O período ultrapassado pode ser tido como positivo para os mercados de risco no mundo, apesar do fantasma da covid-19 estar assolando novamente a população do planeta. Foram observados novos recordes de contágio em muitos países, principalmente na Europa e nos EUA, e não tivemos respostas de governos e bancos centrais ao início de uma segunda onda de contágio fartamente anunciada. Porém, também ficou claro que farmacêuticas de muitos países encontraram o caminho das vacinas e pesquisas com anúncios de eficácia na casa dos 95% estão surgindo. Isso deixou investidores mais tranquilos, mas a aversão ao risco andou em espasmos.

Aqui, voltamos a ter declarações intempestivas de Jair Bolsonaro por ocasião da reunião de cúpula do BRICS, com sua “diplomacia da pirraça” com países que buscam a preservação do meio ambiente, e ele, juntamente com o PT, foram um dos grandes perdedores da eleição municipal. Enquanto isso, o Senado aprovou recursos para o segmento de transporte e para consumidores prejudicados pelo apagão no Amapá, enquanto não tivemos nenhuma boa notícia sobre como solucionar problemas urgentes do país com quadro fiscal deteriorado e endividamento elevado. O ministro Paulo Guedes falou bastante sobre isso, mas por enquanto, permanecemos no campo das ideias.

No ambiente externo, o grande tema foi o início da segunda onda da covid-19 em países, com medidas de lockdown parcial e suspensão de aulas em NY, gerando a possibilidade de duplo mergulho em economias, como a da Alemanha e até dos EUA. Ao mesmo tempo, boas notícias sobre vacinas e sua aplicação já a partir de dezembro com autorização emergencial, como espera fazer a União Europeia. Sobre eleições americanas, Donald Trump ainda insiste com processos legais, apesar das derrotas sofridas, o que é danoso para a equipe de transição de Biden.

Biden já começa a trabalhar na transição (no que dá) e disse não querer lockdown nacional, mas entende que os Estados precisam de ajuda. Biden vem forçando a discussão daquele pacote de estímulo fiscal, e aparentemente colheu frutos com a nova discussão de um acordo entre Republicanos e Democratas que está previsto para os próximos dias.

Outra ocorrência importante na semana foi o acordo do Pacífico envolvendo 15 países da região e com os EUA fora. Só para dar exemplo da grandiosidade disso, com acordo entram US$ 26 trilhões em comércio e corresponde a quase um terço do PIB global. Durante a semana também tivemos notícias sobre as discussões entre a União Europeia e o Reino Unido, no momento suspenso por contágio da covid-19 em membro da equipe, mas segundo informações mais recentes com chance de ser anunciado acordo já na próxima semana. Porém, a União Europeia diz que britânicos não tomaram todas as medidas e que ainda há muito trabalho para ser feito.

A semana foi marcada pela divulgação de bateria de dados de conjuntura da China indo no sentido positivo e motivando melhora das commodities. A produção industrial expandiu anualizada 6,9% em outubro, vendas no varejo com +4,3% e investimentos em ativo fixo nos 10 meses de 2020 com +1,8%. A taxa de desemprego caiu para 5,3% e as vendas de residências cresceram 8,2%. Ainda por lá, a taxa de juros básica ficou estável pelo sétimo mês seguido e o PIB cresce em ritmo forte e mais rápido que em meados de 2017.

Em compensação no Japão, o índice de atividade composto (indústria e serviços) PMI encolheu para 47 pontos e a deflação de outubro nos preços ao consumidor (CPI) foi de 0,4%, com núcleo em -0,7%.

O FMI estimada que a Alemanha terá PIB encolhido em 2020 de 5,5%, e segue recomendando ação conjunta para superar a crise pela covid-19. Já a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) calculou que o PIB dos membros no terceiro trimestre expandiu 9%, mas ainda está 4,3% abaixo do nível pré-pandemia. A Turquia segue preocupada com a inflação e elevou juros básicos para 15%, saindo de 10,25%, e a África do Sul manteve taxa em 3,5%.

Nos EUA, o índice de atividade industrial de NY caiu para 6,3 pontos, vindo de 10,5 pontos e com previsão de ficar em 12,1 pontos. A confiança dos construtores subiu para 90 pontos em novembro, novo recorde, a construção de novas de residências de outubro subiu 4,9% de previsão de +2,5% e novas permissões ficaram estáveis. As vendas de imóveis usados com +4,3% em outubro, no maior nível em 14 anos.

A semana contou com discursos de muitos dirigentes regionais do FED e do próprio presidente Jerome Powell, além de Christine Lagarde do BCE (BC Europeu). Todos bastante preocupados com a segunda onda da covid-19 e novas ações que poderiam ser feitas, mas foi quase unanimidade que, nesse momento, políticas fiscais são mais eficientes. Porém, são poucos os países que ainda têm folga fiscal. Para complicar um pouco mais, o secretário do Tesouro, Mnuchin, informou ao FED que não irá prorrogar o programa de apoio ao crédito.

