Apenas 11% dos brasileiros trabalha em home office desde o início da pandemia do Coronavírus em março de 2020. E neste grupo, 56,1% são mulheres brancas e escolarizadas. O nível de escolarização de 74,6% do público total pesquisado, portanto, incluindo homens, está classificado como superior completo ou pós-graduação. A atuação no setor privado também chama a atenção, são 63%. A idade é mais variada e segue a população economicamente ativa, se sobrepondo os 31,8% com idades entre 30 e 39 anos, 25% entre 40 e 49 anos e 20,6% entre 20 e 29 anos.

O percentual das pessoas em home office representa 8,2 milhões de pessoas frente a 74 milhões que seguiram realizando suas atividades normalmente mesmo durante o cenário e as condições pandêmicas. Há ainda grupos de afastados por diferentes razões que se sobrepõem aos trabalhadores em home office.

O estudo do Ipea também traz um recorte por regiões. A maior concentração de pessoas em trabalho remoto está no Sudeste (58,2%), com 4,7 milhões de trabalhadores. A região é seguida pelo Nordeste, com 16,3%, e pelo Sul, com 14,5%. E segundo destaque do Terra, em todos os Estados percebe-se a predominância feminina no trabalho remoto, ainda que os homens sejam a maioria das pessoas ocupadas e não afastadas. No Maranhão, por exemplo, em média 36,3% das pessoas ocupadas e não afastadas eram mulheres, contudo elas representam 63,2% das pessoas em home office.

Olhar e refletir sobre este fato, trazido pela Pesquisa Nacional por Amostra de de Domicílios (Pnad) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), se faz relevante. Uma edição da Carta de Conjuntura publicada pelo Ipea detalha este quadro. E uma matéria publicada pelo Portal Terra e reproduzida pelo Portal Geledés analisa este retrato sob o ponto de vista de que um assunto tão debatido ao longo deste período pandêmico não traduz a realidade da maior parte da população economicamente ativa: o home office.

Retrato social e racial

A presença de pardos e pretos entre os brasileiros que estão trabalhando em casa é de 34,4%. “Isso demonstra que a educação é algo que tem classe. Ela é destinada para determinadas classes, principalmente o ensino superior, que vai te colocar em condições que vão te permitir acessos a alguns benefícios”, analisa a professora Carla Diéguez, socióloga do trabalho e coordenadora do curso de Sociologia e Política da FESPSP, entrevistada pelo Terra, juntamente com as opiniões compartilhadas abaixo.

“Essas segregações estão conectadas com quem nós somos em relação à sociedade”, explica consultora Ana Bavon, CEO da B4People Cultura Inclusiva e integrante da Comissão de Ética, Diversidade e Igualdade do Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial (IBDEE). “Se no Sudeste a gente tem um maior número de pessoas em home office, isso demonstra que está no Sudeste as maiores condições relacionadas às áreas executivas. As pessoas com ensino superior completo, brancas, que exercem uma função intelectual/executiva, estão no Sudeste (em grande maioria) e estão tendo a oportunidade de trabalhar de suas casas.”

No entanto, na visão da empresa Pipo, o home office definitivo também foi uma oportunidade de aumentar a diversidade da empresa. “Conseguimos aumentar a diversidade com essa decisão, porque conseguimos contratar pessoas com deficiência (que teriam limitações de locomoção), pessoas com filhos (que teriam limitações para ficar fora o dia inteiro). Acabamos impulsionando a diversidade da empresa com essa ferramenta remota”, complementa Marcela Ziliotto, Head de People e Design Organizacional da empresa.

Quanto ao recorte de raça, há uma grande diversidade entre os Estados, com a predominância de pessoas negras no Norte e no Nordeste e o oposto no Sul, mas a participação de pessoas pretas ou pardas no trabalho remoto é menor em todas as unidades federativas. No Rio de Janeiro, 52,5% das pessoas ocupadas e não afastadas são negras, mas compõem apenas 34% dos trabalhadores em home office.

“Precisamos pensar que essas mulheres, que estão dentro do setor de serviços, de cargos executivos, são mulheres brancas. Obviamente, tiveram uma maior possibilidade de estar em home office. É todo um contexto que se repete. Onde estão as mulheres negras em sua maioria dentro das organizações? Em cargos operacionais, que não trabalham no computador e sim servindo café, abrindo a porta… Esses dados trazem uma transparência da péssima estrutura organizacional que temos relacionadas à inclusão”, reforça Ana Bavon sobre a desigualdade de raça e gênero.

Em todos os Estados, enquanto a maioria das pessoas ocupadas e não afastadas possuem escolaridade de nível educacional mais baixo, as pessoas em trabalho remoto possuem, na maioria, o nível superior completo.

Leia também: Para cada mulher negra nos cargos de nível superior, há três homens brancos

Fonte: Portal Deledés com reprodução do Portal Terra, reportagem de Anna Barbosa.

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