A utilização de matérias-primas renováveis no setor têxtil está se tornando uma tendência e representa uma transformação significativa movida pela crescente preocupação com a sustentabilidade.
O setor têxtil é tradicionalmente conhecido por seu alto impacto ambiental, na medida que utiliza materiais derivados do Petróleo como o poliéster, nylon e outros, que não são biodegradáveis e contribuem para a poluição do planeta. E ainda, o algodão convencional, embora natural, requer grandes quantidades de água e agrotóxicos na sua produção.
Na conversão deste cenário, o nível de investimento em pesquisa e desenvolvimento em materiais ecológicos é crescente. Países como o Brasil têm grande potencial para liderar a produção têxtil sustentável, com foco em tecnologias inovadoras e uso de resíduos agrícolas. Percebe-se que a tecnologia está sendo utilizada para melhorar a eficiência da produção de fibras naturais e reduzir o impacto ambiental.
Outro aspecto importante é a conscientização do consumidor que vem demandando cada vez mais produtos sustentáveis impulsionando as empresas a adotarem práticas mais verdes
Vide a seguir algumas alternativas de materiais renováveis que estão ganhando espaço:
FIBRAS NATURAIS VEGETAIS
- Algodão orgânico: tende a ser mais suave e macio sendo uma alternativa mais sustentável ao algodão convencional. É mais seguro para a pele, especialmente para bebês e pessoas com alergias. Cultivado sem pesticidas, fertilizantes químicos e com menor consumo de água. Garante a saúde do solo e do agricultor na sua produção. Isso resulta em um produto mais puro e com menor impacto ambiental.
- Linho: fibra natural resistente, durável e biodegradável. Sua produção é mais sustentável pois requer significativamente menor uso de água no seu cultivo, é naturalmente resistente a pragas e doenças, reduzindo a necessidade de pesticidas e fertilizantes químicos. Quase todas as partes da planta do linho são utilizadas, seja para fibras têxteis, sementes para óleo de linhaça ou outros subprodutos, minimizando o desperdício.
- Cânhamo: conhecido por sua durabilidade e resistência às intempéries, além de oferecer proteção UV. Provêm da planta resistente que cresce rapidamente com baixo volume de água, sem necessidade de fertilizantes e pesticidas evitando a poluição. A certificação de cânhamo orgânico garante que o tecido foi produzido de acordo com padrões ambientais e sociais rigorosos.
- Fibras de bambu: matéria-prima biodegradável proveniente de planta de rápido crescimento atingindo a maturidade rapidamente, o que proporciona altas condições de renovação. O bambu é valorizado por suas propriedades antibacterianas e absorventes de umidade. Requer baixa quantidade de água para o cultivo, é resistente a pragas e doenças e dispensando o uso de fertilizantes e pesticidas.
- Juta: é biodegradável e requer pouca irrigação no cultivo. Trata-se de uma fibra forte, resultando em um tecido robusto e durável, que possui uma textura áspera e rústica, conferindo um charme natural e autêntico. A juta é geralmente uma fibra de baixo custo, tornando o tecido acessível. É versátil podendo ser utilizada em diversas aplicações, desde embalagens até decoração e artesanato.
- Seda: fibra natural biodegradável produzida pelo bicho-da-seda, conhecida por sua maciez e brilho, com produção que pode ser sustentável quando proveniente de práticas responsáveis. Requer uma quantidade significativa de água para produzi-la e pode gerar poluição em algumas etapas, como no tingimento. A produção tradicional envolve o cozimento dos casulos com os bichos-da-seda dentro, o que levanta questões éticas sobre o bem-estar animal.
FIBRAS DE CELULOSE REGENERADA
- Viscose: produzida a partir da celulose de árvores como eucalipto, pinheiro e faia. É biodegradável e não possui uma grande durabilidade. Sua produção requer um volume significativo de água, pode gerar resíduos químicos que provocam poluição e a extração da madeira pode proporcionar o desmatamento. No entanto, existem iniciativas para produzir viscose de forma mais sustentável, utilizando madeira de florestas certificadas e processos de produção mais limpos.
- Modal: Fibra celulósica produzida a partir da polpa de madeira de faia, é biodegradável, tem toque macio e alta resistência. O processo de fiação é mais eficiente em termos de uso de energia e água em comparação com a produção de viscose convencional. A tecnologia permite a recuperação de subprodutos, diminuindo o desperdício. Utiliza produtos químicos menos tóxicos em comparação com a produção de viscose convencional. A madeira utilizada provém de florestas geridas de forma sustentável, com certificações que garantem o manejo responsável dos recursos naturais.
