Hoje foi dia de reversão de tendência nos principais mercados acionários do mundo e desequilíbrios no câmbio. Em nosso comentário de fechamento de ontem já identificávamos essa possibilidade e ressaltávamos a advertência de formadores de opinião sobre reajustes nos mercados de risco. Logo cedo, as Bolsas europeias mantinham boas altas, ajustando aos sucessivos recordes dos índices acionários americanos, enquanto os indicadores americanos transitavam no negativo ou próximo da estabilidade.

Também cedo, foram anunciados indicadores de atividade em serviços fracos para a Alemanha e zona do euro, com as vendas no varejo encolhendo na zona do euro, 1,3%, enquanto o previsto era expansão de 1,2%. Pouco depois, tivemos indicadores de serviços fracos também nos EUA, com o PMI subindo para 55 pontos e queda no ISM para 56,9 pontos. Foi o que bastou para os investidores começarem a realizar lucro inicialmente no setor de tecnologia (Apple e Facebook despencaram), estendendo para os demais segmentos. Começaram a surgir preocupações mais fortes de desaceleração econômica e boatos sobre paralisação de parte do governo americano, mesmo com acordo informal entre a presidente da Câmara americana, Nancy Pelosi e o secretário do Tesouro, Mnuchin.

Foi o que bastou também para que os mercados da Europa seguissem igual trajetória e também na Bovespa, depois de boa alta e de ter feito máxima no dia em 103.225 pontos. Aqui, também as ações ligadas a e-commerce passaram a ter pressão vendedora reforçada pelo anúncio de mais um centro de distribuição da Amazon em Cajamar (SDP). Também irradiou para outros segmentos e ações que tinham evoluído muito, e alguma substituição por ações do setor financeiro que ficaram bastante atrasadas nessa recuperação da Bovespa.

Ainda nos EUA o déficit da balança comercial de julho cresceu 18,9%, para US$ 63,6 bilhões, de anterior em US$ 58,1 bilhões no mês de junho. Os pedidos de auxílio-desemprego da semana é que encolheram 130 mil posições para total de 881 mil pedidos, quando o previsto era 950 mil. Discursos de dirigentes regionais do FED como Bostic (Atlanta) e Charles Evans (Chicago) concluíram que a recuperação está ocorrendo de forma desigual e que a economia necessita de mais apoio com políticas fiscais.

No mercado internacional, mais uma rodada de aversão ao risco. O petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de 0,72%, com o barril cotado a US$ 41,21. O euro era transacionado em leve queda para US$ 1,185 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros em 0,65%. O ouro e a prata negociados na Comex com perdas e commodities agrícolas com viés mais para queda. O minério de ferro é que voltou a operar em alta durante a madrugada na China, com valorização de 2,05% e a tonelada em US$ 129,92.

No segmento local, o governo apresentou dados da reforma administrativa proposta, que Rodrigo Maia pretende acelerar tramitação na comissão mista. O projeto não mexe com o status quo do funcionalismo o atual, com a premissa de não mexer em salários e estabilidade. Porém, para os novos funcionários, cria cinco tipos de vínculos e somente um com estabilidade. Acaba com muitos penduricalhos como licença-prêmio, aumentos retroativos férias maiores que 30 dias, adicionais por tempo, promoção e progressão.

Os investidores gostaram, mas também ponderaram que não melhora a situação fiscal, ao contrário pode trazer desleixo na aprovação da reforma tributária e os maiores efeitos só começariam a acontecer em alguns anos, com aposentadoria mais pesada de servidores. De qualquer forma acabou vindo na direção certa de lutar contra privilégios. O IBGE também anunciou a produção industrial de julho maior que a mediana das previsões, com expansão de 8% (previsto era +5,9%), mas com queda de 3% contra igual período de 2019. No ano, a queda acumulada está em 9,6% e houve recuo em 11 de 26 ramos pesquisados.

No mercado, o dólar teve dia de queda de 1,05% e fechou cotado a R$ 5,293. Na Bovespa, na sessão de 1/9, os investidores estrangeiros alocaram recursos no montante de R$ 103,1, depois da forte retirada da véspera de R$ 1,9 bilhão, deixando a saída líquida do ano de 2020 em R$ 85,25 bilhões.

No mercado acionário, dia de reversão em todas as principais Bolsas europeias. Londres encerrou com -1,52%, Paris com -0,44% e Frankfurt com -1,40%. Madri ainda conseguiu fechar com +0,13% e Milão com -1,54%. No mercado americano, dia de Dow Jones com queda de 2,78% e Nasdaq despencando em 3,50%, mas chegou a perder 5,5%. Na Bovespa, mercado em queda de 1,17% e índice em 100.721 pontos. Entre a máxima e a mínima foram quase 3.500 pontos e escaparam os bancos por mudanças de carteiras.

Na agenda de amanhã o principal dado será o Payroll de agosto com a criação de vagas na economia americana (setores público e privado) e a taxa de desemprego. Aqui, teremos dados do setor automotivo.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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