No cenário local, mais uma polêmica relacionada a Bolsonaro. Em reunião dos BRICS ele se contrapôs ao multilateralismo pregado por Xi Jinping e também nas questões de meio ambiente e disse que divulgaria lista de países que compram madeira extraída ilegalmente da Amazônia, citando, por exemplo, a Dinamarca. Depois de muita polêmica e diplomacia em alerta, dois dias depois, disse que não divulgaria mais.

Com isso, nossas relações diplomáticas com a China pioraram um pouco (tem ainda a discussão sobre 5G acontecendo), e nossas exportações agrícolas podem sair prejudicadas. Bolsonaro também se expôs de forma inadequada nas eleições municipais e colheu resultados negativos.

Já o ministro Paulo Guedes falou em diferentes oportunidades ao longo da semana tentando forçar a discussão e votação de itens fundamentais para o país, mas não teve eco. Após lembrar de período anterior a hiperinflação, na semana disse que pode gastar reservas para reduzir endividamento. Se for para isso, menos mau. Paulo Guedes quer agilidade no orçamento e principalmente desindexar, desvincular e desobrigar despesas públicas. Mas disse que se houver segunda onda de contágio por aqui, fará como fez no primeiro episódio. Guedes ainda citou que o país pode crescer mais de 4% em 2021 e que há conluio da oposição para barrar privatizações.

O Senado fez algumas votações durante a semana, todas ampliando gastos, mas é fato que nada andamos no que era mais fundamental. O presidente do Bacen chamou a atenção ao dizer que o governo precisa ajustar a narrativa sobre meio ambiente e não se disse preocupado com a expansão da inflação no curto prazo. Já o ex-presidente do banco central, Ilan Goldfajn, disse não haver espaço para inação, e que as reformas deveriam ser para ontem. Isso acabou reabrindo as discussões sobre a possibilidade de dominância fiscal, situação que o Bacen acaba perdendo o controle sobre a política monetária.

Em termos de economia, indicadores melhores na pesquisa Focus semanal do Bacen. O saldo da balança comercial até a segunda semana de novembro acumulava superávit de US$ 2,05 bilhões e no ano subindo para US$ 49,48 bilhões. Também tivemos a segunda prévia do IGP-M de novembro com alta de 3,05, e acumulando em 2020 inflação de 21,70% e em 12 meses de 24,25%. Melhor mesmo foi o fluxo cambial até 13/11 divulgado pelo Bacen, positivo em US$ 3,3 bilhões e entradas pelo canal financeiro de US$ 6,16 bilhões, mesmo considerando que no ano, as saídas remontam a US$ 46,6 bilhões e já estiveram próximas de US$ 90 bilhões.

Na Bovespa, semana de vencimento de opções para o prazo de novembro com volume de exercícios de R$ 14 bilhões. A presença dos investidores estrangeiros foi marcante na B3 com fluxo líquido positivo em todos os dias de novembro até 18/11 e estabelecendo recorde de ingresso no mês de R$ 25,7 bilhões. No ano de 2020, ainda temos saídas líquidas de R$ 59,16 bilhões. Por conta da volatilidade e aversão ao risco, dólar e juros flutuaram bastante.

Indicadores da Semana

IBOVESPA +1,26(106.042) 

DOW JONES -0,73%

NASDAQ +0,21%

DÓLAR -1,29% (R$ 5,30)


Perspectivas

A próxima semana traz como ponto focal dos investidores o desenvolvimento ou não da segunda onda da covid-19, muito forte na Europa ocidental e também nos EUA. Lembramos que o FMI pediu uma ação conjunta para debelar a crise e o G-20 estará mobilizado nisso. Mas até aqui não vimos nenhuma ação mais contundente de governos e bancos centrais (somente muitos discursos).

Com a derrota de Donald Trump praticamente sacramentada pela Justiça americana, a situação por lá pode ficar mais confortável para a transição e principalmente facilitada para termos, finalmente, um novo pacote de estímulo fiscal. O mundo financeiro pode também ficar mais tranquilo de não ter que acordar com os sustos produzidos por Trump.

Além disso, seguindo o noticiário internacional, há boas chances de alguma definição com relação ao pós-Brexit, nas negociações entre o Reino Unido e a União Europeia.

Aqui, vamos continuar com a questão fiscal na ordem do dia das preocupações dos investidores, o que pode manter a volatilidade dos ativos de risco principalmente do câmbio e juros. Também vamos ter ainda as repercussões da fala de Bolsonaro, da paralisia decisória do governo e Congresso Nacional.

No mercado, nas duas últimas semanas, vimos como é importante o fluxo de recursos dos investidores estrangeiros para os mercados. Se pudermos contar com mais ingressos, haverá certamente mais espaço para o objetivo traçado de 110 mil pontos, lembramos que já chegamos novamente próximo de 108 mil pontos. Só não seria bom perder o patamar de 105 mil pontos, ou ainda a casa dos 103 mil pontos.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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