Dicionário informal: Jabuti (emenda parlamentar que modifica um projeto de lei em discussão de forma a alterar ou distorcer seu objetivo original).
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Normalmente o mercado brasileiro estaria hoje atento ao desfecho da reunião do FOMC (sigla em inglês para Comitê de Mercado Aberto do FED), que definirá se o aumento da taxa básica de juros nos Estados Unidos será de 0,50% ou 0,75% e se a Reserva Federal tem algum alvo (target) para o fim do atual ciclo de aperto monetário.
Mas não.
A B3 está de olho apenas nos eventos que estão acontecendo em Brasília, tanto no Gabinete de Transição como no Congresso Nacional.
Ontem, para desalento do mercado, o presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o nome de seu companheiro de partido, Aloizio Mercadante, para a presidência do BNDES.
Lula não deveria ter feito isso, pois a Lei das Estatais, aprovada em 2016, durante o governo Michel Temer, estabelece uma quarentena de 36 meses para a diretoria de estatais de pessoas que fizeram parte de grupos de “estruturação e realização de campanha eleitoral”, perfil que cabe como uma luva em Mercadante.
O que o futuro presidente não disse é que sabia que, horas mais tarde, a Câmara dos Deputados, sob a batuta de Arthur Lira, iria encaixar um jabuti num projeto de lei que tratava de gastos publicitários de empresas públicas, jabuti esse que, num passe de mágica, reduziu a quarentena de 36 meses para, acreditem, 30 dias.
Como quase todos os políticos têm interesse em pôr seus apadrinhados nas estatais, a lei (com o jabuti incluso, é óbvio) foi aprovada por 314 votos a favor e apenas 66 contra.
Dito isso, acho melhor os analistas e traders de mercado darem um tempo na análise do resultado das empresas e nas definições de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos e prestarem mais atenção no que acontece nas cuias do Congresso em plena calada da noite.
Um forte abraço,
Ivan Sant’Anna
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