Quando Maria Rita Spina Bueno, fundadora da Anjos do Brasil e criadora do MIA (Mulheres Investidoras Anjos), entrou no mercado de venture capital, os debates sobre diversidade dentro do ecossistema de tecnologia e inovação tinham um público pequeno, composto principalmente por mulheres. No segundo dia do South Summit Brazil 2023, na quinta passada (30), o cenário é outro: a plateia estava cheia e composta também por homens.
“Se a gente quer falar de inovação, precisamos de diversidade não só de gênero, mas de raça. Gente igual pensa igual”, afirma no painel “Woman Paving the Way for Other Woman: The importance of Female Representation in Finance”, onde foi acompanhada por outras investidoras de diferentes perfis.
O caminho que leva outras mulheres ao empreendedorismo e ao capital de risco ainda está em pavimentação e o momento é pelo engajamento pela causa. Ana Martins, sócia do Atlantico, que investe em startups na América Latina, começou a carreira em investimentos quando estava no segundo ano da graduação. Na carreira, dois foram os desafios: além de mulher, é jovem. Ana encontrou suporte entre os outros cinco empresários que estavam com ela no fundo. “Um deles dizia que iria me ajudar a ‘hackear o sistema’, para eu colocar os pontos que me importavam para quem está do outro lado da mesa.”.
O espaço das mulheres no mercado de tecnologia e inovação, que começou a ser aberto por mulheres como Maria Rita e conta com a presença de jovens como Ana Martins, tem também uma série de outras investidoras. Livia Brando, diretora de venture capital na VOX Capital, explica sobre os fundos que lidera: “O nosso foco é de impacto. Nós olhamos para além de gênero, mas para o impacto com um recorte também de raça”. A percepção é que há mais empreendedoras nas fases iniciais de uma startup, mas o número se reduz em séries A e B. “Precisamos levá-las a alcançar estágios avançados em suas empresas”.
Mulheres e negócios
Esse movimento de mulheres em negócios dá uma atenção maior também às consumidoras.. “É importante entender que as mulheres são 50% da população e que o mercado voltado para elas existe. Ter pessoas na mesa com experiência sobre esses produtos é importante”, lembra Ana Martins. Quando ela recebeu em mãos a carteira da Sallve, marca de produtos sustentáveis para cuidados com a pele, os seus sócios enxergavam poucas chances de seguir com a negociação. Mas, como mulher, Martins entendeu o potencial da empresa e pediu duas semanas para estudar o investimento. “É o negócio de que mais me orgulho.”
Com experiência de anos na área de tecnologia e inovação, Maria Rita aponta que, “por mais que você consiga se mover nesse ambiente com a maioria de homens, cansa. E com isso nosso potencial pode passar despercebido e ser difícil usar a própria voz”. Para melhorar esse cenário surgem os fundos de investimento e vagas afirmativas voltadas para investidoras e empreendedoras. “São poucas mulheres na área de investimentos, mas isso está crescendo. Mais mulheres dão o cheque, por mais que seja um ecossistema fechado e difícil de entrar”, complementa Livia Brando.
Texto: Comunicação South Summit/Edição: Cátia Chagas