O dia estava começando bem ruim, com mercados em quedas durante a madrugada na Ásia (exceção ao Japão) e também na Europa, puxando futuros americanos também e ADRs de empresas brasileiras. O petróleo e minério com quedas ajudavam nesse tom negativo. Porém, logo cedo tivemos o anúncio do FED com “cheque em branco” e também o Bacen com novas medidas e coletiva do presidente Campos Neto.

O FED anunciou que vai comprar treasuries e títulos hipotecários nos volumes necessários por dois dispositivos de crédito para grandes empregadores em esforço agressivo para limitar a perda de empregos e renda. Já o secretário do Tesouro Mnuchin, disse que Trump ainda não decidiu sobre a paralisação total da economia e que estão trabalhando junto com o FMI e Banco Mundial e que há grande entendimento do G-7 e do G-20 sobre as ações de bancos centrais e de governos. Segundo Mnuchin, o pacote atinge cerca de US$ 2 trilhões.

Nessa mesma direção citamos declarações do FMI com sua capacidade de empréstimos de US$ 1 trilhão. A França lançou três medidas para suportar as empresas que somam 500 bilhões de euros e a Alemanha mostrou 750 bilhões de euros. Já a União Europeia, está concedendo 3 bilhões de euros para Portugal.

Ainda sobre os EUA, James Bullard do FED de St. Louis disse que falar em estímulos agora é incorreto, pois as pessoas não vão sair de casa. Mas o grupo do G-20 disse que vai enfrentar as vulnerabilidades da dívida e produzir respostas emergenciais. No meio da tarde, surgiu a notícia de que o Senado americano não tinha os votos suficientes para aprovar o pacote de medidas de Donald Trump e os mercados voltaram a ceder, apesar das negociações prosseguirem.

A conclusão que chegamos é que o esforço feito agora ultrapassa o realizado em 2008, quando da crise global, mas os mercados não esboçam reações, por desconhecimento de onde essa crise na saúde mundial pode levar as economias. Indicadores de conjuntura ficaram todos ultrapassados diante dos problemas que vão se sucedendo.

Nos EUA, tivemos a divulgação do índice de atividade nacional do FED de Chicago de fevereiro em alta para 0,16 pontos. Já as projeções de PIB são cada vez piores. A S&P cortou o crescimento da China em 2020 para 2,9% (de 4,8%) ampliou a recessão do Japão para 1,2% (de -0,4%) e cortou o crescimento da Índia para 5,2% (de 5,7%). O IIF (Institute of International Finance) cortou o crescimento global e prevê recessão de 1,5% e o Brasil em recessão de 1,8%.

No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava alta de 2,97%, com o barril cotado a US$ 23,30, recuperando perdas da manhã. O euro era transacionado em alta para US$ 1,073 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,77%, em queda. O ouro e a prata com altas na Comex e commodities agrícolas em altas na Bolsa de Chicago.

No segmento doméstico, o Bacen anunciou logo cedo que reduziu o compulsório sobre depósitos a prazo de 25% para 17%, temporariamente, e o CMN autorizou empréstimos para instituições financeiras garantido por debêntures, em linha temporária de liquidez. A ata da última reunião do Copom gastou boa parte do texto com os efeitos do coronavírus e também com a necessidade de reformas logo em seguida às mudanças pelo coronavírus, mas o consenso geral é de que até a reunião de maio a taxa Selic deve ser novamente reduzida em 0,50%, mesmo que não traga maiores benefícios. Fala ainda que a transmissão da pandemia tem três canais: choque de oferta, custo de produção e retração de demanda. Hoje também foi dia de o Bacen realizar leilão de dólares à vista de US$ 401 milhões.

Do lado político, o presidente da Câmara quer separar em PEC o orçamento fiscal do da crise, o que achamos bastante saudável. Já o presidente Bolsonaro voltou na decisão de suspensão dos contratos de trabalhos sem contrapartida. Bolsonaro anunciou pelo Twitter ajuda para Estados e Munícipios de R$ 85,8 bilhões.

No mercado, dia de DIs com comportamento de queda dos juros e o dólar encerrando em alta de 2,15% e cotado a R$ 5,135. Na Bovespa, na sessão de 19/3, os investidores estrangeiros sacaram recursos no montante de 2,02 bilhões, deixando o saldo negativo de março em R$ 19,1 bilhões e o do ano com saídas líquidas de R$ 59,2 bilhões.

No mercado acionário, dia de queda da Bolsa de Londres de 3,79%, Paris com -3,32% e Frankfurt com -2,10%. Madri e Milão com perdas de respectivamente 3,31% e 1,09%. No mercado americano, o Dow Jones com -3,04% e Nasdaq com -0,27%. Na Bovespa, dia de queda de 5,25% e índice em 63.545 pontos.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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