O dia foi novamente de tensão para os mercados de risco no mundo por conta de dois eventos principais. De um lado, a votação na Câmara americana do pacote de estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão, e de outro, a expectativa local com a votação em segundo turno da PEC Emergencial, com algumas questões que poderiam desidratar a medida. Além disso, muita tensão com relação ao comportamento dos juros nos EUA, também puxando juros no mercado europeu.

Nos EUA, a divulgação da inflação de fevereiro pelo CPI (consumidor) animou os investidores, já que veio no previsto. No mês de fevereiro a inflação subiu 0,4%, com núcleo em 0,1% e na comparação anual com respectivamente 1,7% e 1,3% para o núcleo. O presidente Biden anunciou que está adquirindo 100 milhões de doses da vacina da J&J e também que deve sancionar o pacote fiscal na sexta-feira. Lá, a Câmara aprovou por 220×211, com um democrata votando contra o pacote.

OS EUA também anunciaram que na próxima semana se reunirão com os chineses, para estudar cooperação e ajustar pontos das relações entre os dois países. O departamento de Energia dos EUA divulgou crescimento dos estoques de petróleo em 13,8 milhões de barris, e isso voltou a colocar o óleo como tendência negativa no mercado internacional, mas depois recuperou.

Já o BCE (BC europeu), declarou que a situação dos bancos da região é satisfatória, mas que os bancos devem cuidar de olhar para a dívida para não prejudicar a recuperação. No mercado internacional, o petróleo WTYI negociado em NY mostrava alta de 0,83%, com o barril cotado a US$ 64,54. O euro tinha leve alta para US$ 1,192 e notes americanos de 10 anos com larga oscilação e com taxa de juros de 1,51%, após leilão feito. Isso também ajudou a acalmar os investidores por lá. O ouro e a prata com altas na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado em Qingdao (China) teve leve alta de 0,16%, com a tonelada em US$ 164,67, mas não foi suficiente para colocar as ações de Vale e siderúrgica em rota consistente de alta.

Aqui, muita preocupação com a votação em segundo turno da PEC Emergencial por conta de destaque feito pelo PT, que retirava congelamento de salários, mas, no final, acabou sendo rejeitado. Deputados ainda discutiam permitir a progressão de servidores. Sobre o covid-19, o ministro Pazuello disse que teremos em março entre 22 e 25 milhões de doses, e Bolsonaro autorizou a compra privada de vacinas. Os mercados reagiram quando sentiram o bom encaminhamento da PEC Emergencial, e a Bovespa pôde reverter perdas, assimilando ainda a aprovação do pacote americano. 

Ainda no ambiente político, o ex-presidente Lula concedeu coletiva depois da anulação de seus processos na Lava Jato de Curitiba, naquele velho tom conhecido de “Lulinha paz e amor”, falando de sua inocência, criticando alta de combustíveis, as atitudes do “mercado” e até elogiando a Rede Globo. Deu para perceber qual será o tom numa eventual disputa em 2022 com ele ou frente ampla, falou até de conversar com Rodrigo Maia.

Fica restando ver a resposta de Bolsonaro e qual o tom populista a ser adotado pelos dois contendores. O Bacen divulgou o fluxo cambial na primeira semana de março (até 5/3) negativo em US$ 436 milhões, com saídas pelo canal financeiro de US$ 1,38 bilhões, mas com o ano mostrando fluxo positivo em US$ 6,72 bilhões. A posição cambial líquida estava em US$ 276 bilhões, quando no final de fevereiro, era de US$ 283,3 bilhões. Aliás, o Bacen fez operações adicionais de câmbio hoje com US$ 1 bilhão em swap e venda à vista de US$ 405 milhões, aproveitando que a moeda americana estava fraca.  

No mercado, o dólar encerrou o dia com -2,50% e cotado a R$ 5,65, depois de muita pressão logo no início do dia. Na Bovespa, na sessão de 8/3, os investidores estrangeiros alocaram liquidamente R$ 716,8 milhões, reduzindo a saída do mês de março para R$ 1,66 bilhão, mas com saldo de ingresso no ano de R$ 15,11 bilhões.

No mercado acionário, dia de queda de 0,07% na Bolsa de Londres, Paris com +1,11% e Frankfurt com +0,71%. Madri e Milão com altas de respectivamente 0,22% e 0,46%. No mercado americano, o Dow Jones com +1,46% (novo recorde) e Nasdaq com -0,04%. Na Bovespa, dia de muita oscilação entre positivo e negativo, ao sabor do noticiário, para fechar com +1,30% e índice em 112.776 pontos, com as empresas de commodities sentindo a queda do dólar.

Na agenda de amanhã teremos a inflação oficial de fevereiro medida pelo IPCA, a reunião do BCE (BC europeu) sobre política monetária, e nos EUA, os pedidos de auxílio-desemprego.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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