Os mercados mostraram claramente o otimismo com a reabertura das economias, com o esforço dos governos e bancos centrais em prover recursos para vulneráveis (pessoas e empresas) e com o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19. Mercado também segue não levando muita fé em imbróglio maior entre a China e os EUA, apesar dos novos lances de hoje, agora envolvendo a presidente da Câmara Nancy Pelosi, ao dizer que Xi Jinping é tirano e fere a autonomia de Hong Kong. Também tivemos carta conjunta do Reino Unido, Austrália, Canadá e EUA, sobre esse tema.

Aqui a situação é um pouco mais complicada, com o presidente voltando a criticar o STF, seu filho falando em momento de ruptura e medidas enérgicas e a PGR querendo que o STF tranque inquérito de Weintraub e as investigações sobre as fake news. Isso explica o mercado mais temeroso hoje por aqui e realizando lucros recentes. Rodrigo Maia confirmou que as declarações do presidente hoje foram no sentido inverso ao que estavam construindo, gerando insegurança. Acredita que o projeto de lei das fake news será importante e espera que o valor do benefício seja estendido e sem redução de valor.

No exterior foi divulgada segunda leitura do PIB do primeiro trimestre com queda anualizada de 5%, quando o previsto era -4,8%. A inflação do trimestre pelo PCE anualizada foi de 1,3%, com núcleo em 1,6%. Os pedidos de auxílio-desemprego também encolheram menos que o previsto com queda de 323 mil, para total de pedidos de 2,12 milhões. As encomendas de bens duráveis registraram queda de 17,2%, também um pouco pior que o previsto.

Também tivemos dirigentes do FED discursando e John Williams de NY disse que os setores de construção, indústria e varejo deve sair na frente na recuperação. Segundo ele, a inflação vai ficar abaixo dos últimos anos, não vê problemas com o déficit público e que juros negativos não fazem sentido para o momento.

O FMI disse que os emergentes arrecadaram US$ 77 bilhões em emissões de dívidas e o Fundo projeta que 127 países terão contração do PIB em 2020. Além disso, projetam que deve haver mais medidas tomadas. Angela Merkel foi nessa direção dizendo que o FMI deve considerar mais medidas para mitigar efeitos da covid-19. O Banco Mundial projeta que a taxa de pobreza deve avançar em 2020, coisa que não acontecia desde 1998.

A OCDE também indica que o comércio entre países do G-20 encolheu muito no primeiro trimestre e deve ser pior no segundo. No mercado internacional, o petróleo WTI inverteu tendência de queda e subiu na parte da tarde, mesmo considerando o aumento de estoque na semana anterior. O petróleo WTI negociado em NY mostrava alta de 3,32%, com o barril cotado a US$ 33,90. O euro era transacionado em alta para 1,11 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,68%. O ouro em queda e a prata em alta na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago. O minério de ferro na China fechou com alta de 1,80% e a tonelada em US$ 97,09.

Aqui, o IBGE anunciou dados da PNAD Contínua do trimestre encerrado em abril, com a taxa de desemprego subindo para 12,6% e renda real em alta contra igual período de 2019 com +2,5%. Mas faltava emprego para 28,7 milhões de pessoas, a informalidade abrangia 38,8% (34,6 milhões de pessoas) e a população ocupada encolheu para 89,2 milhões de pessoas.

Já o Bacen apurou que a concessão de crédito em abril contraiu 28,3%, com o estoque de crédito em R$ 3,6 trilhões e representando 49,2% do PIB. A inadimplência média subiu para 4%, de anterior em 3,8%, e o endividamento das famílias atingiu 45,9%.

O Tesouro também divulgou o déficit do governo central em abril em R$ 92,9 bilhões, o pior da série, e vai piorar ainda mais no próximo mês. O déficit primário do setor público em 2020 foi projetado em R$ 708 bilhões, algo como 9,9% do PIB, mas há quem projete chegar até 12%.

O secretário do Tesouro Mansueto de Almeida, sempre lúcido, estima forte queda da arrecadação em maio e junho, anunciou a transferência de socorro aos Estados e Municípios na próxima semana e se mostra preocupado com diálogo com o Congresso para engendrar reformas no pós-crise. Possivelmente terão que cortar gasto de ministérios para ficar no teto de gastos.

No mercado local, dia de DIs oscilando muito e fechando com juros em alta para os mais longos. Bovespa, na sessão de 26/5, os investidores estrangeiros alocaram R$ 283,2 milhões, deixando o saldo negativo de maio em R$ 6,48 bilhões e o ano com saídas líquidas de R$ 75,89 bilhões.

No mercado acionário, dia de alta da Bolsa de Londres de 1,21%, Paris com +1,76% e Frankfurt com +1,06%. Madri e Milão com altas de respectivamente 0,29% e 2,46%. No mercado americano, o Dow Jones com -0,58% e Nasdaq com -0,46%. Na Bovespa, dia de muitas oscilações e realizações de lucros recentes para fechar com -1,13% e índice em 86.949 pontos. Os investidores no mundo ficaram preocupados com a coletiva de Trump de amanhã para falar sobre a China.

Na agenda de amanhã teremos o PIB do Brasil no primeiro trimestre a nota de política fiscal de abril. Nos EUA, o saldo comercial de abril, a renda e gasto pessoal, o PCE de abril, a confiança do consumidor de maio e discurso de Jerome Powell, presidente do FED.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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