A Bovespa emplacou o terceiro pregão consecutivo de queda na sessão de hoje. Também pudera! Temos uma sucessão de notícias negativas e muitos ruídos que em nada prestam para a recuperação dos mercados de risco e agregam grande volatilidade intraday. Quando não é a possibilidade de ingerência na fixação de preços pela Petrobras, sobrevêm boatos sobre mais endividamento do país e/ou imposto transitório para fazer face à extensão do auxílio emergencial.
Mas hoje, foi a vez da notícia ruim sobre as vendas no varejo no mês de dezembro e possibilidade de nova queda no mês de janeiro. Associado a tudo isso, e nossos problemas políticos e diplomáticos, o exterior também não anda ajudando em nada, e lá também com mercados fracos, porém sem impedir que os três principais índices da Bolsa americana batessem novos recordes de pontuação.
A China anunciou que o volume de investimentos externos diretos em janeiro chegou a US$ 13,5 bilhões, com alta de 6,2%. Já o BOE (BC inglês) relatou que o processo pós-Brexit não tem sido simples para o sistema financeiro. Já o FMI adverte que países vão sair bem mais endividados da crise (caso do Brasil, por exemplo), e alguns em situação insustentável (esperamos que não seja nosso caso). O FMI sinaliza ainda que países vão ter recuperação e velocidade distintas.
Já a União Europeia, conclui que a prioridade de Biden é intensificar relações bilaterais, mas entende as relações comerciais como complicadas com a região. Christine Lagarde, do BCE, falou que a pandemia volta a acelerar com novas cepas e que é preciso persistir no apoio fiscal e monetário. O BOJ (BC japonês) sinaliza ajustes no programa de compras de ativos e pode tornar juros ainda mais negativos.
Nos EUA, a inflação medida pelo CPI (consumidor) de janeiro foi de 0,3% e núcleo estável e a inflação anual foi de 1,4%, inclusive no núcleo. Os estoques no atacado de dezembro cresceram 0,3%. Já os estoques de petróleo da semana anterior encolheram 6,64 milhões de barris, e de gasolina cresceram 4,26 milhões de barris. Jerome Powell, do FED, falou e mostrou preocupação com o emprego e disse que governo tem que ajudar com políticas.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY conseguiu se manter em alta de 0,26%, com o barril cotado a US$ 58,51. O euro era transacionado em alta para US$ 1,21 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,16%. O ouro em alta e a prata novamente em queda na Comex (foi objeto de especulação na semana passada) e commodities agrícolas majoritariamente com quedas na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado em Qingdao é que teve mais um dia de alta, na véspera do feriado prolongado de uma semana. Fechou em alta de 1,71% e com a tonelada em US$ 166,90.
No cenário local, na área política, o ministro Paulo Gudes descartou em conversa com parlamentares, novo imposto para bancar o auxílio emergencial, e Bolsonaro disse que está no limite de endividamento. Mas os investidores não reagiram muito a isso. Já o relator do orçamento, Marcio Bittar, declarou que a necessidade não pode esperar pela agenda fiscal, e o presidente do Senado quer responsabilidade fiscal, mas quer extensão do auxílio sem impostos. Aí sim, os mercados tiveram branda recuperação.
Na economia, destaque para as vendas no varejo de dezembro, com queda bem mais acentuada que o previsto de 6,1% e fechando o ano de 2020 com alta de 1,2%. A média móvel trimestral foi de -1,8% e o varejo ampliado (inclui construção e automotiva) encolheu 1,5% em 2020 e 3,7% em dezembro. A inesperada contração (pelo tamanho) reduziu ainda mais a probabilidade de o Bacen elevar a Selic na reunião de março (segundo a Febraban, 61% não acreditam), mas aumenta a chance de isso ocorrer em maio. O Bacen anunciou que o fluxo cambial até 5/2 estava positivo em US$ 1 bilhão, fruto do canal financeiro com +US$ 1,47 bilhão. No ano, o fluxo está positivo em US$ 3,8 bilhões, exclusivamente por conta do fluxo financeiro, já que a balança comercial mostra déficit acumulado.
No mercado, o dólar novamente oscilou bastante nas duas direções para fechar com -0,22% e cotado a R$ 5,37. Na Bovespa, na sessão de 8/2, os investidores estrangeiros retiraram recursos no montante de R$ 670,8 milhões, deixando o saldo acumulado do mês ainda positivo em R$ 847,9 milhões e, no ano, com ingressos de R$ 24,4 bilhões.
No mercado acionário, dia de queda de 0,11% na Bolsa de Londres, Paris com -0,36% e Frankfurt com -0,56%. Madri e Milão com quedas de respectivamente 0,44% e 0,15%. No mercado americano, o Dow Jones com +0,20% e Nasdaq com -0,25%. Na Bovespa, dia de queda de 0,87% e índice em 118.435 pontos, bem próximo de perder zona de suporte interessante.
Na agenda fraca de amanhã teremos o volume de serviços prestados em dezembro pelo IBGE, o levantamento sistemático da produção agrícola, e nos EUA, os pedidos de auxílio-desemprego da semana anterior.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado