relação aos setores macros da economia que podem ter mais sucesso na bolsa em dezembro, Acilio projeta que as empresas de produtos de commodities e do agro, que logo vem o período das safras de grãos, devem apresentar melhores performances. “Outras que devem se beneficiar são as empresas varejistas, porque dezembro aumentam as vendas de Natal que já emenda com a Black Friday, o consumo de fim de ano é maior”.

Esperança no Ibovespa

Para Alex Falararo, CGA, Estrategista de Investimentos do PagBank*,  assim como o mercado de juros, o mercado de ações tem estado à mercê das notícias sobre política fiscal nos últimos tempos. “Além disso, as expectativas por um crescimento menor na China, nosso principal parceiro comercial, tem afetado as expectativas sobre o setor de commodities globalmente.” 

Sendo assim, há esperança de alguma recuperação nos níveis de pontos do Ibovespa, mas para alcançar o preço alvo definido por muitos analistas – acima dos 140 mil pontos – é preciso ter o melhor mês de dezembro dos últimos 10 anos. 

“Isso talvez só fosse possível com um super corte de gastos, que reduziria a expectativa de juros e se recebêssemos boas notícias de estímulos na China, que traria uma sobrevida às commodities e poderia até ajudar na recuperação do preço do petróleo e do minério de ferro que tem alta correlação com nossa bolsa”, comenta Falararo. 

(*) As opiniões emitidas são de responsabilidade exclusiva do analista certificado. O PagBank não tem qualquer responsabilidade por tais opiniões.  

Carteira da Ágora

A carteira recomendada Top 10 da Ágora para dezembro teve uma alteração, os analistas retiraram as ações ON da Eneva (ENEV3) e incluíram as ações PNB da Eletrobras (ELET6). 

“Neste mês, optamos por uma troca entre ações do mesmo setor. Passada a temporada dos resultados do 3T24, vemos direcionadores de curto prazo limitados para a Eneva e, por isso, optamos pela inclusão da Eletrobras, papel que nos parece mais atrativo do ponto de vista do valuation. Com a alteração o Beta da carteira passou de 1,08 para 1,14.” 

Recomendações: BTG Pactual BPAC11; Cyrela CYRE3; EcoRodovias ECOR3; Eletrobras Energia Elétrica ELET6, JBS JBSS3; Localiza RENT3; Petrobras PETR4; Sabesp SBSP3; Telefônica Brasil VIVT3; Vale (VALE3).

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