Se fosse somente uma substituição da presidência da Petrobras, até que tudo bem, apesar da forma feita. O problema é que mexeu com as expectativas e deu margem para a crença de caminho para o populismo fiscal, além de mexer com outras variáveis super importantes como estimativa do PIB, câmbio e juros. Mais diretamente com outras ações onde o governo domina e o mercado acionário na totalidade. O melhor exemplo da alteração de expectativas está no CDS (Credit Default Swap) do Brasil que pulou de menos de 160 pontos para 190 pontos. Ou seja, instantaneamente elevou o prêmio de risco do Brasil.

Na mínima do dia, a ação preferencial de Petrobras chegou a cair mais de 21%, enquanto Banco do Brasil e Eletrobras também derretiam, levando de roldão outras ações, notadamente as mais líquidas, num dia complicado de mercados fracos no exterior e vencimento de derivativos na Bovespa com horário prorrogado. Resumindo, um dia tenso em que o Bacen teve que intervir com operação de swap cambial para aplacar alta de mais de 2% na cotação. Bolsonaro também seguiu falando, o que agravou ainda mais a situação, ao mesmo tempo, seguem as ameaças do setor elétrico.

No exterior, o Irã mostrou disposição de negociar o acordo nuclear com os EUA, e as agências internacionais anunciavam ataque de três foguetes à embaixada dos EUA em Bagdá. A secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse que o desemprego real nos EUA está próximo de 10%, com espaço para mais estímulos com os juros em queda, e que o sistema financeiro está bem diante da pandemia. O presidente Biden também anunciou programa de empréstimos para pequenas empresas e agradeceu o empenho dos políticos para aprovar pacote de estímulo. Ainda nos EUA, o índice de atividade nacional de Chicago subiu para 0,66 pontos.

O FMI anunciou que em 2020 cerca de 90% dos países registraram contração do PIB, o pior desempenho em tempos de paz. Mas ações coordenadas evitaram o pior. Esperam crescimento global em 2021 de 5,5% e a União Europeia com +4,2%, mas com trajetória incerta.

No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava forte alta de 3,80%, com o barril cotado a US$ 61,49. O euro era transacionado em alta para US$ 1,215 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,34%. O ouro e a prata com boas altas na Comex e commodities agrícolas com altas na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado na China encerrou negócios em alta de 1,39%, com a tonelada em US$ 175,96.

No segmento local, começaram a sair tópicos da PEC Emergencial que pode ser votada nessa semana, com o relatório indicando que o auxílio emergencial fica fora da regra de ouro, meta fiscal e teto de gastos. Legalmente não fura, mas certamente o país vai se endividar ainda mais. Está vingando R$ 250 por quatro meses e abrangendo cerca de 40 milhões de pessoas. Sem contrapartida até o momento, e com acionamento de gatilho quando despesas superarem 95% da receita. O relatório também define estado de emergência, fiscal e calamidade. Ainda do lado político, Bolsonaro seguiu na pressão, se dizendo insatisfeito com reajustes de combustíveis, enquanto todos esperam a confirmação das ameaças sobre novas mexidas.

Na economia, Paulo Guedes anda sumido e a pesquisa Focus veio pior, e ainda sem capturar as mudanças de direção. Inflação esperada subindo para 3,82%, Selic indo para 4% e PIB de 2021 encolhendo para alta de 3,29%. Dólar também acelerando no final de 2021 para R$ 5,05 e saldo comercial com superávit menor, em US$ 56 bilhões.

Aliás, até a terceira semana de fevereiro, a balança comercial mostrava déficit acumulado de US$ 915 milhões.

O dólar, apesar de mais fraco no mercado internacional, por aqui, teve alta forte logo no início da manhã, para encerrar com +1,27% e cotado a R$ 5,454, com intervenção do Bacen. Na Bovespa, na sessão de 18/2, os investidores estrangeiros alocaram recursos no montante de R$ 97,5 milhões, deixando o saldo positivo de fevereiro em R$ 4,56 bilhões e o ano de 2021 com entradas líquidas de R$ 28,12 bilhões.

No mercado internacional, queda da Bolsa de Londres de 0,18%, Paris com -0,11% e Frankfurt com -0,31%. Madri e Milão com quedas de respectivamente 0,91% e 0,55%. No mercado americano, o Dow Jones com +0,09% e Nasdaq com -2,46%. Na Bovespa, fechamento com queda de 4,87% e índice em 112.667 pontos, e, na mínima do dia, em 111.650 pontos. Petrobras fechou com -21,5%.

Na agenda de amanhã teremos o IPC-S da terceira quadrissemana de fevereiro e, nos EUA, o índice de atividade industrial de Richmond e a confiança do consumidor de fevereiro.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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