É nossa percepção e já expressada anteriormente que o fluxo de recursos estava voltando para o mercado local em boas doses. Isso deriva de investidores terem se antecipado a postura de bancos centrais em prover mais recursos ao sistema financeiro. Primeiro foi o Japão do primeiro-ministro Suga, depois veio o BCE (BC europeu) com reforço na compra de títulos e, ontem, o FED americano, também ampliando compras de treasuries e títulos hipotecários, além de ampliar as operações de overnight.
Junto com isso, vieram as autorizações emergenciais para distribuição e aplicação de vacinas, o sempre esperado pacote de estímulo fiscal americano, que agora parece que vai sair e algum acordo até o final de semana com relação ao Brexit. Isso trouxe mais dinheiro para a mesa e transformou a aversão ao risco em apetite ao risco. Resultado disso, os investidores foram as compras e as Bolsas voltaram a subir. Hoje, por exemplo, a Bovespa chegou a vazar a casa dos 119 mil pontos do Ibovespa.
Na União Europeia, o parlamento estabeleceu domingo como prazo final para acordo com o Reino Unido, mas pode sair alguma coisa até amanhã. O mesmo está no noticiário sobre o pacote americano, onde os líderes dos dois partidos (McConnell e Schumer) dizem que um consenso está próximo para aquele pacote de estímulos de pouco mais de US$ 900 bilhões. Ainda nos EUA, tivemos a divulgação dos pedidos de auxílio-desemprego da semana anterior, com expansão de 23 mil pedidos, para total de 855 mil, pior que o previsto que era de 808 mil pedidos. As construções de novas residências em novembro cresceram, 1,2%, quando a previsão era de -0,7% e com novas permissões expandindo 6,2%. Estados americanos entraram com novas ações antitruste contra a gigante Google.
Já o BOE (BC inglês) manteve os juros estabilizados em 0,10%, compra de títulos em 895 bilhões de libras e dizendo que vacinas vão reduzir riscos, mas a incerteza é grande. Estimaram PIB do quarto trimestre mais fraco e não pretendem apertar a política monetária até que a crise seja ultrapassada. Como outros bancos centrais se disseram prontos para mais estímulos para apoiar a economia, com certeza aguardam o desfecho das negociações com a União Europeia.
A farmacêutica Pfizer é que manteve a projeção de distribuir 50 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 ainda neste ano. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava alta de 0,71%, com o barril cotado a US$ 48,16. O euro era transacionado em alta para US$ 1,227 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,93%. O ouro e a prata com fortes altas na Comex e commodities agrícolas em alta na Bolsa de Chicago. O minério de ferro também mostrou forte alta durante a madrugada na China, com valorização de 1,30% e com a tonelada em US$ 158,49.
No segmento local, enrosco entre Rodrigo Mais e Alcolumbre com marcação de sessão do Congresso que tinha projeto favorável ao candidato Arthur Lira, sem comunicação ao presidente da Câmara que abriu sessão, mas depois houve acerto. Bolsonaro assinou MP com crédito extra para aquisição de vacinas no montante de R$ 20 bilhões. Congresso aprova crédito para governo pagar dívidas internacionais e liberar emendas. Com a ONU, governo admite dívida de US$ 390 milhões.
O relatório trimestral de inflação (RTI) do Bacen veio mais realista da situação da economia, reduziu queda do PIB para -4,4% (de -5%), piorando o consumo das famílias para -6%, investimento direto no país (IDP) em queda no ano para somente US$ 36 bilhões (de US$ 50 bilhões) e déficit melhor, para US$ 7 bilhões, de projeção anterior de US$ 10 bilhões. O RTI corrobora com retirada do forward guidance no máximo em março e início do ciclo de alta da Selic no segundo semestre. Logo em seguida, tivemos coletiva de Campos Neto e Kanczuk, que foram muito próximos do que constava da ata da última reunião do Copom e comunicado. Porém, as revisões feitas no PIB de anos seguintes mostram um Bacen menos confiante, apesar de indicarem alguma antecipação no ano em curso para justificar.
Tivemos também leilão de lotes na área de transmissão de energia, bem disputado com 55 participantes licitando, seis países presentes e deságio médio de 55,24%. No mercado, dia de dólar em queda de 0,54% e fechando cotado em R$ 5,079. Já na B3, na sessão de 15/12, os investidores estrangeiros alocaram R$ 1,31 bilhão, deixando o ingresso líquido de dezembro em R$ 9,66 bilhões, mas o ano de 2020 com saídas líquidas de R$ 41,9 bilhões.
No mercado acionário, dia da Bolsa de Londres em queda de 0,30%, Paris com +0,03% e Frankfurt com +0,75%. Madri e Milão com altas de respectivamente 0,20% e 0,12%. No mercado americano, o Dow Jones com +0,49% e Nasdaq com +0,84%. Na Bovespa, dia de alta de 0,31% e índice em 118.223, perdendo força a partir do meio da tarde.
Na agenda de amanhã nenhum indicador com grande capacidade de mexer com os mercados. A FGV anuncia a confiança da indústria de dezembro e o Bacen a nota do setor externo de novembro. Nos EUA, o índice de indicadores antecedentes do Conference Board de novembro.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais
Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado