Há alguns dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva andou se intrometendo na direção da Vale, querendo substituir o atual diretor-presidente, Eduardo Bartolomeu, por seu ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também dirigiu a pasta durante o governo Dilma Rousseff.

Convém dizer que a Vale é uma das maiores empresas brasileiras em valor de mercado (a colocação varia de acordo com as cotações na B3).

No âmbito mundial, a Vale também está nos primeiros lugares no ranking das grandes e mais produtivas mineradoras do mundo.

A razão pela qual Lula está tentando pôr Mantega num cargo importante, e ultra bem remunerado, é que não quer “deixar o amigo na chuva”.

Acho que, se pudesse, Guido seria nomeado ministro, ou para outra função pública, mas foi impedido de exercê-las por oito anos pelo Tribunal de Contas da União, por causa das pedaladas fiscais durante o governo Dilma Rousseff. Essa punição só termina em fevereiro de 2030.

Acontece que Guido Mantega jamais dirigiu uma empresa e a sua condução logo para uma das maiores seria uma irresponsabilidade.

A Vale é uma sociedade privada, mas tem entre os seus maiores acionistas a Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil), com 8,7% de participação e uma cadeira no Conselho de Administração da mineradora.

Acredito que os demais grandes acionistas não deverão aceitar a indicação, mas poderão nomear Guido Mantega para o Conselho, onde poderá receber uma ótima remuneração.

É assim que os presidentes brasileiros mais recentes têm se comportado. Logo no início de seu mandato, Jair Bolsonaro, por exemplo, quis nomear seu filho Eduardo como embaixador nos Estados Unidos.

Seu argumento foi “para os meus filhos, o filé mignon”. A nomeação, que deveria receber o agreement do governo Donald Trump, de quem Eduardo Bolsonaro era adepto fanático, acabou não existindo por medo do presidente ter sua indicação recusada pela Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal.

Já vai longe o tempo no qual os governantes nomeavam seus ministros e principais ocupantes de cargos públicos de acordo com a sua competência para a função.

De alguns anos para cá, principalmente após a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil tem um arcabouço parlamentarista e um sistema de governo presidencialista.

De vez em quando, eles conseguem nomear um correligionário ou amigo sem que estes nada tenham a ver com o cargo que irão ocupar. Só para dar dois exemplos, Jair Bolsonaro nomeou para ministro do meio ambiente Ricardo Salles, que era a favor do desmatamento. Sim, aquele que, numa reunião ministerial, disse que era o momento de se aproveitar que todo mundo estava preocupado com a Covid para “deixar a boiada passar.”

Lula não é muito diferente. Acaba de nomear para ministro do Turismo o deputado Celso Sabino, por indicação do União Brasil, sem que o novo ocupante da função jamais tenha atuado na área.

Cada vez mais, o mercado de ações se deixa influenciar menos por essas decisões, pois já se acostumou com elas.

O maior problema desses ministros e outras autoridades inadequadas para suas funções é que eles normalmente trocam todos os funcionários de confiança de seus ministérios, autarquias e empresas públicas.

O Executivo federal brasileiro conta com 22,5 mil funcionários ocupando cargos comissionados, contra quatro mil nos Estados Unidos e apenas 300 no Reino Unido.

Aqui, quando o governo muda, muda todo mundo que tem alguma importância na administração. Isso em nível federal, estadual e municipal.

Uma grande vitória da modernidade foi a independência do Banco Central do Brasil, votada pelo Congresso Nacional, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em 2021 e contestada quase todos os dias pelo presidente Lula.

Só que a inflação caiu consideravelmente em 2023 por causa da taxa Selic que chegou até 13,75%. Não fosse isso, ela (a inflação) provavelmente ainda estaria na faixa dos dois dígitos.

Na reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil),  encerrada na última quarta-feira, o ciclo iniciou uma trajetória de baixa, sendo reduzida pelo colegiado para 13,25% ao ano, uma queda de meio ponto, confirmando as expectativas mais dovish.

Trata-se da primeira redução em três anos, quando os juros caíram para uma mínima histórica de 2%, por ocasião da recessão causada pela epidemia de Covid-19.

Segundo a Bloomberg, Brazil Beat the World to Rate Hikes. Now, It ‘s Leading on Rate Cuts.” (O Brasil bate o mundo na elevação das taxas de juros. Agora está liderando nos cortes.)

Tal como escrevi na “Mercadores da Noite” da semana passada, o mercado de ações já tinha como certo essa redução. A única dúvida era se a queda seria de 0,25%, que eu considerei como hawkish, ou de 50%, que classifiquei como dovish.

Por enquanto, as taxas de juros de renda fixa ainda estão muito atraentes, mas geralmente o mercado costuma se antecipar às novas tendências.

É o que deverá ocorrer nas próximas semanas.

Um ótimo fim de semana para todos os leitores e ouvintes.

Ivan Sant’Anna

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