Os mercados no mundo e também aqui foram sensibilizados por duas questões de maior importância. De um lado a expectativa com declarações de Jerome Powell, presidente do FED, no encontro de bancos centrais em Jackson Hole, e de outro pela questão fiscal brasileira que a todos preocupa, principalmente por uma questão de mais longo prazo.

Com relação ao discurso de Jerome Powell, veio dentro do esperado, com o FED mudando sua postura diante da inflação. As discussões internas vinham desde 2019 e agora viraram realidades, com o FED trabalhando com a média ao redor da meta de 2%, sem uma fórmula matemática que a identifique, mas não deixando explodir. Essa flexibilidade de inflação média permite supor que os juros continuaram muito baixos por longo período (podemos citar 2024) e grande preocupação com emprego. Powell citou, inclusive, que quando estavam no pleno emprego, não havia maior pressão inflacionaria.

A fala de Powell foi bastante suave e reverteu a tendência dos mercados, mas a volatilidade foi a tônica do dia, com mercados oscilando entre positivo em negativo, inclusive no Brasil. Tanto isso é verdade que, o índice VIX, apelidado como o “índice do pânico”, teve alta expressiva de 15,6%, marcando 26,9 pontos.

Já no Brasil, o quadro fiscal tem imposto atuação mais prudente dos investidores no geral, com os estrangeiros ainda sacando recursos do país, seja na renda fixa ou mesmo na Bovespa. Esse imbróglio pode começar a ser destrinchado a partir de amanhã, prazo fatal dado por Bolsonaro para que a equipe econômica altere o programa Renda Brasil. Porém, muita coisa ainda terá que acontecer para acalmar os investidores. Enquanto isso, a volatilidade vai permanecer nos mercados de risco.

Além de Powell discursando, nos EUA tivemos a divulgação da segunda leitura do PIB do segundo trimestre mais positiva com queda de 31,7% (previsão para o trimestre era de 32,4%) e o deflator de preços do consumo com queda para 1,8% e núcleo em -1%. Os pedidos de auxílio-desemprego encolheram na semana em 98 mil posições para 1 milhão de pedidos, e os pedidos continuados caíram 223 mil posições. As vendas pendentes de imóveis cresceram 5,9% em julho, quando a previsão era +3,5%.

Na linha do FED, o BCE (BC europeu) também deve fazer revisão de sua estratégia para o próximo ano, mas lá, os juros já estão no campo negativo. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de 1,20%, principalmente após o furacão Laura ser rebaixado para categoria 1, ao entrar nos EUA. O euro era transacionado praticamente estável em US$ 1,183 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,74%, com forte alta. O ouro e a prata com quedas na Comex e commodities agrícolas com altas na Bolsa de Chicago. O minério de ferro teve dia de queda de 1,59% na China, com a tonelada em US$ 122,22.

No segmento doméstico, a FGV mostrou a confiança da indústria em alta de 8,9 pontos em agosto, para 98,7 pontos e a Camex (Câmara de Comércio Exterior) zerou tarifas de importação de máquinas e equipamentos ex-tarifários. O noticiário também dá conta de queda-de-braço na equipe econômica com relação ao Bacen repassar lucro para o Tesouro, postura diferente de Roberto Campos nessa semana em entrevista.

O TCU apurou gestão temerária no antigo fundo soberano Brasil na capitalização da Petrobras, e convocou o ex-ministro Mantega e Arno Augustin para darem explicações sobre a operação. Na sequência dos mercados, aqui, o dólar encerrou em queda de 0,66% e cotado a R$ 5,578. Na Bovespa, na sessão de 25/8, os investidores estrangeiros voltaram a sacar recursos no montante de R$ 311,2 milhões, deixando o saldo de agosto ainda positivo em R$ 1,41 bilhão, mas com saídas líquidas em 2020 no total de R$ 83,5 bilhões.

No mercado acionário, dia de queda da Bolsa de Londres de 0,75%, Paris com -0,64% e Frankfurt com -0,71%. Madri e Milão com quedas de respectivamente 0,45% e 1,44%. No mercado americano, o Dow Jones com +0,57% e Nasdaq com -0,34%. Na Bovespa, muita variação entre positivo e negativo, para fechar estável e índice em 100.623 pontos. Destaque para a recuperação do setor bancário.

Na agenda lotada de amanhã, o IGP-M de agosto, dados da PNAD continua do segundo trimestre, a nota de política monetária e resultado do governo central de julho. Nos EUA, o saldo comercial de julho, a renda e gasto pessoal, o deflator do consumo (PCE) de julho e a confiança do consumidor de Michigan de agosto.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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