Bottom Line:
• IPCA de abril variou 1,06%, acima da nossa expectativa (0,83%) e da mediana do mercado (1,01%);
• IPCA em 12 meses acumula alta de 12,13%;
• Este resultado reforça a nossa perspectiva de mais duas elevações da Selic no ciclo, atingindo 13,75% em agosto.
Comentário:
O IPCA de março variou 1,06%, acima da nossa expectativa (0,83%) e da mediana do mercado (1,01%).
Pelos grupos, a maior surpresa positiva ocorreu em Saúde e Cuidados Pessoais, com alta acima do esperado nos preços dos remédios. Em seguida, Habitação mostrou queda menor do que o antecipado em função de surpresas altistas no preço da energia elétrica. Adicionalmente, observamos surpresa desfavorável em Alimentação e Bebidas, advinda do preço do leite, tomate, batata, e em Artigos de Residência, cujo índice de difusão atingiu notáveis 93,55%. Do lado negativo, observamos variação abaixo do esperado em Transportes devido à menor inflação de combustíveis, principalmente gasolina.
Pelas aberturas, os preços administrados ficaram acima do esperado (0,55% vs. 0,32% exp.). Nos preços livres (1,25% vs. 1,02% exp.), a surpresa altista ocorreu em todos os setores, com destaque aos bens industriais (1,21%, vs. exp. 0,94%), mas também em Serviços (0,66%, vs. exp. 0,50%) e Alimentação no Domicílio (2,59%, vs. exp. 2,30%). Nas leituras subjacentes, os industriais mostraram alta de 1,15% (vs. 0,71% exp.) e os serviços subiram 0,79% (exp. 0,61%).
A média dos cinco núcleos acompanhados pelo Banco Central seguiu em patamar elevado, atingindo 0,95% e ficando ligeiramente abaixo dos 0,98% observados no mês anterior. Em 12 meses, a medida acumula alta de 9,69%, acelerando frente aos 9,01% acumulados até março/22. Adicionalmente, o índice de difusão subiu para 78,25% (vs. 76,13% em mar/22). Além do já mencionado índice de difusão dos artigos de residência, destacamos os 90,32% de Vestuário, 87,50% de Habitação e 79,17% de Alimentação e Bebidas
Por mais um mês, observamos o IPCA com composição bastante desfavorável tanto no índice cheio quanto na ótica subjacente. A continuidade da aceleração dos núcleos e os elevados índices de difusão indicam que a inflação é disseminada entre os setores.
Ao observarmos a dinâmica de comercialização dos subitens, notamos que os alimentos puxam os bens não-comercializáveis para cima enquanto os bens industriais colocam pressão sobre os comercializáveis. Considerando a nossa premissa de que a inflação de alimentos não deve arrefecer antes do primeiro semestre de 2023 e que as incertezas sobre as cadeias globais devem manter os bens industriais elevados, enxergamos continuidade das pressões subjacentes da inflação ao longo do ano.
Por esses motivos, a divulgação do IPCA reforça a nossa perspectiva de mais duas elevações da Selic no ciclo, atingindo 13,75% em agosto.
Felipe Sichel
Sócio e economista-chefe do Modal.