O dia foi melhor que poderíamos supor para os mercados de risco no mundo, e principalmente para o Brasil. É certo que a expectativa dominante era mais para positiva, em função dos anúncios de medicamentos contra o Covid-19 (e vacinas) e a abertura econômica promovida por países e cidades. Mas também existiam as relações entre EUA e China em deterioração, países emergentes com frágil situação fiscal e empresas quebrando ou inadimplentes.
Ontem, o presidente do FED não foi tão positivo em entrevista dizendo que a situação só melhoria mesmo quanto houvesse medicamento disponível ou vacina e a confiança do consumidor retornasse. Porém, afirmou que o segundo semestre seria bem melhor, mas o desemprego podia chegar até 25% e a queda do PIB no segundo trimestre seria histórica.
Ao longo do dia, a situação foi melhorando ainda mais com anúncio de sucesso da empresa americana Moderna com teste de vacina bem-sucedido e suas ações em forte alta desde o pré-mercado. Além disso, França e Alemanha divulgaram a criação de um fundo de 500 bilhões de euros para combate aos impactos do Covid-19, tendo como objetivo a saída forte da Europa da crise e com a comissão europeia definindo onde e quando os recursos seriam investidos reforçando a união da região. Também veio somar aos esforços empreendidos pelo BCE (BC europeu).
Na Alemanha, o Bundesbank declarou que a atividade econômica será ainda pior no segundo trimestre, depois da queda do primeiro trimestre de 2,2% e de entrar tecnicamente em recessão.
Apesar disso, os EUA diziam que seria preciso entender a responsabilidade da China com a pandemia e a China falando sobre perseguição contra a gigante de tecnologia Huawei. A percepção é que o desgaste nas relações pode levar ao não cumprimento dos acordos comerciais firmados para a fase 1, e a guerra tecnológica entre os dois países pode estar longe de acabar. Ainda na China, o PBOC (BC chinês) indicou que implementará mais medidas macroeconômicas precisas e eficazes. No Chile, o PIB referente ao primeiro trimestre de 2020 mostrou expansão de 0,4% na comparação anual.
No mercado internacional, o grande destaque ficou mesmo para o petróleo em alta forte durante todo o dia, estimulando por aqui a recuperação de Petrobras. O petróleo WTI negociado em NY mostrava alta de 10,23% e com o barril cotado a US$ 32,44. O euro era transacionado em alta para US$ 1,09 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,74%. O ouro em queda e a prata em alta na Comex e commodities agrícolas com altas na Bolsa de Chicago. O minério de ferro negociado na China teve alta durante a madrugada de 3,41%, com a tonelada em US$ 96,84, ajudando também as ações de Vale e siderúrgicas por aqui.
No segmento local, a nova pesquisa semanal Focus veio novamente ruim, com a inflação em queda para 1,59% (anterior em 1,76%), Selic indo no final do ano para 2,25% (pode cair ainda mais), PIB piorando para -5,12% 9de -4,11%) e dólar subindo para R$ 5,28. A produção industrial em queda para -3,63%e só melhorando o superávit comercial para US$ 43,35 bilhões e o déficit nominal atingindo 12%. Ao longo do dia saíram outras reformulações de PIB realizadas por instituições, todas sem exceções piores.
A agência de classificação de risco Moody’s deu um crédito de confiança ao Brasil acreditando que a política fiscal será retomada após a crise. Com isso manteve a classificação de Ba2, com perspectiva estável, mas afirmando que a manutenção do teto de gastos é crítica para consolidação fiscal. O lado político também está no radar da Agência. O saldo da balança comercial da segunda semana de maio mostrou superávit de US$ 1,3 bilhão e no ano acumula US$ 15,5 bilhões.
Outra situação positiva (pelo menos temporária está na retirada de pauta do Senado nessa semana dois temas sensíveis, como limite de juros do cheque especial e aumento da CSLL. Já Marcos Lisboa do Insper, disse que o governo está tomando medidas desencontradas que podem piorar a crise e que o problema não é de crédito, liquidez e sim de solvência.
No mercado local, dia de DIs com comportamento de queda e dólar cedendo 2,03% e fechando em R$ 5,721 Na Bovespa, na sessão de 14/5 os investidores estrangeiros sacaram recursos no valor de R$ 1,37 bilhão com o saldo do mês negativo em R$ 6,4 bilhões e o ano com saídas líquidas de R$ 75,8 bilhões.
No mercado acionário, dia de alta em Londres de 4,29%, Paris com 5,16% e Frankfurt com +5,67%. Madri e Milão com altas de respectivamente 4,70% e 3,26%. No mercado americano, o Dow Jones com +3,85% e Nasdaq com 2,44%. Na Bovespa, alta de 4,69% e índice em 81.194 pontos. Vamos ver se agora conseguimos manter esse patamar.
Na agenda de amanhã teremos o IPC da Fipe da segunda quadrissemana de maio, construção de novas residências e permissões de abril e discursos de dirigentes do FED, incluindo o presidente Jerome Powell.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado