A moeda real brasileira tem o pior desempenho ante o dólar, pior mesmo que a de Mianmar. Pior ainda que, mesmo nessa situação, não haja ingresso de recursos do exterior, nem para especulação. Isso é reflexo do quadro fiscal em deterioração, da situação política difícil para aprovar medidas e do negacionismo de Bolsonaro sobre a pandemia, com suas declarações de ontem (disse que a pandemia era “frescura e mimimi”) repercutindo na imprensa internacional. O CDS do Brasil voltou a encostar em 200 pontos no mercado internacional.

Hoje a OMS (Organização Mundial da Saúde) deu recado que não é hora de o Brasil relaxar e considerou a situação local preocupante, dizendo que a pandemia deve ser levada à sério. Isso vem se somar com extensa reportagem na Finlândia com pesquisadores brasileiros dizendo que o Brasil pode ser o celeiro de variantes e prejudicar todo o mundo com isso.

O Brasil é uma ameaça sanitária para o mundo. Precisamos, urgente, mudar o discurso oficial no Brasil, quanto mais for possível não seja pela quantidade de óbitos acima de 260 mil.

No exterior, o BOE (BC inglês) disse que os riscos para a atividade apontam para negativo e pode haver necessidade de novos estímulos, ao mesmo tempo, o sistema bancário deve se preparar para eventualmente conviver com taxas de juros negativas.

Nos EUA, o dia foi de preocupação com alta dos juros dos treasuries, principalmente quando vazou 1,61% e derrubou os mercados acionários. Depois, retroagiu para 1,54% e as Bolsas melhoraram. Mas dirigentes regionais do FED insistem que é meramente transitório, está no nível do ano passado, e que têm mecanismos para controlar a inflação. A preocupação está na taxa de desemprego verdadeira, que gira ao redor de 9,5%.

Aliás, hoje foi dia de divulgação do Payroll americano de fevereiro, com a criação de vagas no setor público e privado. Foram criadas 379 mil vagas de empregos, quando a previsão era de 200 mil. Segundo o comunicado, a taxa de desemprego caiu para 6,2% (previsão era de 6,3%), e o salário médio cresceu 0,23%. Anualizado, o ganho está em 5,26%. Também foi anunciado o déficit da balança comercial em janeiro de US$ 68,2 bilhões, subindo 1,8% e com previsão de que ficaria em US$ 67,6 bilhões.

No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY voltou a subir forte na sessão de hoje e com grande volatilidade intraday, com alta de 4,09% e com o barril cotado em US$ 69,47, depois da decisão da OPEP+ de ontem, sobre manter produção com cortes. O euro era transacionado em queda para US$ 1,191 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,54%. O ouro e a prata com quedas na Comex e commodities agrícolas com comportamento de alta na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado em Qingdao teve dia de realização de lucros e afetado pela reunião do partido prevendo expansão da economia. Foi negociado em queda de 2,1%, com a tonelada em US$ 174,61.

No segmento local, o IBGE anunciou a produção industrial de janeiro com alta de 0,4%, contra igual período de 2020 com +2%. Em 12 meses encolhe 4,3%. Os dados ficaram no previsto e o destaque foi para bens de capital com +4,5%, e contra mesmo período com +17%, mas em base de comparação fraca. Destacamos que em nove meses houve expansão de 42,3% da produção, mas ainda estamos 12,9% abaixo do recorde de maio de 2011. O impacto negativo ficou com metalurgia com contração em janeiro de 13,9%.

A Anfavea também divulgou a produção de fevereiro de veículos com contração de 3,5% contra igual período do ano anterior, e queda no mês de 1,3%. Já as vendas de fevereiro encolheram 2,2%, contra igual período com queda de 16,7%. Detalhe para a concentração em poucos setores e a previsão de desaceleração nos próximos meses também. Citamos ainda que a falta de componentes já paralisa um terço das montadoras.

No mercado, dólar voltou a superar a marca de R$ 5,72 ao longo do dia. Na B3, na sessão de 2/3, os investidores estrangeiros voltaram a sacar recursos no montante líquido de R$ 1,54 bilhão, deixando o saldo negativo de março em R$ 1,48 bilhão, mas o ano positivo ainda em R$ 15,29 bilhões. Já foi de mais de R$ 28 bilhões.

No mercado acionário, dia de queda da Bolsa de Londres de 0,31%, Paris com 0,82% e Frankfurt com -0,97%; não capturando a melhora do mercado americano. Madri e Milão também com perdas de respectivamente 0,80% e 0,55%.

No mercado americano, o dia foi de reversão quando os juros encolheram e o Dow Jones encerrou com +1,85% e Nasdaq com +1,55%. Na Bovespa, dia de alta de 2,23% e índice em 115.202 pontos, com destaque para empresas ligadas ao segmento de commodities e bancos. Também atingimos aquele patamar de 115 mil que vínhamos marcando como importante ser ultrapassado, precisando agora consolidar.

Indicadores da Semana

BOVESPA 115.202 (4,69%)    

DOW JONES +1,82%   

NASDAQ -2,06%   

DÓLAR R$ 5,683 (+1,39%)

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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