A pressão interna parece estar vindo de todos os lados, começando com os desentendimentos de Bolsonaro com o vice Mourão sobre meio ambiente, os alertas do secretário do Tesouro, Bruno Funchal, e do secretário de política econômica, Waldery. O próprio ministro Paulo Guedes tem demonstrado sua insatisfação sobre paralisação de reformas, privatizações e o Congresso que não monta a CMO (Comissão Mista do Orçamento) para votar a LDO de 2021 até o final do ano, sem a qual, o Tesouro fica impossibilitado de executar.
Além disso, temos pressões da unanimidade dos economistas sobre a questão fiscal, nível de endividamento, manutenção de teto de gastos, extensão de auxílios emergenciais e votação da PEC Emergencial que embute o pacto federativo. A conclusão que se chega é de uma barafunda monumental. Quando isso ocorre, fica evidente que alguma coisa terá que acontecer no curto prazo, e todos esperam que seja pela via do bom senso e da união, em prol do bem comum de ajustar o Brasil.
Hoje até a presidente do BCE (BC europeu), Christine Lagarde, declarou que com foco na sustentabilidade, as pessoas “pensarão duas vezes quando o tema for Brasil”. Isso evidencia um absurdo, já que a própria União Europeia não consegue fechar acordo sobre o plano de recuperação da região contra a pandemia.
Mas tudo isso perde um pouco de força na visão dos investidores, em função de todo o noticiário sobre desenvolvimento de vacinas e sua aplicação já em meados de dezembro, com países adquirindo milhões e milhões de dose de vacinas das farmacêuticas mais adiantadas em solicitar liberação emergencial. Os mercados reagem positivamente e mascaram um pouco todos os problemas, acreditando que tudo estará solucionado num passe de mágica com as vacinas.
Tanto isso é verdade que hoje, no intraday, o Dow Jones bateu novo recorde, ultrapassando a casa dos 30 mil pontos do índice e a Bovespa retornou para cima de 108 mil pontos, situação que não acontecia desde 26/2, quando subiu forte.
Nos EUA, Trump autorizou o governo a fazer o protocolo de transmissão para a equipe de Biden e foi anunciada a confiança do consumidor do Conference Board de novembro em queda para 96,1, quando a previsão era que ficasse em 98,3 pontos. Já a China, se comprometeu com neutralidade de carbono até 2060 e isso foi tido como bem-vindo no mundo. Além disso, a China e o Japão vão aliviar viagens de negócios já neste mês.
No segmento internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava forte alta de 4,23%, com o barril cotado a US$ 44,88. O euro era transacionado em alta para US$ 1,189 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,88%. O ouro e a prata, com menor aversão ao risco e em queda na Comex e commodities agrícolas com leve viés de queda na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado na China teve leve alta de 0,14%, com a tonelada em US$ 127,42.
No mercado doméstico, a Receita Federal anunciou a arrecadação de outubro em R$ 153,9 bilhões, melhor para o mês desde 2014, mas com efeitos da postergação anterior, acumulando arrecadação total em 2020 de R$ 1,18 trilhão, a menor desde 2010 e com queda real de 9,45%. As desonerações já custaram até outubro R$ 74,06 bilhões.
Também tivemos a divulgação do IPCA-15 de novembro com alta de 0,81%, acumulando inflação no ano de 3,31% e em 12 meses, de 4,22%. A difusão subiu para 66,49% e transportes foi destaque de alta com 1%. Mesmo tendo vindo no esperado, ainda assim, os juros curtos foram pressionados por ajustes. O Tesouro Nacional disse que o espaço para extensão do auxílio emergencial é muito pouco ou zero, e Armínio Fraga, disse que o Brasil tem questões de credibilidade que precisam ser resolvidas e é preciso mover a agenda de reformas.
No mercado local, o dólar encerrou o dia com queda de 1,28% e cotado a R$ 5,37. Na B3, os investidores estrangeiros fizeram a primeira retirada de recursos de novembro na sessão de 20/11, no montante de R$ 163 milhões, mas o saldo líquido do mês está positivo em R$ 26 bilhões, mas com o ano negativo em R$ 58,9 bilhões.
No mercado acionário, dia de alta da Bolsa de Londres de 1,55%, Paris com +1,21% e Frankfurt com +1,26%. Madri e Milão com altas de respectivamente 2,03% e 2,04%. No mercado americano, dia de Dow Jones com +1,54% e acima de 30 mil pontos (recorde) e Nasdaq com +1,31% (acima de 12 mil pontos). Na Bovespa, dia de mercado em alta de 2,24% e índice em 109.786 pontos.
Na agenda de amanhã teremos o INCC de novembro e a confiança do consumidor e da construção. Também teremos a nota de mercado aberto, dados do setor externo e relatório da dívida de outubro e fluxo cambial. Nos EUA, uma bateria de dados antecipados pelo feriado de quinta-feira de Ação de Graças.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado