Resumo da Semana de 21 25 de setembro

Mais uma semana difícil para os mercados de risco em todo o mundo, com grande volatilidade e mudanças de sinal intra e entre pregões. A semana marcou também a volta da aversão ao risco por conta do recrudescimento da contaminação pela covid-19, necessidade de se produzir novos estímulos e grande incerteza com relação à recuperação da economia global.

Por aqui, assimilamos todas essas informações, tendo ainda a adição da questão fiscal extremamente problemática e uma certa intenção do governo em flertar com medidas mais populistas, que significa o aumento de gastos e eventuais perfurações do teto de gastos. Tudo isso fica claramente demonstrado pela elevação do CDS (credit default swap) do Brasil que sai de menos de 200 pontos para mais de 260 pontos, elevação dos juros e pressão adicional sobre o câmbio que voltou ao patamar de R$5,60.

No plano internacional, a nova contaminação pela covid-19 em países e regionais segue sendo como o cenário básico. Durante a semana, observamos recordes de contágio na Índia, França e Reino Unido; além de outros, com governos sugerindo lockdown e restrições de contato social para evitar o alastramento. Com isso, começa a ser quebrada a possibilidade de recuperações em “V” para alguns países, e até mesmo para os EUA e China. Dados anunciados recentes leva a essa conclusão.

Bem verdade que a pesquisa e desenvolvimento de vacinas pode interromper esse ciclo, mas também é verdade que até aqui não se tem previsão. O presidente Donald Trump, em campanha eleitoral (e atrás de Joe Biden nas pesquisas), se aventura a dizer que a distribuição de vacinas pode ocorrer bem antes do final do ano. Mas é fato que desenvolver vacinas seguras, demanda bastante tempo.

De outra feita, ao longo da semana, tivemos grande proliferação de presidentes regionais do FED discursando, do próprio presidente Jerome Powell e de membros do governo americano. Todos bateram sistematicamente na mesma tecla de que é necessário um novo pacote fiscal para o país. Alguns dizendo que estão pessimistas, como Rosengren, de Boston. Outros descartam completamente a adoção de juros negativos. Sobre pacote de estímulos, no final da semana talvez haja uma luz. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, disse que quer discutir pacote que pode ficar próximo de US$ 2,4 bilhões, incluindo ajuda para as empresas aéreas. Mas essa novela já dura mais de um mês, e o que parece melhor encaminhado é liberar verbas para que o governo não paralise atividades (shutdown) depois do final do ano fiscal (que encerra em setembro), e inicialmente até o final de 2020.

Já na área de influência do BOE (BC inglês), o presidente Bailey estuda a possibilidade de adoção de juros negativos, nos moldes do exemplo do BCE (BC europeu), que por sua vez, também está sendo pressionado para novas flexibilizações monetárias e mais autonomia para bancos centrais de países da zona do euro.

No campo diplomático, seguem as pressões dos EUA contra a China, agora também com foco em plataformas digitais como TikTok e WeChat, e sobre aliados na adoção de tecnologia 5G, excluindo gigantes da China. E não ficou só por aí. Depois de Trump discursar na abertura da assembleia da ONU culpando a China, foi a vez de seu secretário Mike Pompeo dizer que a China, Venezuela e Irã ameaçam direitos básicos e prometendo novas sanções, notadamente renovadas contra o Irã.

Falando de indicadores de conjuntura, o período trouxe a divulgação de indicadores de atividade PMI para diferentes países para o mês de setembro. No Japão, o índice composto (indústria e serviços) subiu para 45,2 pontos, mas ainda abaixo dos 50 pontos que começa a indicar expansão da atividade. Na Alemanha, o índice composto caiu para 53,7 pontos, na zona do euro queda para 50,1 pontos e no Reino Unido também queda para 55,7 pontos. Voltando para a Alemanha, o índice GFK de confiança do consumidor subiu para -1,6 ponto, mas a previsão era de ficar em -0,5 ponto. O governo alemão encaminhou o orçamento de 2021. No Reino Unido, o presidente do BOE valia que a economia está andando melhor que o previsto, mas acompanha todas as dificuldades do Brexit e a visão mais geral é que terão que cortar juros e ampliar o QE (quantitative easing) para aquecer a economia. Enquanto isso, a União Europeia faz suas projeções com Brexit sem acordo.

Na China, o PBOC (BC chinês) manteve os juros de referência pelo quinto mês consecutivo, com a LPR de um ano em 3,35%. Já no Japão, o governo agora de Suga como primeiro-ministro e Kuroda do BOJ (BC japonês), declararam que não hesitarão em flexibilizar ainda mais a política monetária para manter a avaliação positiva mais recente.

Nos EUA, o índice de atividade nacional calculado pelo FED de Chicago caiu para 0,79 ponto em agosto, vindo de 2,54 pontos no mês anterior, vendas de casas usadas com +2,4% em agosto e o índice de atividade de Richmond com alta em setembro para 21 pontos, de anterior em 18 pontos. Lá, o PMI composto encolheu para 54,4 e pontos, estoques de petróleo na semana também com contração de 1,6 milhão de barris, pedidos de auxílio-desemprego crescendo 4 mil posições para 870 mil previsão 850 mil), vendas de casas novas em agosto com alta de 4,8% (bem maior que previsto) e encomendas de bens duráveis com leve alta de 0,42% em agosto, com previsão de +1,1%.

No segmento doméstico, o presidente Bolsonaro em pesquisa do Ibope, teve seu governo aprovado por 40% dos entrevistados (anterior em 29%), mas capturando em parte os benefícios do auxílio emergencial. Durante o período, vários “balões de ensaio” foram lançados, com o governo abrindo mão de sua reforma tributária para o projeto da Câmara em troca da aprovação da CPMF digital, cortes na educação, agricultura e programas sociais para o Renda Brasil; e ainda o uso de recursos da nova tributação para desonerar a folha de pagamentos. Mas o fato é que o Congresso começa a parar e, na nossa visão, nada que mexa com o eleitorado ou que seja fundamental para ajustar a economia conseguirá caminhar, em função da campanha eleitoral começando.

Bolsonaro abriu, como de praxe, a reunião virtual da ONU, e teve a parte sobre meio ambiente bastante criticada pela imprensa internacional por conta de dados oficiais que não refletem a realidade apresentada pelo presidente. No conjunto a sensação é que seu discurso não altera a percepção internacional negativa e nem os riscos de uma economia desequilibrada e com grave problema fiscal. A ata do Copom veio seguindo o comunicado pós reunião e não trouxe novidades. Mostra que o Bacen está tranquilo com a taxa de inflação em alta no curto prazo, vai manter os estímulos, mas evidencias as incertezas do ambiente econômico, sobretudo com as preocupações com a necessidade de prosseguir com reformas.

A pesquisa semanal Focus veio novamente tranquila e mostrando inflação em alta para 1,99% (de 1,94% PIB encolhendo 5,05% (de -5,11%) e produção industrial com queda de 6,30% (de -6,90%). O saldo da balança comercial até a terceira semana de setembro mostra superávit no ano de 2020 de US$ 41,07 bilhões. A prévia da inflação oficial pelo IPCA-15 de setembro foi de 0,45%, acumulando no ano, 1,35% e em 12 meses com 2,6%. O índice de difusão subiu para 59,95%. O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado no período veio no mesmo tom da ata do Copom, trazendo revisão do PIB para melhor em -5%, anterior em -6,4% e 2021 com expansão de 3,9%, mesmo com expansão prevista para a formação bruta de capital fixo (FBCF) em 2021. Os investimentos diretos no país (IDP) no ano atingem US$ 26,9 bilhões, mas no mês de agosto foram somente US$ 1,43 bilhão. Porém, o superávit em conta-corrente foi de US$ 3,7 bilhões pelo quinto mês consecutivo e o melhor da história.

Como lembramos a semana foi de intensa volatilidade, acelerada ainda mais pelo vencimento de opções para o prazo setembro com volume de exercício de R$ 10,5 bilhões e concentrado nas opções de venda. Já os investidores estrangeiros na Bovespa, até a sessão de 23/9, tinham sacado em setembro R$ 3,93 bilhões, deixando o ano de 2020 com saídas líquidas de R$ 89,3 bilhões, já o dobro de tudo que saiu em 2019.

Principais indicadores da semana

BOVESPA -1,32% (96.999)

DOW JONES -1,74%

NASDAQ +1,11%

DÓLAR R$ 5,56 (+3,34%)

Perspectivas    

O próximo período começa com os mesmos vetores para serem avaliados pelos investidores. O comportamento da onda de contaminação pela covid-19 e perspectivas de vacinas, as expectativas de pacote de estímulo fiscal nos EUA e outros países, os ruídos sobre as eleições americanas, onde Trump já declarou não se comprometer com transição pacífica de poder, se perder as eleições. Além disso, consta da agenda um debate televisivo com Joe Biden para o dia 29/9.

Daí surgem todas as preocupações com a recuperação econômica global e assimetria entre países e, por via de consequência, com a precificação dos ativos de risco. Os mercados no exterior possuem algum potencial de realização de lucros recentes e pode acabar afetando o mercado local, que de resto vem sendo mantido pelos investidores locais.

Aqui, além de sermos afetados pelo quadro internacional como país emergente e dependente, ainda temos que avaliar a situação da equipe econômica perdendo protagonismo, o flerte do governo com o populismo em época eleitoral, o Congresso que vai parando e baixo nível de esclarecimento de como o governo pretende sair da crise e domar as variáveis de conjuntura. Esse parece ser o maior empecilho para que os investidores voltem a avaliar a conjuntura local.

Pela análise técnica, a Bovespa está sem maiores definições desde o início do mês de junho, mas agora tangencia nova zona de perigo que seria perder o patamar de 94 mil pontos, quando teria espaço para precipitar mais até próximo de 90 mil pontos. No caminho da recuperação teria que buscar superar novamente o patamar inicial de 98 mil, e depois o objetivo de 102 mil e 104 mil pontos, e infelizmente estamos ainda longe.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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