Está se tornando lugar comum versarmos sobre a intensa volatilidade dos mercados de risco no mundo e bruscas mudanças de sinal intra e entre pregões. Porém, aqui a situação ainda é mais complicada, por sermos um país emergente e com boa liquidez em seus mercados.

Além disso, temos complicações adicionais, como a covid-19 descontrolada e mudanças à vista no ministério da Saúde, justo quando nos encontramos no auge do contágio e mortes. Também tivemos hoje vencimento no mercado de opções que sempre agrega mais volatilidade. 

O comportamento dos mercados hoje ilustra bem isso. Na Ásia, o fechamento foi misto durante a madrugada. A Europa começou o dia em alta e encerrou em baixa. E comportamento misto também para boa parte do dia nos EUA. Aqui, começamos com larga tensão com relação a área política, para depois recuperarmos com leve alta, não sem nova atuação do Bacen, vendendo moeda à vista.

Na verdade, dois fatores estão comandando as decisões de investimento e rotação dos ativos. De um lado, a curva de juros dos treasuries americanos influenciando taxas por todo o mundo, e de outro, os dados da covid-19, agora com diversos países criando restrições para a vacina da AstraZeneca, mas sem comprovação científica sobre incidência de coágulos em vacinados.

Nos EUA, o índice de atividade industrial de NY mostrou alta em março para 17,4 pontos, quando o esperado era que ficasse em 15 pontos. As previsões mais recentes sobre o crescimento americano indicam que pode chegar até 8%, podendo ser superior ao crescimento da China. Ainda nos EUA, o governo indica que poderá doar vacinas se houver excedente, como parece. As grandes farmacêuticas fizeram aliança para acelerar a produção e o fornecimento de vacinas.

A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) estima PIB do grupo do G-20 crescendo 2,1% no quarto trimestre, mas já mostrando desaceleração. O BIRD e o FMI pleiteiam a suspensão das dívidas de países pobres até o final do ano. Já a União Europeia, diz que vai promover ação legal contra o Reino Unido por violar regras do Brexit.

A assessoria de Biden diz que existem muitas conversas no congresso americano sobre o novo pacote de infraestrutura, uma promessa de campanha, mas vai ser difícil um acordo bipartidário. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de 0,43%, com o barril oscilando forte ao longo dia, para fechar em US$ 65,33. O euro era transacionado em queda para US$ 1,193 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,607%. O ouro e a prata com altas na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago. O minério de ferro registrou queda de 1,28% em Qingdao na China, com a tonelada em US$ 163,33.

No segmento doméstico, destaque para a pesquisa semanal Focus do Bacen, com dados bem piores. A inflação prevista para o ano subiu para 4,60% (anterior em 3,98%), a Selic foi para 4,50%, no final do ano (de 4%) e o PIB encolheu para 3,23%. Dólar subindo para R$ 5,30, mas a produção industrial subindo para 4,69%. O déficit em conta-corrente melhor para US$ 11 bilhões e saldo comercial mantido em superávit de US$ 55 bilhões. O déficit primário com expectativa de 2,90% do PIB (pior) e déficit nominal em 7,10% do PIB.

O IBC-BR de janeiro (uma aproximação do PIB expandiu 1,04% com ajuste e, contra igual período do ano anterior, com -0,48%. Em 12 meses mostra contração de 4,04%. O Bacen que já tinha anunciado previamente operação adicional de swap cambial teve que fazer nova operação no segmento à vista, de US$ 1,065 bilhão. O saldo da balança comercial até a segunda semana de março está positivo em US$ 207,6 milhões e no ano com superávit acumulado de US$ 373,9 milhões. 

Do lado político, o Congresso promulgou a PEC Emergencial que destrava o auxílio-emergencial e o governo mandou para o Congresso projeto para executar despesas condicionadas a regra de ouro antes da LOA (Lei Orçamentária Anual) permitindo execução parcial de R$ 453,7 bilhões, já que a lei só deve sair lá pela metade de abril e é preciso pagar salários e serviços essenciais. Sobre troca no ministério, o vice Mourão disse ser cargo político que depende de performance.

No mercado, dia de dólar oscilando muito para fechar com +1,44% e cotado a R$ 5,64, não sem intervenção do Bacen. Na Bovespa, na sessão de 11/3, os investidores estrangeiros sacaram R$ 1,23 bilhões, deixando o saldo negativo de março em R$ 1,75 bilhões, e o ano positivo em R$ 15,03 bilhões. 

No mercado acionário, dia de reversão para queda das Bolsas europeias, com Londres perdendo 0,17%, Paris com -0,17% também e Frankfurt com -0,28%. Madri em queda de 0,11% e Milão com alta de 0,11%.  No mercado americano, o Dow Jones com +0,53% e Nasdaq com +1,05%. Na Bovespa, dia de alta de 0,60% e índice em 114.850 pontos. 

Na agenda de amanhã teremos o IGP-10 de março pela FGV e o IPC-S da segunda quadrissemana de março. Nos EUA, saem as vendas no varejo e produção industrial de fevereiro e a confiança do construtor de março.

Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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