A Bovespa passou boa parte do dia remando contra a maré de queda dos principais mercados acionários do mundo, pois o mercado americano só veio ter melhora modesta mais para o meio da tarde (depois mergulhou para queda novamente), enquanto as principais Bolsas da Europa tiveram dia de queda. Aqui chegamos a abrir no campo negativo, mas em seguida firmamos alta, com o índice na máxima em 97.109 pontos.

A melhor explicação temos que repetir. O fluxo de recursos para ações no Brasil vem crescendo na razão direta da queda da taxa básica de juros e insatisfação dos investidores com as aplicações tradicionais em renda fixa. Faz algum tempo que já identificávamos a possibilidade de o dividend yield (retorno dos dividendos) superarem a rentabilidade da renda fixa, agora atrapalhada pela pandemia.

Hoje os mercados domésticos não deram muita ênfase a prisão de Fabricio Queiroz ligado a família Bolsonaro, ao mesmo tempo buscaram investimentos de maior risco diante da decisão do Copom de reduzir a Selic e deixar um espaço para novas quedas, colocando os juros reais negativos.

No exterior, a decisão do BOE (BC inglês) de manter juros em 0,10% e ampliar em 100 bilhões de libras o programa de flexibilização, para 745 bilhões de libras (US$ 935 bilhões) meio que frustrou expectativas e provocou queda das Bolsas na Europa, com analistas acreditando que terão que fazer bem mais. Além disso, voltou ao radar os problemas de um Brexit sem acordo e com a União Europeia dizendo que irá aplicar controle alfandegário completo ao Reino Unido.

O FMI declarou que 70 países receberam ajuda extraordinário por conta da pandemia e nos EUA a presidente da Câmara, Nancy Pelosi (oposição) quer aprovar estímulos em pagamentos diretos e em infraestrutura. Já o secretário de comércio Ross disse que os EUA já colocaram US$ 400 bilhões em ajuda financeira aos americanos. Nessa mesma linha vai a presidente do FED de Cleveland, Loretta Mester apoiando política monetária acomodatícia por bom tempo e descartando juros negativos na economia.

Já a Câmara de Comércio americana pediu que a China acelere a implementação do acordo comercial em sua primeira fase, mesmo considerando as dificuldades da crise. O laboratório Eli Lilly está iniciando testes de medicamento com pacientes internados pela covid-19. Os pedidos de auxílio-desemprego da semana anterior encolheram 58 mil posições, mas somam 1,5 milhão, acima do previsto de 1,3 milhão.

No mercado internacional, ainda existe preocupação com os acordos da OPEP+, mas a situação parece caminhar bem para manutenção do corte de produção de 9,7 milhões de barris/dia pelos membros. Isso trouxe alento ao preço do barril no mercado internacional, e o óleo WTI negociado em NY mostrava alta de 1,95%, com o barril em US$ 38,70. O euro era transacionado em queda para US$ 1,12 e os notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,70%. O ouro e a prata com quedas na Comex e commodities agrícolas com viés negativo na Bolsa de Chicago.

No segmento local, preocupações com a prisão de Queiroz em Atibaia e com sua mulher sendo considerada foragida, além de devassar em outros assessores do senador Flavio Bolsonaro. Qual será a reação do presidente, já que pela manhã não deu a tradicional parada para cumprimentar apoiadores? Em seminário realizado hoje, diretor do BC disse que espera para breve a regulação da compra de ativos de crédito pelo Bacen. No final da tarde, como comentado, o ministro Weintraub ao lado de Bolsonaro anunciou desligamento do ministério.

O dia foi de anúncio do IBC-Br de abril, considerada uma prévia do PIB com queda de 9,37%, um pouco melhor do que estava sendo esperado, mas gerando contração no ano de 4,5% e contração no trimestre encerrado em abril de 6,9%. Isso deixou mais forte a leitura de que o Copom pode voltar a reduzir juros na reunião do início de agosto. Já a Petrobras anunciou elevação do preço da gasolina em 5% e do diesel em 8%. A área econômica espera forte aumento da dívida pública em 2020 e sem muito o que fazer.

No mercado, dia de juros em alta para títulos mais longos e o dólar mostrando alta de 2,47% no encerramento, com a moeda cotada a R$ 5,38. Na Bovespa, na sessão de 16/6, os investidores estrangeiros voltaram a retirar recursos do mercado no montante de R$ 294 milhões, deixando o saldo de junho ainda positivo em R$ 2,08 bilhões e saída líquida no ano de 2020 de R$ 74,77 bilhões.

No mercado acionário, dia de queda da Bolsa de Londres de 0,47%, Paris com -0,75% e Frankfurt com -0,81%. Madri e Milão com perdas de respectivamente 1,18% e 0,51%. No mercado americano, dia de Dow Jones oscilando entre positivo e negativo e fechando em -0,15% e Nasdaq com +0,33%. Na Bovespa, dia de alta de 0,60% e índice em 96.125 pontos.

Destaque para a forte alta de Itaú com +3,92%.

Na agenda de amanhã, nenhum indicador com capacidade de interferir na tendência dos mercados, mas teremos vários discursos de dirigentes do FED, incluindo o presidente Jerome Powell.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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