- Tencel (Liocel): fibra celulósica biodegradável com toque macio produzida a partir da polpa de madeira. Sua produção caracteriza-se em um sistema de ciclo fechado, no qual os solventes utilizados são reciclados e reutilizados, minimizando o desperdício e a poluição. Requer menos água e energia na produção em comparação com outras fibras, como o algodão. A madeira utilizada provém de florestas geridas de forma sustentável, com certificações que garantem o manejo responsável dos recursos naturais.
- Cupro: feito a partir de linter de algodão que são fibras curtas residuais das produções. O uso de resíduos de algodão na sua produção contribui para a redução do desperdício na indústria têxtil. É biodegradável, tem um toque sedoso e macio, com um caimento fluido. O cupro é hipoalergênico sendo uma boa opção para pessoas com pele sensível. Proporciona uma respirabilidade permitido a circulação de ar, o que torna-o confortável em climas quentes.
FIBRAS RECICLADAS:
- Poliéster reciclado: produzido a partir de garrafas PET. Reduz o descarte de garrafas PET em aterros e oceanos, combatendo a poluição plástica. Diminui a dependência de combustíveis fósseis, matéria-prima do poliéster virgem. Consome menos energia e água na produção em comparação com o poliéster virgem. Reduz a emissão de gases de efeito estufa. Pode ser misturado com outras fibras, como algodão, para criar tecidos com diferentes texturas e propriedades. Permite a produção de tecidos com cores vibrantes e estampas variadas. Possui propriedades semelhantes ao poliéster virgem, como durabilidade, resistência a rugas e secagem rápida. Pode ser utilizado em diversas aplicações, como roupas, acessórios, estofados e produtos industriais. O poliéster reciclado possui uma grande durabilidade, e é fácil de ser mantido.
FIBRAS INOVADORAS
- Fibras de algas: extraídas de biomassa de algas. Geram fios através de fiação úmida similar à produção de viscose. São fibras biodegradáveis, compostáveis, antimicrobianas e hipoalergênicas. Porém são menos resistentes que fibras sintéticas (ex.: poliéster) e são sensíveis à umidade podendo degradar mais rápido.
- Fibras de abacaxi (Piñatex): produzidas a partir de folhas de abacaxi (especificamente da variedade Ananas comosus), que seriam descartadas após a colheita da fruta. É uma alternativa ecológica ao cOuro animal e aos sintéticos derivados do petróleo. É biodegradável (em versões sem revestimentos sintéticos), leve, flexível e vegana. Porém é menos durável que o couro tradicional (sensível a umidade e abrasão) e tem um custo mais alto, no entanto ainda é competitivo ao couro premium.
- Fibras de cogumelos (Mylo): desenvolvidas a partir de micélio de cogumelos. Produzidas por meio de biotecnologia cultivadas em laboratório. O biomaterial é colhido, prensado e tratado com corantes e acabamentos à base de água para imitar a textura e resistência do couro animal. A produção requer menos terra, água e energia que o couro bovino ou sintético, emite 90% menos CO₂ que o couro tradicional, é versátil, vegana e livre de crueldade animal. No entanto seu custo é alto e o material tem menor resistência a abrasão que o couro animal
Benefícios da transição para matérias-primas renováveis:
- Redução da pegada ambiental: Menor consumo de água, energia e emissão de gases de efeito estufa.
- Diminuição da poluição: Menor uso de agrotóxicos e produtos químicos nocivos.
- Promoção da economia circular: Incentivo à reciclagem e ao reaproveitamento de materiais.
- Melhora das condições de trabalho: Cultivo e produção mais seguros para os trabalhadores. Menor dependência de recursos fósseis finitos
- Potencial para criar tecidos biodegradáveis
Desafios e perspectivas:
- Escalabilidade: A produção de algumas matérias-primas renováveis ainda é limitada. Muitas fibras inovadoras ainda não atingiram escala comercial
- Custo: Materiais sustentáveis podem ter um custo mais elevado. Algumas alternativas renováveis são mais caras que materiais sintéticos
- Propriedades técnicas: Necessidade de melhorar resistência, durabilidade e outras características
- Inovação: A pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias são essenciais para ampliar o uso de matérias-primas renováveis. Pesquisas e desenvolvimentos estão em andamento para criar novas fibras renováveis e processos de produção mais sustentáveis.
- Melhoria de processo: necessidade de adaptar processos industriais existentes.