Ontem a Bovespa operou na contramão dos mercados acionários no exterior e encerrou com perda de 1,07% e índice em 114.978 pontos (na mínima chegou a 113.619 pontos), enquanto o dólar valorizou 0,59%, cotado no fechamento em R$ 5,52, mesmo com queda no exterior. Pressões políticas determinadas pela expansão da covid-19 sobre Bolsonaro deixaram investidores estressados e estrangeiros na posição vendedora logo no início da sessão. Problemas com a Turquia pioraram um pouco mais o quadro.
Hoje mercados em queda em todo o mundo. Na Ásia fechamento negativo, com destaque para Hong Kong e Seul, Europa em queda desde a abertura e futuros do mercado americano com comportamento negativo. Aqui, não deveríamos perder o patamar pouco abaixo de 113.500 pontos, sob pena de acelerar vendas.
Investidores voltam a ficar preocupados com a nova expansão de covid-19 e extensão do período de isolamento em diferentes países, notadamente na Europa. Também pesa a situação frágil da Turquia acelerada pela troca de presidente do banco central, podendo afetar outros emergentes, mas a sensação é de que o contágio nesse caso não seria alto.
Michelle Bowman, membro do Conselho do FED, acredita que os EUA possam crescer neste ano entre 5,8% e 6,6%, com taxa de desemprego de 4,5%. Além disso, a inflação em alta parece ser temporária. Mas a expectativa de hoje reside nos discursos de Jerome Powell (presidente do FED), e Janet Yellen (Tesouro), na Câmara americana a partir das 13 horas de Brasília.
No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava forte queda nesse início de manhã, com -3,53% e barril cotado em US$ 59,39. O euro tinha queda para US$ 1,19 e notes americanos de 10 anos também com juros em queda para 1,625%. O ouro e a prata mostravam perdas na Comex e commodities agrícolas com viés de alta na Bolsa de Chicago.
Aqui, o Copom começou a divulgar sua ata mais dura ampliando a previsão de inflação em 2021 para 5% acima da meta, e diz não ser preciso a prescrição de estímulos extraordinários. Volta a comentar sobre reformas e ajustes serem essenciais e que o questionamento de ajustes das contas públicas podem elevar os juros estruturais. Mantêm que o balanço de risco vai nas duas direções e risco fiscal elevado.
Já a FGV anunciou a confiança do consumidor de março com queda de 9,8 pontos para 68,2 pontos, e a inflação pelo IPC-S da terceira semana acelerando para 1,03%, vindo de anterior em 0,88%. Sem aprovação da LOA (Lei do Orçamento Anual) de 2021, a área econômica vê a necessidade de cortar R$ 17,5 bilhões para não ferir o teto de gastos com despesas maiores de INSS, seguro desemprego e gastos de pessoal, incluindo militares com aumento de soldo. Prevê déficit primário de R$ 226,2 bilhões em 2021. No balanço da covid-19, temos 295 mil mortes, infectados atingindo 12 milhões e já vacinados em 12,3 milhões.
A agenda do dia tem capacidade de mexer com os mercados, especialmente os discursos de Powell e Yellen e o índice de atividade industrial de Richmond de março. Expectativa para início do dia é de queda da Bovespa seguindo exterior, dólar mais forte e juros em alta.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado